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Tino foi rosto do auge da relação Globo-seleção e "2ª voz" em tetra e penta

Parceria Tino Marcos e Galvão Bueno marcou gerações nas transmissões da seleção  - Agnews
Parceria Tino Marcos e Galvão Bueno marcou gerações nas transmissões da seleção Imagem: Agnews

Do UOL, em São Paulo

02/02/2021 14h57

"O Pelé da reportagem", decretou Galvão Bueno nas redes sociais na última terça-feira (2) para homenagear o repórter Tino Marcos, que deixará a Globo após 35 anos de emissora. O jornalista, que privilegiará a vida familiar, foi justamente uma voz auxiliar do famoso narrador nas históricas coberturas e transmissões do tetra e do penta da seleção brasileira, em 1994 e 2002, respectivamente.

Muito mais do que isso, Tino foi o rosto da cobertura de seleção no auge da sintonia na relação entre Globo e a CBF, nos anos Ricardo Teixeira. O repórter rodou os quatro cantos do mundo para acompanhar as missões da camisa amarela, sempre entrosado com Galvão Bueno.

Tino esteve na linha de frente, por exemplo, na cobertura do surto emocional de Ronaldo antes da final da Copa do Mundo de 1998, na França. Com seu estilo calmo ao vivo e craque na união de texto e imagem em reportagens gravadas, o repórter foi sinônimo de seleção para mais de uma geração.

No período em que a Globo gozou de exclusividade de amistosos internacionais e torneios, Tino quase sempre esteve lá para pegar a primeira palavra do treinador, de Carlos Alberto Parreira a Tite.

Foi do microfone de Tino, por exemplo, que entrou para a história do futebol brasileiro o célebre desabafo de Zagallo após a final da Copa América de 1997, na Bolívia, com o "vocês vão ter que me engolir".

Ídolo até de jogadores

Com mais jogos e "convocações" que todos os últimos jogadores que vestiram a camisa da seleção, Tino era uma espécie de ídolo dos novatos que chegavam para vestir a amarelinha. Não era raro o diálogo de atletas que se declaravam fãs do repórter global.

No grupo atual, até Neymar, avesso a microfones e holofotes antes e após os jogos, se rendia a Tino. Era certo um cumprimento ou reverências nas passagens por campos e zonas mistas. O técnico Tite não fazia diferente.

Ao lado de Mauro Naves e Marcos Uchôa, Tino Marcos comandou as reportagens de seleção nas últimas três décadas. Em 2019, pouco após o afastamento do colega Naves em caso polêmico sobre conduta e fontes, Tino pediu licença da emissora, voltando no ano seguinte - mas, então, apenas dedicado a projetos especiais, já distante do dia a dia de coberturas.

O repórter fica na Globo até o final de fevereiro, quando encerra uma série de reportagens especiais que vai ao ar em julho. O diretor de Conteúdo de Esporte da emissora, Renato Ribeiro, enviou à equipe um comunicado interno falando sobre a saída de Tino Marcos.

Veja a carta da Globo:

"Amigas e amigos,
Em julho de 2019, Tino Marcos nos procurou pedindo uma mudança. Queria deixar a cobertura da Seleção Brasileira e o dia-a-dia em geral para se dedicar a projetos especiais. Era o primeiro passo de uma ideia maior: de, aos poucos, se despedir da reportagem.
Na semana passada, Tino nos procurou novamente pra dizer que esse dia chegou. É raro alguém ter a sabedoria, a coragem e a serenidade de decidir parar no auge. Tino quer curtir a vida e ficar perto da família depois de tantos domingos trabalhados, de tantas longas viagens, de tanto tempo afastado de casa. Sem exagero algum, Tino Marcos deixar a reportagem é como Pelé se despedir dos campos.
Tino entrou na Globo em maio de 1986 e foi um dos responsáveis pela criação de um jeito único e bem brasileiro de se contar histórias esportivas na TV. Um gênio do audiovisual, da decupagem frame a frame, da pergunta exata, do texto perfeitamente casado com a imagem. Um estilo que influenciou gerações. Tino é até hoje referência. As reportagens dele se confundem com a história do esporte brasileiro nos últimos 35 anos.
Pra se ter uma ideia do peso de Tino Marcos, no início da carreira - ainda no Cruzeiro - o sonho do Ronaldo era ser entrevistado por ele num jogo do Brasil. Há a história de um aniversário do Fenômeno em Bento Ribeiro em que a maior atração da festa foi o Tino. Ronaldo teve que pedir pra todos "deixarem o Tino em paz pra ele trabalhar."
O microfone do Tino marcou a carreira inteira do Fenômeno e de muitos outros craques. Foi o repórter do tetra e do penta. Soube se reinventar, mudando a linguagem das reportagens ao longo do tempo. Generoso, ajudou na carreira de inúmeros repórteres (me incluo nessa longa lista). Foi inspiração de muita gente. Qual repórter não foi chamado de Tino nas ruas? Virou sinônimo do ofício.
Tino continuará conosco ainda no mês de fevereiro para finalizar os episódios de uma série olímpica para o JN, que irá ao ar em julho. Será seu último presente para todos como repórter. Mas as portas da Globo sempre estarão abertas para qualquer tipo de parceria com o Tino no futuro. Em nome da Globo e de todos os colegas só tenho a agradecer, Tino, por tudo o que fez nesses anos. Por ter sido quem foi. Pela herança que deixa.
-Galvão!
-Diga lá, Tino!
-Sentiu.
Sentiremos todos, Tino. Seja feliz com Virginia, Pilar e Laura. Sinta-se abraçado por todos os seus colegas, amigos e fãs,
Renato"