Topo

A última dança: Messi e Ronaldo nunca chegaram tão distantes em uma Copa

Cristiano Ronaldo e Lionel Messi são as principais estrelas de Portugal e Argentina, respectivamente - Anadolu Agency/Getty Images
Cristiano Ronaldo e Lionel Messi são as principais estrelas de Portugal e Argentina, respectivamente
Imagem: Anadolu Agency/Getty Images
e Bruno Andrade

Colunista do UOL, em Lisboa (Portugal)

14/11/2022 04h00

Classificação e Jogos

Luz, câmera, ação. Foco total em Cristiano Ronaldo. Um ar totalmente sem graça. Silêncio entre os convidados. Assim foi criado um desconfortável clima na última semana de setembro deste ano, durante um evento festivo na sede da Federação Portuguesa de Futebol (FPF).

Tudo aconteceu quando Ricardinho, o maior jogador português da história do futsal, subiu ao palco para discursar. Entre agradecimentos e elogios, o Mágico, como é conhecido na modalidade, acabou por soltar naturalmente uma frase que prontamente foi interpretada como uma indireta para Ronaldo.

"Tomei a decisão de dar um passo ao lado, para que os mais jovens dessem um passo à frente. Tenho, hoje, ainda mais a certeza de que foi um passo certo", destacou o recém-aposentado futesalista, eleito o melhor do mundo em seis ocasiões.

Os responsáveis pela transmissão especial da "Quinas de Ouro" filmaram de imediato a reação de CR7, que estava sentado na primeira fileira da plateia. Um prato cheio para os críticos do craque, que, aos 37 anos, continua sem "largar o osso" e vai defender Portugal pela quinta vez em uma Copa do Mundo (2006, 2010, 2014, 2018 e, agora, 2022).

No dia seguinte, Ricardinho veio a público e explicou o mal-entendido. De pouco ou nada adiantou. O estrago já estava feito, especialmente nas redes sociais e entre alguns jornalistas e comentaristas. Tudo isso porque a maior referência da seleção portuguesa vive a fase mais contestada — e conturbada — da vitoriosa carreira.

Substitutos de Ronaldo também vivem fase ruim

Cristiano Ronaldo reclama durante jogo de Portugal nas Eliminatórias da Copa - REUTERS - REUTERS
Cristiano Ronaldo reclama durante jogo de Portugal nas Eliminatórias da Copa
Imagem: REUTERS

Campeão europeu em 2016 e capitão da equipe comandada por Fernando Santos desde 2014, Cristiano Ronaldo tem uma espécie de "cadeira cativa" no time titular. Raramente é substituído, nem mesmo nos minutos finais dos jogos. Passou em branco nas últimas quatro partidas, todas pela Liga das Nações.

"No contexto atual, Ronaldo é imprescindível na seleção. Está vivendo um dos piores momentos da carreira, mas os restantes atacantes disponíveis também estão atravessando uma crise de confiança. Só não teria o lugar assegurado caso o treinador tivesse testado (seriamente) uma alternativa que permitisse a outros talentos terem a confiança necessária para se soltarem da sombra do capitão. Esta devia ser a 'Última Dança' de Ronaldo, mas não vejo coragem para interromper o ciclo sem a vontade dele, pois, em Portugal, a gratidão (justíssima, diga-se) é sempre recompensada com a perpetuação nos cargos e traz com ela a intolerância à crítica", explicou Duarte Tornesi, jornalista português do jornal O Jogo.

O maior problema neste momento está nos acontecimentos recentes no Manchester United. O camisa 7 não participou na pré-temporada, tentou ser negociado até o último dia do mercado de verão europeu, foi rejeitado publicamente por vários clubes, entre eles o Bayern de Munique, e, depois, colecionou problemas com o novo treinador, o holandês Erik ten Hag. Chegou, inclusive, a ser afastado do grupo, depois de se recusar a entrar em campo, diante do Tottenham, no fim de outubro.

Cristiano Ronaldo após a vitória de Portugal contra a Irlanda, pelas Eliminatórias Europeias para a Copa de 2022 - NurPhoto via Getty Images - NurPhoto via Getty Images
Cristiano Ronaldo após a vitória de Portugal contra a Irlanda, pelas Eliminatórias
Imagem: NurPhoto via Getty Images

"Ronaldo sempre dá resposta"

Com a iminente saída em janeiro de 2023, especialmente depois da bombástica entrevista em que revela que foi "traído" pelos Red Devils, o ídolo português transita hoje entre o banco e a titularidade no time inglês. Vai chegar ao Qatar com apenas 16 jogos oficiais, três gols e duas assistências — não foi relacionado para os dois últimos duelos, contra Aston Villa e Fulham, porque estava doente.

