Topo

O que os clubes querem com a nova Liga que pode tirar Brasileirão da CBF

Rodolfo Landim e Guilherme Bellintani, presidentes de Flamengo e Bahia, falam sobre criação da Liga de clubes na sede da CBF - Igor Siqueira/UOL Esporte
Rodolfo Landim e Guilherme Bellintani, presidentes de Flamengo e Bahia, falam sobre criação da Liga de clubes na sede da CBF Imagem: Igor Siqueira/UOL Esporte

Danilo Lavieri, Igor Siqueira e Rodrigo Mattos

Do UOL, no Rio de Janeiro

15/06/2021 17h30

Os clubes da Série A anunciaram hoje (15) que querem lançar uma Liga que vai tomar o controle do Campeonato Brasileirão das mãos da CBF. Em um documento entregue nesta tarde, houve unanimidade dos presentes nas requisições feitas à entidade que hoje controla o futebol no país. Apenas o Sport não compareceu ao encontro porque seu presidente pediu para deixar o cargo ontem (14).

O UOL Esporte reuniu os principais pontos sobre a criação dessa nova Liga para responder os principais questionamentos dessa organização lançada no Rio de Janeiro, na sede da CBF.

Há questões como controlar o regulamento, a captação de receitas, mudar o calendário e também de diminuir o controle das federações nas decisões políticas do órgão que cuida do futebol no país.

Quem vai participar da nova Liga? Quem terá o comando?

A reunião de hoje reuniu 19 clubes da Série A, com exceção do Sport, que viu o seu presidente renunciar ontem. Os 20 clubes da Série B também foram convidados para integrar o grupo e vão aderir ao movimento, apesar de não terem participado do evento. No encontro, além dos clubes, o presidente em exercício da CBF, Coronel Nunes, ficou por alguns minutos no encontro, mas precisou se retirar para fazer exames. A entidade, então, foi representada pelo secretário-geral, Walter Feldman, e pelos vices Fernando Sarney, Gustavo Feijó, Castellar Guimarães Neto e Ednaldo Rodrigues.

Ainda não há a definição de quem vai ficar no comando, mas os participantes admitem a formação de uma comissão para definir os temas principais. Eles evitam falar em lideranças no momento.

Quando a Liga tomaria conta do Brasileirão?

O plano A é que o Brasileirão de 2022 já tenha o controle da Liga, mas os clubes sabem que as negociações podem demorar mais do que isso. O consenso entre eles é que um pontapé inicial era necessário e que esse ato feito hoje seja o início das conversas para mostrar o poder dos times à CBF.

Quais os objetivos da Liga?

Em entrevista na saída da CBF, Guilherme Bellintani, Maurício Galliote e Rodolffo Landim, mandatários de Bahia, Palmeiras e Flamengo, respectivamente, afirmaram que a Liga não deveria ser encarada como uma cisão com a CBF. A ideia é que os clubes tenham o controle do regulamento da competição, da captação das receitas, da divisão do calendário (de evitar que clubes sejam prejudicados nas data Fifa) e que as federações tenham menos poder político. Hoje, elas têm maior peso nas votações em relação aos clubes. O modelo de rebaixamento e ascensão será mantido normalmente.

"Temos o conceito, uma proposta. E existe um consenso que temos que evoluir. Nós, os clubes, temos que estar mais participativos. Por isso os clubes estão juntos agora. A ideia da Liga é fazer que os clubes participem mais, participem da criação, tenham envolvimento nos recursos do campeonato e como ele é administrado, até no regulamento do Brasileirão. Está na hora dos clubes participarem diretamente nisso. Mas isso não é movimento de ruptura", afirmou Galiotte.

Como a CBF recebeu a notícia?

A CBF pode tentar usar o seu estatuto para impedir a união dos clubes. A entidade tem o regulamento a seu favor para dizer que uma liga não pode ser criada sem a autorização dela. Ela pode recorrer até à Fifa caso queira comprar a briga com os times. No momento, os clubes entendem que há a possibilidade de diálogo e que o modelo de ligas em outros países pode ser usado como exemplo. Os times sabem, no entanto, que haverá novas negociações e que a CBF pode oferecer resistência.

"A Liga não tem interesse em desafiar a estrutura da CBF. Vamos ser parceiros da CBF em outras competições também. Mas nós temos premissas que precisamos mudar para que os clubes tenham mais participação em discussões políticas da CBF. A gente quer continuar parceiro, mas temos um desafio próprio de autonomia", afirmou Guilherme Bellintani.

Crise na CBF ajudou a Liga a ser criada?

O afastamento de Rogério Caboclo foi decisivo para impulsionar o movimento. Os clubes já haviam manifestado insatisfação com ele e, neste momento, a ausência de um líder de fato facilitou a união dos times. Bellintani, no entanto, quis deixar claro que não há oportunismo nessa ação, mas sim aproveitar uma oportunidade.

"É importante diferenciar oportunidade de oportunismo. Não podemos ser oportunistas por causa da vacância na CBF. A gente trouxe uma mensagem aqui de uma parceria histórica. Não é que a gente está propondo isso que precisamos tirar o termo de parceria da CBF. É uma oportunidade quando tem ciclo de crise, é uma oportunidade positiva para mudança", completou o cartola.

Como ficam os contratos já existentes com a Globo, por exemplo?

Os clubes não têm a intenção de romper com os contratos que já estão em andamento. A ideia é cumprir com tudo o que já estiver assinado, especialmente no caso dos dos direitos de transmissão da TV Globo.

"Os contratos serão respeitados, mas nada impede que uma vez a Liga organizada já comece a buscar outras receitas que não as receitas dos contratos que já existem. O Flamengo tem contrato com a Globo e vai cumprir o contrato normalmente", explicou Rodolfo Landim.