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Zagueiro de queda palmeirense encarou torcedores em restaurante e aeroporto

Zagueiro Alexandre, ex-Palmeiras, leva vida pacata no interior de Minas Gerais  - Arquivo pessoal
Zagueiro Alexandre, ex-Palmeiras, leva vida pacata no interior de Minas Gerais Imagem: Arquivo pessoal

Arthur Sandes e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

09/10/2020 04h00

Quando um gigante como o Palmeiras experimenta o trauma de ser rebaixado à Série B, os sentimentos mais exaltados acabam machucando muita gente. Um dos personagens marcados pela queda no Campeonato Brasileiro de 2002 foi o zagueiro Alexandre, titular da equipe na campanha.

Hoje, levando uma vida pacata na pequena São Pedro de Suaçuí, interior de Minas Gerais, Alexandre Pereira de Souza entrou no olho do furacão na reta final daquele Brasileiro, há 18 anos. Primeiro, por uma falha individual na penúltima rodada, em empate com o Flamengo. Depois, o defensor acabou enfrentando situações desagradáveis, sendo constrangido fora dos estádios por torcedores.

Olhando em perspectiva para a campanha palmeirense de 2002, Alexandre reclama, principalmente, de ter ficado em evidência no meio do grupo. O zagueiro aposentado diz que costumava ficar muito exposto para a imprensa durante a má fase do Verdão, mesmo num elenco cheio de nomes experientes, como os campeões mundiais Marcos e Zinho.

"Eu me arrependo de uma coisa, todo o jogo só eu que falava, todo mundo corria. Fiquei muito marcado por isso. Eu ia dar explicação porque que perdeu, fiquei muito visado. Quando o Palmeiras caiu, eu tive problema lá na Bahia em Salvador com a torcida", recordou Alexandre em entrevista ao UOL Esporte, em menção à derrota na rodada final para o Vitória, em Salvador (4 a 3).

Além de Palmeiras, Alexandre defendeu outros grandes do país, como Grêmio, Atlético-MG e Cruzeiro, onde foi campeão da Copa do Brasil de 2000. Também jogou no futebol português e nos Emirados Árabes. Hoje, curte uma vida desacelerada em seu sítio mineiro. Abaixo, confira mais do papo com o ex-jogador do Palmeiras.

UOL: Você começou a carreira em qual clube?

Alexandre: Eu comecei no Valériodoce (MG), da base no Valério fui para o Atlético-MG já como profissional. E depois fui para Portugal.

UOL: Você é o cara marcado com a camisa do Palmeiras, é justo dizer assim?

Alexandre: Infelizmente, porque eu fiquei marcado quando o Palmeiras caiu, mas acontece que o time tinha mais dez jogadores e o grupo inteiro, né? O que ninguém fala é que o Vanderlei Luxemburgo saiu e veio para o Cruzeiro, isso na terceira rodada do campeonato. O Vanderlei montou um time, recebeu uma proposta do Cruzeiro e foi. Pô, isso foi bom pra ele, mas acontece que o time ali desandou. A partir dali, e depois veio o Levir Culpi, e eu fiquei marcado, falhei naquele gol contra o Flamengo, que eu fui recuar a bola para o Sérgio (goleiro) e o Liedson se antecipou e fez o gol, ficou 1 a 1. Se a gente ganha do Flamengo, o Palmeiras não tinha caído. A gente foi para a última partida do campeonato em Salvador contra o Vitória precisando ganhar, deu no que deu. Eu falhei contra o Flamengo, só que acontece que eu fiz gol, eu fiz dois gols durante o campeonato que decidiram partidas, mas ninguém lembra disso. Até eu estava esquecendo disso.

Zagueiro Alexandre marca Kaká em clássico Palmeiras x São Paulo - Eduardo Knapp/Folha Imagem - Eduardo Knapp/Folha Imagem
Zagueiro Alexandre marca Kaká em clássico Palmeiras x São Paulo
Imagem: Eduardo Knapp/Folha Imagem

UOL: Você responsabiliza também o Luxemburgo por esse primeiro rebaixamento do Palmeiras?

Alexandre: Não, eu não culpo ninguém. Eu não posso culpar. Agora, caiu todo mundo, é isso que o torcedor tem que olhar na internet. Falam muito da minha história e que eu falhei, mas era tanta coisa que acontecia, briga interna, um monte de coisa. Quando o Vanderlei saiu também, ele montou uma equipe, pediu jogadores, montou a equipe, e de repente saiu. E aquele time ali desandou. Mas só se lembra de Alexandre, Alexandre falhou. Pera lá. né? Caiu todo mundo.

