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Paulista - 2022

Quem estava certo? As rixas mal resolvidas de Palmeiras e SPFC na história

29.abr.2014 - Carlos Miguel Aidar, presidente do São Paulo, leva vários cachos de banana para a coletiva de imprensa como apoio a Daniel Alves após caso de racismo - Guilherme Palenzuela/UOL
29.abr.2014 - Carlos Miguel Aidar, presidente do São Paulo, leva vários cachos de banana para a coletiva de imprensa como apoio a Daniel Alves após caso de racismo Imagem: Guilherme Palenzuela/UOL

Do UOL, em São Paulo

30/03/2022 04h00

Palmeiras e São Paulo iniciam hoje (30) a disputa pelo título do Paulistão. Fora de campo, eles travaram nos últimos dias outra batalha. A diretoria alviverde queria o segundo jogo da decisão no sábado, para não correr o risco de não poder utilizar o Allianz Parque, mas a cúpula são-paulina bateu o pé exigindo que o duelo acontecesse no domingo (3).

A discussão contou com declarações públicas de ambos os lados e um trabalho de bastidor para que seus respectivos desejos fossem atendidos. No final, o Palmeiras conseguiu a liberação para utilizar o Allianz Parque no domingo antes de ceder o estádio para o show da banda Maroon 5.

O desentendimento público entra para a galeria histórica das confusões protagonizadas pelos rivais. Duas das maiores equipes paulistanas, Palmeiras e São Paulo têm um longo retrospecto de acusações e transações polêmicas. O UOL Esporte reuniu algumas delas:

A Arrancada Heroica e o abandono de campo

Palmeiras entra em campo com a bandeira do Brasil, em 20 de setembro de 1942, na Arrancada Heroica - Divulgação/SE Palmeiras - Divulgação/SE Palmeiras
Imagem: Divulgação/SE Palmeiras

Em 1942, por conta da Segunda Guerra Mundial, o presidente Getúlio Vargas decretou que entidades e associações com nomes alusivos à Itália e à Alemanha deveriam ser rebatizadas, sob risco de perderem suas posses. Paulo Machado de Carvalho, então presidente do São Paulo, é tido pelos historiadores alviverdes como principal entusiasta da ideia de tomar o patrimônio dos italianos. Ele estava de olho no Parque Antárctica, um dos estádios mais modernos do Brasil na época.

O Palestra passou então a se chamar Sociedade Esportiva Palmeiras. E o primeiro jogo do novo nome calhou de ser justamente a partida que decidiria o Campeonato Paulista daquele ano, contra o São Paulo. Um empate daria o título ao agora Palmeiras. Temendo a vaia de um Pacaembu lotado, o Palmeiras entrou em campo com uma bandeira do Brasil. As vaias se tornaram aplausos, e o Palmeiras arrancou heroicamente dali para uma história campeã com o novo nome.

O título veio com uma vitória por 3 a 1, que poderia ser 4, não tivesse o São Paulo abandonado o campo quando o juiz deu pênalti de Virgílio, expulso, em Og Moreira. Nasceu ali a frase "O Palestra morreu líder, e o Palmeiras nasceu campeão", uma das mais emblemáticas da mitologia alviverde.

Ilsinho e o barco afundando

Ilsinho sorri durante treinamento do São Paulo - Jorge Araujo/Folhapress - Jorge Araujo/Folhapress
Imagem: Jorge Araujo/Folhapress

A contratação de Ilsinho pelo São Paulo em 2006 estremeceu a relação com o Palmeiras. O time tricolor assinou um pré-contrato com o jogador a cinco meses do fim de seu contrato com o clube em que o revelou para o futebol. O jogador se sentia sem oportunidades no alviverde e optou por não renovar seu vínculo e "pular o muro" dos CTs da Barra Funda.

A transação já havia gerado polêmica, mas uma declaração de Ilsinho pouco tempo depois esquentou tudo. O jogador disse ter "saído de uma fria" no Palmeiras e comemorou ter deixado o clube "no momento em que o barco estava afundando".

Ilsinho pediu desculpas anos depois, em entrevista ao "Bola da Vez", da ESPN. "Não tenho nada contra a entidade, nem os torcedores. Hoje, mais experiente, a gente para para pensar. Meu problema, na época, era com a galera da base, que tomava conta. Eu fiquei oito anos no Palmeiras, fiz a base inteira lá. A gente via que não ia ter oportunidade. No meu último ano de júnior, eles contrataram Amaral, Paulo Baier e André Rocha".

Antes de pular o muro, Ilsinho fez cinco jogos pelo time profissional do Palmeiras, todos quando seu futuro já estava definido. O lateral direito foi bicampeão brasileiro com o São Paulo antes de ser negociado com o Shakhtar Donetsk, da Ucrânia, em 2007. Ele ainda voltaria para uma segunda passagem, por empréstimo, em 2010.

