O dia em que Pelé conheceu Maradona a pedido do craque argentino

Em janeiro de 1979, Diego Maradona procurou o jornalista Guillermo Blanco com um pedido inusitado. Enquanto fazia uma reportagem sobre a seleção argentina que disputava o Sul-Americano sub-20, no Uruguai, Maradona confidenciou para o repórter da revista argentina El Gráfico que tinha o sonho de conhecer Pelé.

O Rei do futebol já era o jogador consagrado, tricampeão mundial. E tinha se aposentado do futebol pela segunda vez, após deixar o New York Cosmos, dos Estados Unidos. Maradona era tratado como uma joia do futebol argentino que estava despontando e começava a ser comparado com Pelé, o que ele rechaçava. Quando soube, Pelé se mostrou disposto a realizar o encontro.

"Trabalhamos no mais profundo sigilo profissional para poder reuni-los no Brasil. Foram três meses de paciência que não teve limites. Pelé já havia sido capa da revista. Mas foi preciso negociar com o diretor da El Gráfico, até que conseguimos em abril de 79" Guillermo Blanco

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A tarefa não era fácil. No domingo, 8 de abril, Maradona jogava contra o Huracán, em Buenos Aires, pelo Argentinos Juniors. O voo para o Rio de Janeiro estava marcado para às 19h30. O jogo, porém, terminou às 17h45. Assim, a saída foi mandar Don Diego, pai de Maradona, e Jorge Czyterspiller, empresário do argentino, para o aeroporto para adiantar os trâmites.

"Fomos para um quarto no Copacabana Palace e começamos a esperar o Pelé. Éramos eu, Maradona, seu pai, seu empresário e o fotógrafo Ricardo Alfieri, que o brasileiro já conhecia. Quando o Pelé entrou, o que me emociona até hoje foi como ele driblou Diego, e foi dar um abraço em Don Diego, falando 'hola, papá'. A partir daí, todos os protocolos foram quebrados, contaram piadas, compartilharam histórias, um encontro muito lindo" Blanco

Durante a reunião que durou uma hora, Pelé presenteou Maradona com uma bola e uma camisa da seleção brasileira autografadas, uma medalha de sua despedida do Cosmos e um relógio de ouro da marca Rolex.

Entre os conselhos do Rei do futebol para o craque argentino:

• "Nunca preste atenção quando dizem que você é o melhor. No dia em que você se sentir o melhor, você deixará de ser assim para sempre."
• "Aceite os aplausos, mas não viva deles. Os fãs quando você joga três jogos ruins já gritam com você, eles param de te amar."
• "Nos contratos, sempre se faça respeitar. Você tem de lutar pelo que realmente vale. Nunca se entregue. Mas sim, na hora de assinar o contrato, não reclame e nem peça mais. A assinatura é como uma palavra."
• "Com relação à venda para o exterior, você deve decidir depois de analisá-la muito bem. Você tem oito irmãos, seu pai e sua mãe. Na decisão coloque isso na sua balança. As lideranças vêm a cada dois ou três anos, tem que pensar na família, tem muita boca pra alimentar."
• "O corpo é sua ferramenta de trabalho. Cuide dele. Na vida há tempo para tudo, até para ser jogador: sair, beber, fumar um cigarro, deitar-se tarde, comer o que quiser. Mas com equilíbrio, sem prejudicar o seu físico, porque aí está tudo acabado."

Por conta de compromissos oficiais, Pelé teve de se despedir. E desejou que Diego tivesse a mesma sorte que ele teve enquanto jogador, a começar por ficar longe das lesões.

Blanco, que depois foi assessor de imprensa pessoal de Maradona por três anos, até o fim da Copa do Mundo de 1986, quando a Argentina foi bicampeã, credita as rusgas entre os dois gênios do futebol à imprensa.

"Um jornalismo que deixou de respeitar a si mesmo, uma necessidade de vender, tudo que era polêmica, vendia. O esporte deixou de ser esporte, e se tornou um espetáculo a mais, e toda polêmica vendia. Os protagonistas se deixaram levar por isso" Blanco