Topo

Vini Jr. já conquistou Tite? Por que atacante será reserva contra Tunísia

Vini Jr no treino da seleção brasileira na França - Lucas Figueiredo/CBF
Vini Jr no treino da seleção brasileira na França Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

Thiago Arantes

Especial para o UOL, em Paris (FRA)

27/09/2022 04h00

Classificação e Jogos

Ídolo no Real Madrid, autor do gol do título da Champions League e brasileiro mais badalado da temporada passada. Há muitas formas de descrever a fase de Vini Jr. Sendo assim, o que explica ele ser reserva da seleção no último amistoso de preparação antes da Copa do Mundo?

Nos últimos dias, durante o período na França para os duelos contra Gana e Tunísia, duas palavras de Tite ajudam a entender a situação. Uma delas é "equilíbrio". Outra é "articulação". Foi em busca desses elementos que o treinador optou por Fred para começar jogando contra os tunisianos, no último teste antes da estreia na Copa do Mundo, contra a Sérvia, em 24 de novembro. Hoje, a bola rola às 15h30 (de Brasília), no estádio Parc des Princes, em Paris.

"[O time] ganha articulação maior do meio-campo. Em vez de três agudos, tem dois. E tem dois articuladores, Paquetá e Neymar, com um segundo meio-campista que transita dentro do campo do adversário e um lateral de origem mais passador do que o Militão", explicou.

Ou seja, o desenho com Vini Jr entrega uma seleção mais intensa pelas pontas, com jogo mais direto. Na vitória por 3 a 0 contra Gana, Tite escalou a seleção com apenas Casemiro como volante. Paquetá e Neymar foram os meias, Vini Jr. e Raphinha estavam nas pontas e Richarlison, no ataque. O time estava em rotação altíssima no primeiro tempo. O esquema foi aprovado e será uma das duas variações a serem usadas na Copa.

Tempo até engrenar

Por mais que tenha virado protagonista no Real Madrid, Vinicius ainda está em um processo de consolidação na seleção brasileira. O histórico é recente, conta com apenas um gol em 15 jogos ao todo — ele tem 22 anos.

Diferentemente de Raphinha, que logo abraçou a vaga na ponta direita de seleção, Vini Jr demorou um tempo até convencer Tite de que deveria ser escalado com mais frequência. Ele foi chamado pela primeira vez em setembro de 2019, mas teve um hiato de um ano e meio até receber nova oportunidade em campo. E com doses homeopáticas. Na Copa América 2021, Vinicius foi quase a passeio. Nenhum jogo como titular: entrou quatro vezes, sendo duas faltando cerca de cinco minutos para o fim da partida.

De início, a comissão técnica de Tite não via em Vinicius um jogador pronto. Havia incerteza sobre a eficácia na recomposição defensiva e reticência sobre a capacidade de finalização do jogador. Nos bastidores, o estafe do jogador também via com desconfiança a relação com Tite, pela forma que Vini era escalado em alguns jogos. Um episódio emblemático foi contra o Chile, em Santiago, quando ele recebeu a tarefa de marcar as subidas de Isla, não rendeu ofensivamente e foi sacado no intervalo.

A partida de consolidação foi contra a Argentina, em San Juan. Um contexto adverso, fora de casa, em um estádio acanhado e com uma seleção brasileira sem Neymar. Vini mostrou personalidade. O Brasil empatou sem gols, mas ele deu uma lambreta/carretilha em Molina.

Isso tudo fez com que Tite fosse construindo um time sem que Vini tivesse cadeira cativa. Quando o jogador deslanchou de vez no Real Madrid e trouxe essa confiança para a seleção, vieram as variações já testadas a partir da reta final das Eliminatórias.

Vini Jr durante Brasil 3 x 0 Gana - Lucas Figueiredo/CBF - Lucas Figueiredo/CBF
Vini Jr durante Brasil 3 x 0 Gana
Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

Diante da Tunísia, Tite recorre a uma formação que deu certo antes do "estouro" de Vini Jr na seleção. E ela tem Fred — a quem o técnico chamou de "jogador híbrido" pela versatilidade — como dupla com Casemiro no meio. Mas também pode jogar como um articulador, um pouco mais adiantado. Nesse sistema, Paquetá migra para o lado esquerdo, com Raphinha na direita. Neymar e Richarlison serão os atacantes pelo meio — o camisa 10 vem buscar o jogo e tem liberdade para armar.

De acordo com o técnico, o ajuste tático em que um ponta é trocado por um volante também pode ser feito pelo outro lado, com o ponta-direita (Raphinha, no caso) deixando a equipe. No entanto, Tite ainda não usou esta variação, porque o lado direito já tem um lateral que apoia menos (Danilo, no caso), e ficaria "torto" sem um ponta.

Mas desde que Vini deslanchou, o atacante do Real Madrid somou 458 minutos em ação pelas seleção, o que representa 67% do período em que o time de Tite esteve em campo.

Ou seja, o técnico não ignorou o sucesso no futebol europeu. Vini não foi substituído ao longo desses jogos, marcou um gol diante do Chile, no Maracanã, mas perdeu o duelo contra a Bolívia por suspensão. Ele ainda entrou no segundo tempo diante da Coreia do Sul porque se apresentou mais tarde que os demais, em decorrência da final da Champions League.

Tendo em Vini um dos símbolos da geração de "perninhas rápidas" dessa seleção reformulada, Tite até bradou em um dos treinos, no começo do ano, antes da partida contra o Paraguai:

Vai pra cima! Carretilha, caneta, f...-se!"

Nos últimos dias, assim que desenhou pela primeira vez na França a equipe que enfrentará a Tunísia hoje, Tite avisou para o time que o desenho seria o mesmo do duelo frente aos coreanos.

Quem é titular?

A reserva no amistoso desta sexta-feira não significa que Vini Jr. está fora do time da estreia na Copa. Tampouco é garantia, já que o Brasil não tem um time cravado, do 1 a 11, para jogar a Copa inteira. Estratégia de Tite, que tem pelo menos três formações mais usadas:

  • Alisson, Danilo, Marquinhos, Thiago e Alex Sandro; Casemiro, Fred, Raphinha e Vini Jr; Paquetá e Neymar
  • Alisson, Danilo, Marquinhos, Thiago e Alex Sandro; Casemiro; Paquetá e Neymar; Raphinha, Vini Jr e Richarlison
  • Alisson, Danilo, Marquinhos, Thiago e Alex Sandro; Casemiro, Fred, Paquetá, Neymar e Raphinha; Richarlison

Embora o técnico tenha deixado que já sabe quais serão os dois modelos de jogo usados, ele diz que os nomes ainda não estão definidos e observará de perto os atletas em seus clubes nesta reta final de preparação para o Mundial.

Neste ponto, Vini Jr. leva vantagem sobre Fred. O ponta do Real Madrid é titular absoluto da equipe e começou a temporada num nível parecido com o atingido no curso passado, quando se consolidou de vez na Europa. Em 2021/22, ele fez 22 gols e deu 16 assistências; na atual temporada, já tem cinco gols e três assistências em nove partidas pelo Real.