O gás de pimenta e a dancinha de Valdivia

Goleiro Rogério Ceni e Valdívia discutem durante o clássico entre São Paulo e Palmeiras - Léo Barrilari/Frame - Léo Barrilari/Frame
Imagem: Léo Barrilari/Frame

No que talvez tenha sido o Choque-Rei mais memorável dos anos 2000 para os palmeirenses, não faltaram elementos dignos de um roteiro de cinema.

O Palestra Itália estava lotado para o jogo da volta da semifinal do Paulista de 2008. Na ida, o São Paulo vencera por 2 a 1 graças a um gol anotado com a mão pelo centroavante Adriano. Os palmeirenses tinham desejo de vingança, e abriram o placar ainda no 1º tempo, com o então goleiro Rogério Ceni aceitando chute do meia da rua de Léo Lima.

No intervalo, surpresa desagradável para os tricolores: um cheiro forte como o de gás pimenta tomou conta do vestiário, impedindo os jogadores de entrarem no local. A preleção precisou vir para o campo, e o técnico Muricy ainda passou mal no banco de reservas.

O jogo seguiu e o clima esquentou mais ainda. Aos 39, Wendel arrancou do campo de defesa e rolou para Valdivia bater com gol vazio e fazer uma dancinha provocativa em frente a Rogério Ceni. Dois minutos depois, um transformador explodiu e o estádio ficou sem luz, enlouquecendo a torcida: a vaga era do Palmeiras.

Cafu no Palmeiras com uma ponte em Caxias

Cafu em ação pelo Palmeiras - Antonio Gaudério/Folha Imagem - Antonio Gaudério/Folha Imagem
Imagem: Antonio Gaudério/Folha Imagem

Em janeiro de 1995, o São Paulo negociou Cafu com o Zaragoza da Espanha. Mas, com receio de o jogador e clube acabarem seduzidos pelos dólares da riquíssima Parmalat, patrocinadora do Verdão, o clube do Morumbi incluiu uma cláusula: se fosse repatriado pelo Palmeiras antes de 1996, uma multa igual ao valor da venda -US$ 3,6 milhões- recairia sobre o Zaragoza.

Veio, então, a artimanha: em vez de adquiri-lo para o Palmeiras, a multinacional trouxe Cafu para o Juventude, time de Caxias do Sul, também patrocinado pela empresa de laticínios. A cláusula dizia claramente que ele não poderia vir para o Palmeiras. O lateral jogou duas partidas pelo time do Rio Grande do Sul, em maio, e desembarcou na Academia de Futebol em julho de 1995.

Na Justiça, o São Paulo conquistaria o direito a 1 milhão de dólares de ressarcimento. Mas o Palmeiras ficou com Cafu.

Kardec, Aidar e as bananas

29.abr.2014 - Carlos Miguel Aidar, presidente do São Paulo, leva vários cachos de banana para a coletiva de imprensa como apoio a Daniel Alves após caso de racismo - Guilherme Palenzuela/UOL - Guilherme Palenzuela/UOL
Imagem: Guilherme Palenzuela/UOL

A contratação de Alan Kardec pelo São Paulo em abril de 2014 irritou os palmeirenses. A diretoria comandada por Paulo Nobre não gostou da maneira como o caso foi conduzido. O jogador tinha conversas avançadas para ser vendido pelo Benfica e ficar definitivamente no Palmeiras. A diretoria, no entanto, ofereceu R$ 20 mil a menos de salário do que havia sido previamente combinado e irritou o jogador e seu estafe.

Não demorou muito e o São Paulo entrou na jogada. Carlos Miguel Aidar, então presidente do clube, deu entrevistas dizendo que estava tudo acertado para Kardec ser jogador do time tricolor. Foram 4,5 milhões de euros (R$ 14 milhões) pagos pelo time do Morumbi para ficar com o jogador do Benfica. Na época, o atacante já estava afastado no Palmeiras, que acertou a rescisão do contrato um mês antes do previsto.

A irritação palmeirense aumentou depois de uma entrevista coletiva concedida por Aidar. Um dia antes, Paulo Nobre chamou o São Paulo de "extremamente antiético". Em resposta, o mandatário tricolor atacou o rival alviverde enquanto comia bananas, que havia levado ao local alegando ser um apoio a Daniel Alves, vítima de racismo na Espanha.

"(A entrevista de Paulo Nobre) Demonstra o atual tamanho da Sociedade Esportiva Palmeiras, que ano a ano se apequena com demonstrações dessa natureza", disse Aidar.

O episódio das bananas repercute até hoje. Quando o São Paulo perdeu por 5 a 1 para o Internacional, no Brasileirão de 2020, Paulo Nobre usou as redes sociais para provocar. O ex-presidente palmeirense utilizou o emoji de uma banana para dar "boa noite".