"Independentemente das críticas, o Ronaldo sempre dá uma resposta. É muito forte nisso. O componente emocional é das grandes virtudes dele. Não precisa mostrar mais nada a ninguém, mas vai mostrar. Vai estar no seu melhor, e isso vai catapultar a equipe. Pode fazer a diferença a qualquer momento, com gols, assistências, abrindo espaços. Os adversários sempre vão olhar para ele de forma diferente. Já ultrapassou vários obstáculos e esse vai ser mais um", defendeu o ex-volante português Maniche, companheiro de CR7 na Copa do Mundo de 2006.

Messi, enfim, chega sem questionamentos

Messi é jogado ao alto pelos colegas de Argentina ao conquistar, enfim, seu 1° título pela seleção ao ser campeão da Copa América - Thiago Ribeiro/Thiago Ribeiro/AGIF - Thiago Ribeiro/Thiago Ribeiro/AGIF
Messi é jogado ao alto pelos colegas de Argentina ao conquistar, enfim, seu 1° título pela seleção ao ser campeão da Copa América
Imagem: Thiago Ribeiro/Thiago Ribeiro/AGIF

Lionel Messi vive basicamente o cenário oposto. Está moralizado na Argentina por ter vencido pela primeira vez a Copa América, em 2021, diante do arquirrival Brasil, em pleno Maracanã. Aos 35 anos, nunca deixou o posto de indiscutível no atual elenco dirigido por Lionel Scaloni, seja dentro ou fora de campo.

O craque argentino balançou a rede nas últimas quatro partidas da seleção — ao todo, foram nove gols. Foi fundamental ainda na conquista da Finalíssima 2022, em junho, na vitória por 3 a 0 em cima da Itália, em Londres, com duas assistências, e consequentemente na manutenção de uma invencibilidade histórica de 35 confrontos (a última derrota aconteceu no dia 2 de julho de 2019, frente ao Brasil, na Copa América, por 2 a 0).

Apesar de atualmente sofrer com alguns problemas físicos, entre eles uma inflamação no tendão de Aquiles, Messi também continua a ser preponderante para o PSG na temporada, ao lado de Neymar e Mbappé, e há quem diga que vai retornar ao Barcelona no segundo semestre de 2023. Até agora, tem 18 partidas, 12 gols e 14 assistências. Ganhou recentemente o prêmio de gol mais bonito da fase de grupos da Liga dos Campeões (contra o Benfica, no empate em 1 a 1, no começo de outubro, em Portugal).

"Tem jogado de forma mais inteligente ainda"

Messi e Neymar comemoram gol do PSG na Liga dos Campeões - Gonzalo Fuentes/Reuters - Gonzalo Fuentes/Reuters
Messi e Neymar comemoram gol do PSG na Liga dos Campeões
Imagem: Gonzalo Fuentes/Reuters

"Messi vive o seu melhor momento em muito tempo. Não apenas por estatísticas, também pelo nível técnico e tático. Está se cuidando e regulando algumas partidas no PSG. Tem jogado de forma mais inteligente ainda, tentando se precaver ao máximo, por questões físicas. O Messi de hoje já não depende mais da explosão, mas temos hoje um Messi mais cerebral", explicou Germán García, jornalista argentino do canal TyC Sports.

Em entrevista recente à Star+, o ídolo argentino avisou que vai jogar no Qatar a sua última Copa do Mundo. A oportunidade derradeira de ser campeão e fazer esquecer o frustrante vice-campeonato de 2014, no Brasil, diante da Alemanha.

Nos bastidores da Associação de Futebol Argentino (AFA), todos destacam frequentemente dois pontos fulcrais em Lionel Messi antes de a bola rolar no Qatar: os pés no chão e, principalmente, a liderança. Dizem nunca ter visto o jogador com tamanho foco em vencer e ser um exemplo para os companheiros. O próprio, inclusive, falou sobre isso, em entrevista ao jornal argentino Olé.

Temos uma ilusão muito grande, e estamos conscientes de que estamos passando um bom momento, mas também que a Copa é muito difícil e que um detalhe pode te colocar fora de um jogo, que nem sempre prevalece o que é lógico".

"Sabemos que temos de jogar da mesma maneira do primeiro ao último jogo e que não ganhamos nada de entrada, como pensam os argentinos. Seria um erro pensar na próxima fase e não no primeiro jogo (contra a Arábia Saudita, no dia 22)", finalizou.

A última dança de Messi e CR7

Nas próximas semanas, o mundo vai assistir à última Copa do Mundo de dois dos maiores jogadores da história. Para acompanhar esse acontecimento único, o UOL criou a série "A última dança de Messi e Cristiano Ronaldo", em que o colunista Bruno Andrade, do Mercado da Bola, vai contar os bastidores do mundial dos dois atletas —a cobertura completa sobre eles feita pela equipe do UOL também estará disponível no endereço.