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Ex-zagueiro recorda brigas com Edmundo e Romário e preconceito na Alemanha

Romário agride Andrei durante jogo do Fluminense com o São Paulo, em 2002 - Fernando Santos/Folhapress
Romário agride Andrei durante jogo do Fluminense com o São Paulo, em 2002 Imagem: Fernando Santos/Folhapress

Augusto Zaupa e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

30/06/2021 04h00

Com passagens por grandes clubes do Brasil e do exterior, Andrei Frascarelli era discreto, muito técnico e tinha aparentemente uma fisionomia tranquila dentro de campo. O ex-zagueiro, no entanto, se envolveu em confusões com nada mais nada menos que Edmundo e Romário - naquela ocasião, ele atuava no mesmo time do Baixinho.

Em entrevista ao UOL Esporte, o ex-jogador, atualmente com 48 anos, revelou que sofreu preconceito quando jogou na Argentina e na Alemanha, admitiu que "era folgado" quando ainda atuava e recordou os episódios conflitantes com os ex-atacantes quando defendia Athletico e Fluminense, respectivamente. O time carioca recebe hoje (30) o vice-líder o Furacão. O duelo que abre a oitava rodada do Brasileirão começa às 16h (de Brasília), no estádio Raulino de Oliveira.

Aposentado há uma década, mas ainda com o desejo de voltar a se dedicar ao futebol e ajudar com a experiência que ganhou ao longo de 26 anos no esporte, Andrei deu os primeiros passos no futebol no XV de Jaú (SP). Lá, chamou a atenção do Palmeiras, mas já acumulava convocações para as seleções de base do Brasil.

"Fiz toda a base no XV de Jaú, depois com 15 para 16 anos eu já treinava com o profissional do XV e tinha jogos na seleção brasileira de base. Com 17 anos, fui vendido para o Palmeiras, onde fiquei um ano e meio. Na realidade, quem me deu projeção para chegar à seleção foi o XV de Jaú, onde eu comecei", recordou.

Apesar de ter atuado em uma época que o futebol brasileiro contava com inúmeros atacantes habilidosos, Andrei nunca tremeu perante aos adversários. Tanto que se auto declarou "folgado", mas nunca provocador.

"Tinha um pensamento assim: 'com quem nós vamos jogar? Ah, contra o fulano. Fala para eles que vão jogar contra o Andrei, eles que têm que se preocupar, não sou eu que tenho que me preocupar com eles'. Sempre fui um pouco abusado", contou.

"Eu peguei inúmeros jogadores, atacantes muito bons, mas eu era meio folgado. Enfrentei o falecido Dener, que era rápido, o Tiba, que era do Bragantino nos anos 90. Peguei o Bebeto no Vasco, o Edmundo surgindo. Peguei essas feras do futebol", acrescentou.

Zagueiro Andrei ao lado de Aristizábal, durante treino do Santos no CT da equipe - Jorge Araújo/Folhapress - Jorge Araújo/Folhapress
Andrei ao lado de Aristizábal, em treino do Santos. Ex-zagueiro também passou por Flamengo, Botafogo, Palmeiras e Goiás, entre outros clubes
Imagem: Jorge Araújo/Folhapress

Confusões com Edmundo e Romário

Apesar do perfil pacato dentro de campo, Andrei se envolveu em polêmicas com dois ícones do futebol brasileiro: Edmundo e Romário. No episódio com o Animal, o ex-zagueiro admitiu ter arrumado confusão, quando ainda vestia a camiseta do Athetico-PR, em 1997.

"O jogo era contra o Vasco da Gama. Fui bater uma falta, e o Edmundo começou a falar, falar e falar. Ele saiu para o ataque e eu saí correndo atrás dele. Num contra-ataque do Vasco e na área, ele começou a falar nem lembro mais o quê. Virei e dei um no pé do queixo dele, foi um soco de baixo para cima e aí [o juiz] expulsou os dois. Foi aquela confusão, não teve pênalti e somente confusão, pancadaria", contou.

