'Cassino de Gabigol' é ligado a grupo de clubes de pôquer em São Paulo

O cassino descoberto pela polícia no mês passado realizando um evento ilegal com cerca de 150 pessoas, entre elas o atacante Gabigol, do Flamengo, está relacionado a um grupo responsável pela realização de torneios de pôquer em São Paulo. A relação entre os empreendimentos pode ser observada em documentos de cadastros de pessoas jurídicas e nomes de um empresário comum aos endereços.

A casa mais famosa desse grupo é o Vegas Poker, localizado no bairro do Sumaré (zona oeste de São Paulo). O estabelecimento recebeu em 11 de dezembro uma autuação da Prefeitura de São Paulo por falta de alvará, mas recorreu e reverteu a multa de mais de R$ 64 mil.

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A empresa indicada na autuação, a Odds Brasil Holden, tem como administrador responsável Reginaldo Moraes de Campos. Também conhecido por Régi entre os entusiastas do pôquer, o empresário consta como presidente da razão social Associação Monte Carlo Poker Club, aberta em 10 de dezembro (dia anterior à multa no Sumaré) e cuja sede cadastrada é o endereço do cassino deflagrado na Vila Olímpia (zona sul da capital paulista).

O nome coincide com a logomarca na decoração do suntuoso salão Monte Carlo Eventos, visível nas imagens da operação que acabou flagrando Gabigol e que foram amplamente divulgadas em fotos e vídeos na internet e na televisão.

A reportagem localizou também uma segunda empresa ligada a Reginaldo Moraes de Campos, a Dealers Bar, de serviços de bar e de restaurante, que tem um histórico de vinculação às operações do clube de pôquer e passou por alterações de cadastro em outubro passado, transferindo o endereço-sede do complexo de eventos no Sumaré para o da festa deflagrada na Vila Olímpia.

Até se mudar para o Sumaré, onde recebeu a autuação, a empresa Odds Brasil Holden teve como sede outro endereço, no Itaim Bibi, onde mais um cassino, menos requintado e com menos pessoas, foi desbaratado no mesmo dia, horas antes da festa na Vila Olímpia.

A empresa também esteve associada ao primeiro endereço do Vegas Poker, no Jardim Paulista, até 2015, quando o clube suspendeu as atividades definitivamente depois de diversas medidas de lacração e emparedamento pela prefeitura, por descumprir normas de zoneamento. A reabertura, no Sumaré, aconteceu em janeiro do ano passado.

A casa de pôquer seguiu com os eventos presenciais durante a pandemia, como mostram imagens em seu site oficial. Entre dezembro e fevereiro mais de 840 pessoas passaram pelo local, em campeonatos que contavam com até 50 participantes por noite. A reportagem tentou contato com Reginaldo por e-mail e telefone nas últimas três semanas, mas não obteve resposta.

Prédio abriga oficina mecânica

O prédio na Vila Olímpia onde funcionava o cassino clandestino abriga há quase dez anos as instalações de uma oficina automotiva, especializada em serviços de reparo e venda de autopeças para carros importados e não tem nenhuma publicidade associada à marca Monte Carlo Eventos.

A edificação de cinco pavimentos e área construída de 3,9 mil m2 constitui a garantia hipotecária a um investimento feito na oficina por um dos maiores empresários do setor de transportes no país. Em 2018, o prédio foi arrematado em leilão judicial por esse empresário, que pede agora a desocupação do imóvel pela oficina.

Os advogados dele disseram à reportagem que não tiveram ciência da existência do cassino até a repercussão do caso na imprensa. A reportagem procurou os responsáveis pela oficina em telefones e endereços de e-mails atribuídos a eles e a seus advogados, mas não obteve resposta.

Como está a investigação

A promoção de torneios de pôquer não constitui infração legal, uma vez que a modalidade é considerada esporte pela jurisprudência no Brasil. Já a organização de jogos de azar, como a que estava acontecendo no cassino, é proibida no país desde 1946. Além disso, o flagrante aconteceu durante a fase vermelha do Plano SP de combate à pandemia do coronavírus, quando os estabelecimentos deveriam estar fechados para o público.

A Secretaria da Segurança Pública afirmou que um inquérito policial foi instaurado para investigar o caso, mas não forneceu nenhuma outra informação para "preservar o trabalho policial".

Já o Ministério Público de São Paulo entrou com pedido de 100 salários mínimos (R$ 110 mil) como ação penal para o jogador Gabigol em razão de crime contra a saúde pública.