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Herdeiros do Gaúcho da Copa buscam patrocínio para levar legado ao Qatar

Frank e Gustavo, filhos do Gaúcho da Copa, durante Copa do Mundo da Rússia - Arquivo Pessoal
Frank e Gustavo, filhos do Gaúcho da Copa, durante Copa do Mundo da Rússia Imagem: Arquivo Pessoal

Marinho Saldanha

Do UOL, em Porto Alegre

11/11/2022 04h00

Classificação e Jogos

São 49 minutos do segundo tempo e o Brasil empata a final da Copa do Mundo. Eis que no lance derradeiro, no ataque final, o gol do hexa sai, sobre a França, na final. Esse é o sentimento de dois amuletos da seleção brasileira que herdaram do pai o amor pela amarelinha. Frank e Gustavo Damasceno, filhos de Clóvis Acosta Fernandes, que ficou conhecido como "Gaúcho da Copa", buscam parceria para marcarem presença no Qatar, mantendo vivo o legado do 12º jogador da seleção eleito pela Fifa.

O objetivo deles não é somente acompanhar o Brasil em jogos e treinos como fazem desde a Copa do Mundo de 1990 (primeira do pai). Mas também produzir conteúdos no YouTube mostrando o dia a dia de um torcedor da seleção passando pelos perrengues naturais de viajar para ver a Copa sem tanta verba assim.

"Ainda não conseguimos o necessário para estar lá, mas estamos em busca. Nosso objetivo é produzir conteúdo sob a ótica do torcedor, indo com pouca grana, ficando onde dá, dormindo em sofá, de pé do lado de geladeira", disse Frank ao UOL Esporte.

Mas não é fácil ir até a Copa. Frank, de 44 anos, esteve em todas desde 1994, o irmão, Gustavo, de 37 anos, começou em 1998 e esteve ininterruptamente em todas as edições do torneio desde 2010.

"Seria necessária uma quantia de mais ou menos R$ 200 mil. Nosso projeto está bem estruturado. Pela primeira vez estamos com uma entrega de conteúdo bem profissional", disse Frank.

Mas a corrida é contra o tempo. Há quatro anos, na Copa do Mundo da Rússia, eles finalizaram os detalhes da ida 12 dias antes do início do campeonato. Mas este prazo já venceu.

"Está em cima do laço. Mas nunca estivemos tão bem planejados em produção de conteúdo. A entrega e contrapartidas, para retribuir a empresa que comprar a ideia, está ótima", acrescentou Gustavo.

"Quem vier conosco não irá se arrepender. É aquela velha frase do Romildo Bolzan [presidente do Grêmio]: "os valores assustam". Sim, assustam mesmo. Não é fácil ir ao Qatar. É a Copa mais cara da história. Passagens, câmbio ruim, viemos de uma pandemia que afetou todo mundo, pessoas, empresas, o Brasil está numa retomada, mas ainda sob grande incerteza. Além das questões culturais que também amedrontaram muita gente, mas estamos firmes e fortes, resilientes, sabemos que nossa luz sempre brilha em algum momento", completou.

A dupla conta com auxílio da CBF para ir aos jogos e mantém amizades na seleção. "Tietamos com elegância", brincou Frank.

Mas para acompanhar o Brasil de perto e produzir o conteúdo que pretendem, precisam estar lá. Esta é a barreira que carece de um parceiro para ser superada.

Herança de amor pela seleção

Seja com o "Brazuca Móvel" (carro que acompanhou viagens da seleção) ou sem ele, foram muitos feitos. Contando todas as presenças são oito Copas do Mundo, nove Copas América, cinco Copas das Confederações, quatro Jogos Olímpicos, mais de 160 jogos da seleção, mais de 250 mil quilômetros percorridos atrás da camisa verde e amarela.

Tudo isso nasceu com Clóvis Acosta Fernandes. O Gaúcho da Copa se notabilizou como torcedor símbolo da seleção. Recebeu, inclusive, homenagens da CBF com camisa e placa. Ele chegou a receber cartas da família real inglesa sublinhando sua relação com o esporte e o amor pelo Brasil. Aos 60 anos, ele morreu em 2015 vítima de um câncer.

"Eu me lembro do pai na primeira Copa, dele chegando precocemente em casa depois da eliminação para Argentina. Nós víamos os jogos pela televisão. Ele me disse: "faz inglês que na próxima tu serás meu intérprete". Eu lembro de no outro dia me matricular", lembrou Frank.

"É uma responsabilidade gigantesca. Quando se tem um evento do tamanho de uma Copa do Mundo, como aconteceu na Rússia, onde pessoas de todos os continentes vieram nos dar parabéns por mantermos o legado da família, falaram que o pai é uma lenda, ali tivemos noção da responsabilidade que carregamos", completou Gustavo.

Gaúcho da Copa (centro) com os filhos Frank (esquerda) e Gustavo (direita) - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Imagem: Arquivo Pessoal

O Gaúcho da Copa era presença frequente em transmissões de televisão de uma época em que ainda não existiam memes. Vez por outra, ainda hoje em dia, vídeos dele xingando árbitros e fotos de seu amor pela seleção aparecem pelas redes sociais.

O legado não está presente apenas na herança genética ou no sentimento, mas na indumentária. Frank e Gustavo se orgulham do chapéu, do bigode, do 'estilo Gaúcho da Copa', eternizado em diversas imagens que correm o mundo a cada jogo do Brasil.

"Durante muito tempo deixamos o chapéu [que era usado pelo pai] em cima da taça da Copa. Tirei só porque entortava. Faz uns dias eu coloquei junto a uma bandeira do Brasil pedindo força, luz, bênção, para que possamos continuar levando o legado da maior marca de torcedor que existe no planeta", revelou Gustavo.

Frank (esquerda) e Gustavo (direita), filhos do Gaúcho da Copa, mantém legado do pai - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Imagem: Arquivo Pessoal

Documentário da Fifa e homenagem da CBF

Frank e Gustavo participaram recentemente de um documentário da Fifa que elencou o pai deles como 12º jogador da seleção brasileira. Em 2019, a dupla foi homenageada em memória ao Gaúcho da Copa, citado pela CBF como principal símbolo da torcida pela seleção.

"Isso tudo traz um engajamento que vamos passar para quem representarmos. É o legado do 12º jogador da seleção, dito pela Fifa. Na Rússia, viralizamos, tivemos muito carinho, as pessoas têm muito carinho pelo nosso pai, e queremos levar isso adiante. O chapéu, o bigode, a taça, sempre foram referências do Brasil pelo mundo. A CBF nos homenageou citando o pai como maior torcedor do Brasil de todos os tempos", afirmou Gustavo

"O hexa vem"

Tanto amor não pode ficar longe de uma Copa do Mundo. Por isso é tão importante para eles conseguirem as parcerias para manter vivo o legado do pai. Ainda mais porque, para ambos, o título está a caminho.

"O hexa nunca esteve tão perto. O Brasil está muito amadurecido, apanhou demais da imprensa, de todo mundo, o Neymar chega num momento que se tinha algo para o fazer amadurecer, para ele ser protagonista, aconteceu. Foi para um clube menor para ser protagonista, não conseguiu por causa de falsos parceiros, foi diminuído pela mídia mundial. É olhar para história dele e ver que é disso que ele tira força para ser o cara que ele é", argumentou Gustavo.

"Eu estou super otimista, não tenho dúvida que o hexa vem", sacramentou Frank.

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