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Como a gestão do campeão Palmeiras converge com a do emergente Del Valle

Thiago Braga

Colaboração para o UOL, de São Paulo

27/04/2021 04h00

Dois dos projetos esportivos mais ambiciosos da América do Sul se encontram na noite desta terça-feira (27), às 21h30, no Allianz Parque, em São Paulo. Palmeiras e Independiente del Valle-EQU jogam pelo grupo A da Copa Libertadores. Se, em tradição, há uma enorme distância entre o atual campeão continental e o emergente equatoriano, em termos de gestão há pontos de convergência entre esses clubes.

Em campo, o Verdão pode se consolidar na liderança da chave após a vitória por 3 a 2 fora de casa sobre o Universitario-PER na primeira rodada. Já os equatorianos querem se recuperar do empate amargo em casa diante do Defensa y Justicia-ARG por 1 a 1.

Atual campeão da Libertadores, o Palmeiras busca ter a mesma excelência que o clube equatoriano tem em seu projeto de formação de atletas. Já o Del Valle mira o Verdão pelo seu histórico de conquistas: nos últimos anos, ganhou a Sul-Americana em 2018 e foi vice da Libertadores em 2016.

"Nunca deixe de sonhar", aliás, é a frase, escrita em letras garrafais na entrada do centro de treinamento do Independiente del Valle. Mostra a crença em um projeto de trabalho de longo prazo que se baseia no desenvolvimento das categorias de base e na integração das pratas da casa ao time principal.

Fundado em 1958, foi somente em 2006, após a chegada de um grupo de empresários, que o Del Valle passou a construir uma história de sucesso. Em 2014, deu o passo definitivo rumo ao profissionalismo ao ver o governo equatoriano aprovar a troca de nome para Club Especializado de Alto Rendimiento Independiente del Valle.

No mesmo ano, o Palmeiras também iniciava sua mudança de patamar. Após se livrar do rebaixamento no Brasileiro de 2014, o então presidente Paulo Nobre arquitetou um choque de gestão.

O Palmeiras também encontrou na Crefisa a parceria ideal para reorganizar as finanças do clube. Chegaram reforços, como o atacante Dudu, já no primeiro ano o investimento "se pagou" com a conquista da Copa do Brasil 2015. Conquistou também o Brasileiro já em 2016 e voltou a ser campeão nacional em 2018.

Para abastecer sempre suas "canteras", o Del Valle conta com uma grande rede de escolas de futebol, com 30 unidades espalhadas pelo Equador. Além disso, destina 30% do seu orçamento anual para as divisões inferiores —apenas 3% é reservado para a compra de novos atletas.

O Palmeiras, depois de investir milhões em contratações apoiado pela parceria com a Crefisa, viu o aporte diminuir primeiro depois que a Receita Federal multou a empresa pela operação e exigiu que o dinheiro fosse reclassificado como empréstimo.

Assim, o Verdão, ainda em 2015, resolveu voltar sua carga para a reformulação de suas categorias de base. Um trabalho longo, que consiste em aprimorar a estrutura para os jovens, conquistar títulos e aumentar a presença de jogadores formados em casa no time profissional. O que hoje é uma realidade.

No mercado, o Palmeiras mudou seu escopo para achar mais atletas jovens pela América Latina. Assim, o time principal conta com três estrangeiros no elenco: o lateral uruguaio Matías Viña e os zagueiros Gustavo Gómez, do Paraguai, e Benjamín Kuscevic, do Chile.

Nas categorias de base, o número é maior. O sub-20 do Verdão nesta temporada conta com o zagueiro boliviano Leonardo Zabala, os meio-campistas Erick Pluas e Hamilton Carcelen, do Equador, e os atacantes Marino Hinestroza (Colômbia), e Newton Richards (Panamá). O meia Carcelen, por exemplo, era o camisa 10 do Independiente Del Valle sub-17. Segundo quem o vê treinar, ele é um jogador habilidoso que lembra outro estrangeiro com passagem marcante no Brasil: o chileno Jorge Valdívia.

Contra o Del Valle, o Palmeiras chega ao sexto jogo da maratona de 12 partidas em 26 dias que tem castigado o elenco alviverde. Assim, para superar o desgaste, o Verdão aposta cada vez mais na base. São mais de 200 atletas entre as categorias sub-10 e sub-20 no Palmeiras atualmente.

Para o time principal, alguns, como Gabriel Menino, Gabriel Verón, Wesley e Patrick de Paula já são realidade. Com partidas em sequência, Abel usa o Paulista para dar rodagem aos jovens. Na derrota do último domingo contra o Mirassol, o panamenho Newton fez o gol do Verdão. E uma nova leva de jovens já está pronta para jogar no time principal, formada por Renan, Esteves, Garcia, Fabinho, Henri e Giovani. Tudo para ter, além do ganho técnico, retorno financeiro, seja com títulos, seja com a venda dos direitos federativos destes atletas.