UOL: Você diz ser palmeirense. Em 2012, falou em entrevista à Folha de S. Paulo que "mora na roça pra ninguém encher". Na época administrava fazendas no interior de Minas. Foi isso mesmo?

Alexandre: Nossa, naquela época era chato demais, todos os dias eram mensagens de jornais de São Paulo. Sei lá, era ruim pra caramba. Eu me arrependo de uma coisa, todo o jogo só eu que falava, todo mundo corria, aí eu fiquei muito marcado por isso., Só eu falava, quando perdia, corria todo mundo, aí eu dava explicação porque que perdeu, porque o Palmeiras perdeu. Fiquei muito visado, quando o Palmeiras caiu eu tive problema lá na Bahia, com a torcida. Acabou o jogo em Salvador, contra o Vitória, time rebaixado, nós voltamos para o hotel, o voo estava marcado para segunda de manhã. Estava tão complicado que eu viajei no domingo à noite, eu pedi ao Sebastião Lapolla, que era o supervisor, se eu podia ir embora. Ele falou: 'pode ir para Belo Horizonte, não precisa ir pra São Paulo'.

A torcida estará esperando no aeroporto, com certeza eu já esperava que ia ter problema. Eu cheguei no aeroporto em Salvador no domingo à noite, eu desconfiado nem com o agasalho do clube eu estava, eu vesti a minha roupa normal. Eu cheguei no aeroporto e comprei a passagem, bem desconfiado, coloquei o meu boné pra disfarçar. Mas você acredita tinha uns quatro torcedores, e um cara me conheceu e queria me pegar lá, mas a polícia chegou e não deixou.

UOL: Você chegou a pensar em abandonar o futebol depois de tudo que passou no rebaixamento do Palmeiras?

Alexandre: Não, eu não pensei. Eu realmente fiquei chateado demais, porque marcou demais a minha vida, a minha família. Até quando eu voltei a São Paulo, três meses depois, eu voltei para resolver um problema em São Paulo, não estava mais no Palmeiras. Fui num restaurante, e um cara falou alguns negócios para eu escutar. Ficou muito marcado, mas bola pra frente. Fui para o Goiás, depois para a Ponte Preta, fui pro Qatar, tive uma fase no Qatar por dois anos e meio, e parei de jogar posteriormente porque eu não estava aguentando mais.

UOL: Você sempre falou que é palmeirense, é isso?

Alexandre: Eu sempre gostei do Palmeiras, assisto a todos os jogos do Palmeiras. Sou atleticano, mas eu tenho um carinho especial pelo Palmeiras, e quando jogam Palmeiras x Atlético-MG eu torço para o Palmeiras. Eu gosto do Palmeiras, eu aprendi a gostar. Eu não era palmeirense até antes de jogar, mas eu aprendi a gostar.

UOL: Como você vê o Palmeiras hoje? O que acontece com o time neste ano, para ter tanta dificuldade de vencer jogos?

Alexandre: O Palmeiras tem um elenco forte, inclusive, eu acho que tem um elenco melhor que o do Atlético-MG, mas realmente o futebol do Palmeiras não deslancha. O Vanderlei tenta mexer da forma que pode, coloca a base para jogar, mas realmente o futebol do Palmeiras não flui. Não é bonito de se ver como você vê hoje o Atlético-MG jogar.

UOL: Você trabalhou com o Luxemburgo no Palmeiras. Muita gente diz que ele é um treinador ultrapassado para o futebol atual. O que acha sobre isso?

Alexandre: Não, eu não acho. O Vanderlei é muito inteligente, ele se adapta fácil em qualquer situação, mas eu acho que hoje no Brasil tem treinadores melhores, mas o Vanderlei é um grande treinador. Já foi o melhor por muitos anos, hoje não é o melhor, mas ultrapassado ainda não. Ele tem muita lenha pra queimar ainda.

Zagueiro Alexandre, comemorando vitória do Palmeiras durante o Brasileiro de 2002 - Almeida Rocha/Folhapress - Almeida Rocha/Folhapress
Imagem: Almeida Rocha/Folhapress

UOL: Você vê esse Palmeiras 2020 ganhando algum título? Brasileiro ou Libertadores?

Alexandre: Eu vejo, o Palmeiras tem força para chegar na Libertadores. Você vê que na Libertadores o time está bem, no Brasileiro também, é um dos candidatos. Tem o Flamengo, pra mim, hoje é o melhor plantel do Brasil, não o melhor futebol, mas o melhor plantel. E o Palmeiras também está aí, é time forte, tem camisa e pode chegar.

UOL: Hoje o Alexandre está fazendo o que dá vida?

Alexandre: Hoje eu estou aqui na minha cidade, só de boa. Eu vou para o meu sítio, eu estava lá agora. Administro o que eu plantei com o futebol, e segue a vida.