Porém, a tarde de 15 de setembro de 2002 é que ficou na memória do torcedor. Naquele dia, o Fluminense foi goleado pelo São Paulo por 6 a 0, no Morumbi. O placar, no entanto, ainda estava 0 a 0 quando Romário foi tirar satisfação com Andrei por um suposto erro em campo. O Baixinho agrediu o colega de Tricolor, e o defensor evitou revidar.

"Eu não sei por que aconteceu [agressão]. Eu saí jogando com o lateral direito, acho que ele queria que eu jogasse a bola para ele. Nem imaginava que ele iria tomar esse posicionamento. É como se eu estivesse trabalhando com você. Senta, almoça juntos, janta juntos, toma café juntos, conversa, bate papo, troca ideia e amanhã você me agride. Até a minha reação foi uma surpresa para mim, porque jamais um cara ia dar um empurrão em mim e eu ia deixar quieto. No mínimo, alguma coisa iria acontecer, a gente iria sair na pancada, alguém iria sair machucado", repassou Andrei, acrescentando que o fato lamentável foi solucionado dias depois.

"Na terça-feira [dois dias após a partida], nos apresentamos no Rio para treinar e o Romário pediu desculpas chorando. O povo ainda pergunta para ele nas entrevistas e ele fala que a única coisa que arrepende foi ter dado aquele empurrão em mim. Ele pediu desculpas, chorou no vestiário no Morumbi, depois lá no Rio de Janeiro ele pediu desculpas novamente."

Andrei até perdoou o camisa 11, mas o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) não, uma vez que o então atacante foi suspenso por um jogo.

Veja outros trechos da entrevista com Andrei:

UOL Esporte: Em meados dos anos 1990, você defendeu o Rosario Central. Como foi jogar na Argentina?

Andrei: Joguei lá uns seis, sete meses. Você é um estrangeiro, quando você entra no país deles, você não é muito querido e sempre existe aquela rivalidade. Você faz amizade com uns e os outros ficam um pouco meio ressabiados. É diferente dos estrangeiros que vem para o Brasil, que nós os acolhemos da melhor maneira possível, sem nenhum tipo de problema, sem vaidade.

UOL Esporte: Você sentiu isso só na Argentina ou na Espanha (jogou no Atlético de Madri e Betis) e na Alemanha (Weiss Ahlen) também?

Andrei: "Na Alemanha eu senti um pouco. Fui para um clube de segunda divisão, então pode haver uma diferença de trabalhar num clube de primeira divisão, que, às vezes, tem pessoas um pouco mais diferentes, mais cultas. Eu fui com o passaporte italiano, comunitário, e significa que era mais um alemão desempregado. Aí você pega aquele sistema deles, que lembra o [Adolf] Hitler. Você tem que ficar esperto nas situações todas, treinamento, na dividida de bola... Não pode facilitar muito. Já na Espanha eu não senti isso, mas na Alemanha e Argentina não tenha dúvida, eu senti.

Ex-zagueiro Andrei hoje possui franquia das lojas Cacau Show - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Ex-zagueiro Andrei hoje possui franquia das lojas Cacau Show
Imagem: Arquivo pessoal

UOL Esporte: Você está aposentado desde 2011 e hoje tem franquia de lojas de chocolate. Você não quis seguir trabalhando no futebol?

Andrei: Saí um pouco do mercado [quando foi morar em Pederneiras, interior de São Paulo]. Se você fica na capital, é mais visto, é lembrado, todo mundo sabe que você está na ativa. Foram quase 26 anos dentro de um gramado, se eu falar que não tenho vontade [de voltar ao meio do futebol], estaria mentindo. Há um tempo atrás fui em busca de alguma coisa, tentar entrar na categoria de base, fazer a licença B e a A para poder exercer a função. Tenho o sonho de voltar, é muito difícil desligar 100%. Eu me vejo dentro de um campo, ajudando a posicionar e conversando com os zagueiros, tudo o que eu fiz na base. A princípio como um auxiliar, depois quem sabe como treinador.