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Do céu ao inferno ao céu: torcida argentina transforma Mooca em Bombonera

Do UOL, em São Paulo

18/12/2022 15h06

Classificação e Jogos

Vendedores ambulantes abastecidos com bandeiras da Argentina e camisas de diversos tipos se perdiam entre mais de mil torcedores argentinos que se aglomeraram na rua da Mooca, na zona leste de São Paulo, neste domingo (18), dia de final de Copa do Mundo.

Entre os produtos, tinha da camisa clássica azul clara com branco, da azul marinho lisa, azul marinho estampada e versões mescladas. Tinha bandeira, chapéu e bonequinho do Messi. O asfalto, pintado de azul, branco e com o solzinho no meio, esquentava a cada pulo sincronizado da torcida que transformava a rua na Bombonera; que transformou a Mooca em Buenos Aires.

A Argentina venceu a França nos pênaltis e conquistou o tricampeonato mundial. Messi, o ídolo cujo nome saltava da boca dos brasileiros e argentinos que ignoraram a rivalidade neste domingo, jogou sua última Copa do Mundo. E com ela, garantiu ao seu país e à sua torcida, apaixonada, um título que estava há 36 anos por vir.

É na Rua da Mooca que fica o bar argentino Moocaires, que não deu conta da quantidade de torcedores que vieram acompanhar a final. Quatrocentos entraram. O restante se agrupou num posto de gasolina em frente ao bar e acompanhou o jogo por ali. De dentro do Moocaires, o suor que caía do rosto do povo se misturava às lágrimas que eles não conseguiram segurar —primeiro, quando Di Maria marcou o segundo gol da Argentina ainda no primeiro tempo. Por fim, quando a Argentina se consagrou campeã. Era cerveja, choro, suor, calor, camisa no alto, pressão caindo, e a muvuca deliciosa e típica da paixão latino-americana por futebol.

Torcedores da Argentina lotam o bar Moocaires, em São Paulo, para assistir à final da Copa - Rogério Fernandes/UOL - Rogério Fernandes/UOL
Imagem: Rogério Fernandes/UOL

Um torcedor torceu o pé no meio da loucura do jogo e precisou ser retirado do bar pelo corpo de bombeiros. Fora isso, só alegria. Até a torcida ir do céu ao inferno quando Kylian Mbappé sofreu pênalti e diminuiu a diferença. Dois a um Argentina já no fim do segundo tempo. Não demorou muito, o próprio Mbappé fez outro e empatou. A euforia virou tensão. Ninguém mais gritava ou cantava. Quando a prorrogação começou, a torcida até tentou empurrar o time de longe. Mas já não havia ânimo. Só angústia.

"Só comecei a torcer para a Argentina por causa do Messi", diz o brasileiro Pedro. E a frase ecoava na ação dos que acompanhavam. Quando os jogadores de Argentina e França se enfileiraram para entrar em campo, Messi cumprimentou o técnico francês Didier Deschamps e a torcida brargentina foi à loucura. Desde então, a cada aparição messiânica, a reação da torcida era a mesma: ovacionar.

As vaias foram direcionadas a Kylian Mbappé desde antes de a partida começar. O 10 francês, parceiro de Messi de Paris Saint-Germain, foi escolhido pela torcida da Mooca como algoz. Mal sabiam os torcedores o que estaria por vir. Era Mbappé tocar na bola que as vaias tomavam conta do espaço. Pela boa atuação da defesa argentina, a torcida precisou vaiar pouco no primeiro tempo. Mas o craque do PSG mostrou ao que veio, e não teve vaia que o zicasse.

Messi marcou no segundo tempo da prorrogação. Cerveja para cima na cara de todo mundo. O choro pôde vir, com gosto de redenção. "É tipo Corinthians, tem que ser no sofrimento", disse Jorge. Torcedores não evitaram as lágrimas. A Mooca foi abaixo. Mas a alegria foi adiada mais uma vez. Pênalti para a França. Mbappé, ele de novo, converteu.

Mooca vira Buenos Aires com vitória da Argentina

A torcida já não sabia mais o que fazer. O desespero tomou conta. O nome do goleiro argentino virou cântico durante os pênaltis. Virou herói. Argentina campeã e torcida ensandecida.

A transmissão do jogo ficou no bar por conta de Luiz Carlos Júnior e do SporTV. Um torcedor comemorou: "Que bom que não é o Galvão. Ele sempre torce contra a Argentina". Caixas de som foram colocadas na calçada, e músicas da torcida argentina tomaram conta da rua. Teve churrasquinho, fogos e até guarda-sol. Teve o grito entalado na garganta por quase quatro décadas. Na euforia na Mooca, nem parecia que era São Paulo. Nem parecia que, em campo, não era o Brasil.