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Após cinco anos, projeto original Neymar-PSG fracassa e não atinge metas

Neymar saúda a torcida do PSG em sua apresentação, em 2017 - REUTERS/Christian Hartmann
Neymar saúda a torcida do PSG em sua apresentação, em 2017 Imagem: REUTERS/Christian Hartmann

Pedro Lopes

Do UOL, em São Paulo

10/03/2022 04h00

Classificação e Jogos

Quando fecharam em 2017, por 222 milhões de euros, a maior transação da história do futebol, Neymar e Paris Saint-Germain tinham um projeto de cinco anos, até 2022. Dentre os objetivos estavam a conquista da Champions League e abertura de uma avenida para que o atleta se firmasse como protagonista e concorrente de Cristiano Ronaldo e Lionel Messi pelo topo do mundo. A eliminação de ontem (9) diante do Real Madrid na edição 21/22 da competição europeia marca o fracasso do projeto original Neymar-PSG.

O planejamento traçado em 2017 tinha seu ápice projetado para 2022, tanto do lado do clube francês como do lado atacante brasileiro. O PSG queria amarrar Neymar nos melhores anos de sua carreira, conquistar uma Champions League e dar ao brasileiro o espaço para ser protagonista de um grande time europeu. Neste processo, esperava ascensão do jogador como concorrente perene a melhor do mundo e sua chegada à Copa do Qatar como maior estrela do planeta e rosto da competição — o dono do clube parisiense é Tamim bin Hamad Al Thani, Emir do Qatar, profundamente envolvido no posicionamento do país como sede do Mundial.

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Do lado do estafe de Neymar, o plano original, relatado ao UOL Esporte em mais de uma ocasião, entre 2013 e 2018, era o de chegar a 2022, com 30 anos, como um jogador livre, estrela do futebol mundial, e escolher seu último grande contrato. Isso passava pela expectativa de cinco anos dourados em Paris, com brilho na Champions e a consolidação do brasileiro como protagonista no clube e na seleção, culminando com uma grande Copa do Mundo. Essa rota foi alterada no ano passado, quando Neymar e PSG acertaram renovação contratual até 2025.

Vestindo a camisa 10 do clube francês, o astro brasileiro teve seus grandes momentos, conquistou títulos domésticos, mas o projeto original traçado em 2017 e visando 2022 fracassou em todas as frentes. O principal objetivo esportivo não veio; ao invés de assumir posição como sucessor natural de Messi e Cristiano Ronaldo, Neymar tem se afastado cada vez mais da discussão de melhor jogador do mundo. Hoje, divide protagonismo no PSG com Mbappé e com o próprio argentino; cada vez mais, tem suas temporadas encurtadas por lesões, e não atinge o número de jogos dos primeiros oito anos da carreira.

Lesões e irregularidade na busca pelo objetivo máximo coletivo

Ao desembolsar 222 milhões de euros para tirar Neymar do Barcelona em 2017, o PSG nunca escondeu que o objetivo máximo era a conquista de uma Liga dos Campeões. O brasileiro bateu na trave na edição 19-20 e ao ser vice-campeão, perdendo para o Bayern de Munique na final. Além disso, chegou a uma semifinal e foi eliminado três vezes nas oitavas de final.

O desempenho de Neymar na maior competição europeia de clubes ao longo dos anos foi marcado por lesões. Em diversas ocasiões, perdeu jogos importantes ou precisou atuar neles logo depois de se recuperar. Em cinco temporadas com a camisa do PSG, atuou 35 vezes na Champions, cinco jogos a menos dos 40 que disputou em apenas três temporadas e meia no Barcelona, pelo qual foi campeão em 2015.

Declínio, jogos perdidos e divisão de protagonismo

Além dos muitos milhões de euros, uma das armas do PSG para seduzir Neymar foi a promessa de um ambiente no qual ele poderia sair da sombra de Messi e se tornar protagonista de uma das potências do futebol mundial. O entorno do brasileiro também sempre teve a expectativa de que, eventualmente, ele iria se tornar o melhor jogador do mundo. Não aconteceu.

O último ano no qual Neymar apareceu no top 3 de jogadores do planeta foi justamente em 2017, quando trocou o Barcelona pelo PSG. Desde então, sua melhor colocação foi o nono lugar em 2020. Em duas ocasiões ficou fora do top 10. Dentro do próprio PSG, divide desde 2018 o protagonismo com Mbappé, prodígio francês.

Por trás do distanciamento de Neymar do objetivo traçado em 2017 estão as lesões e uma aparente redução na sua capacidade atlética de suportar as temporadas na França. Desde que chegou a Paris, o brasileiro teve duas lesões graves no tornozelo, duas fraturas do quinto metatarso e vários problemas musculares. Fora de campo, tem seu estilo de vida, com presença constante em festas e viagens ao Brasil, questionado pela imprensa do país.

Com a camisa do PSG, seu número máximo de jogos em uma temporada foi 31 partidas. Em duas ocasiões, não chegou à marca de 30 jogos. Entre 2009 e 2017, jogando por Santos e Barcelona, Neymar sempre atuou em mais de 40 partidas por temporada. Em 2010, chegou a 60. Em 2014/2015, foram 51.

Pressionado pelas lesões e pelas críticas pelo comportamento extracampo, Neymar abriu mão da ideia de ser a estrela máxima de sua equipe e tentou voltar ao Barcelona em 2019, para retomar a parceria com Messi e Suárez. O movimento não deu certo: o PSG impediu a saída, e, em 2021, trouxe Messi a Paris, atendendo a um desejo do próprio brasileiro. A reedição da dupla, entretanto, não conseguiu impedir a eliminação diante do Real.

Chegada a 2022 longe do topo e em momento delicado na carreira

Todos esses fatores criam um cenário que não poderia ser mais diferente do projeto Neymar-PSG, que fora traçado em 2017. Se o sonho era ter o brasileiro como uma das principais estrelas do futebol mundial e a cara da Copa de 2022 no Qatar, país dos donos do clube francês, a realidade é um jogador que caminha para ter a pior temporada de sua carreira.

Com quatro gols em 19 partidas, Neymar tem a pior média desde que estreou nos profissionais do Santos. Pela primeira vez desde que desembarcou na Europa em 2013, se despediu da Champions League sem balançar as redes. No campeonato francês, atuou em apenas 13 das 27 rodadas até agora.

A rota original foi alterada com a renovação de contrato até 2025. Neymar e PSG, agora, têm mais alguns anos para atingir os seus objetivos. O projeto parisiense original para os últimos cinco anos, entretanto, ruiu. O restante do 2022 do brasileiro gira em torno da Copa, que será disputada em dezembro.

O ano mais delicado da carreira de Neymar até agora é também um que pode definir seu legado e seu futuro no futebol. A versão do atacante que se apresentará à seleção brasileira em novembro é que vai marcar sua imagem com o torcedor do seu país. Para os europeus, irá responder se ainda há tempo para construir outro projeto em busca do topo do mundo.