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Marcação individual sem parar: o dia em que Jorge Jesus tentou anular Messi

Jorge Jesus, técnico do Flamengo, durante partida contra o Barcelona-EQU pela Libertadores - Allan Carvalho/AGIF
Jorge Jesus, técnico do Flamengo, durante partida contra o Barcelona-EQU pela Libertadores Imagem: Allan Carvalho/AGIF

Do UOL, no Rio de Janeiro (RJ)

13/04/2020 12h40

Desde a chegada ao Flamengo, no meio do ano passado, a forma de atuação do time na marcação do adversário tem sido um dos focos do técnico Jorge Jesus. Tal exigência não é novidade no trabalho do treinador português e foi justamente quando teve um dos maiores desafios da carreira, o de parar Lionel Messi, que o comandante ajudou a consagrar o meio-campista argentino Rodrigo Battaglia, do Sporting (POR).

Na Liga dos Campeões da temporada 2017/2018, os Leões caíram no grupo que tinha também o Barcelona. Para o primeiro duelo entre as equipes, Jorge Jesus escolheu fazer uma marcação individual sobre o camisa 10 do Barcelona — estilo que ainda não adotou com tanta assiduidade no Flamengo —, e escolheu Battaglia para 'colar' no compatriota.

Para ajudar na preparação, o meio-campista do Sporting conta que recebeu diversos vídeos de Messi e assistiu a cada lance ao lado de Jesus, para troca de ideias e orientação detalhada.

Messi enfrenta marcação individual de Battaglia em duelo do Barça com o Sporting  - VI Images via Getty Image - VI Images via Getty Image
Messi enfrenta marcação individual de Battaglia em duelo do Barça com o Sporting
Imagem: VI Images via Getty Image

"No primeiro treino da semana, ele [Jesus] me disse: 'Batta, você vai marcar o baixinho'. Fiquei 'branco'... 'Em todo o campo, mister?', perguntei. E ele: 'Sim, para todo o lado!'. Sinceramente, senti um pouco de vergonha. Seguir o melhor jogador do mundo para todo o lado... Foi a primeira vez na minha vida que isso aconteceu", lembrou ele, em um ao vivo em uma rede social, antes de completar:

"O treinador até me enviou vídeos dele [Messi], e eu disse a ele que já tinha visto todos eles, mas ele insistiu. Vi os vídeos ao seu lado. Graças a Deus, tudo correu bem. Perdemos por 1 a 0, mas jogamos um ótimo jogo. E acabou repercutindo positivamente na minha carreira."

Battaglia salientou a importância que Jesus teve no desenvolvimento de sua carreira e se mostrou agradecido ao atual técnico do Rubro-Negro.

"Nos jogos depois do Barcelona, já na Liga, ele sempre me dizia para marcar individualmente um dos adversários. Assim como eu fiz contra o Barça. Estou muito agradecido. Jorge Jesus... Ele me permitiu chegar ao Sporting e me ensinou muitas coisas", indicou.

No segundo encontro, o time catalão venceu por 2 a 0. O Sporting ficou na terceira colocação do Grupo D e não avançou à fase de mata-mata da competição. Já o Barcelona terminou como líder do grupo e foi eliminado nas quartas de final, após virada histórica da Roma.

Uma das principais mudanças conduzidas por Jesus ao chegar à Gávea foi a movimentação do time sem a posse de bola, colocando em prática a 'marcação alta' e coletiva. Até aqui, ao menos de maneira clara, ainda não houve um pedido por marcação individual como no caso citado por Battaglia.

Jorge Jesus, treinador do Sporting, com Ernesto Valverde, técnico do Barcelona - Urbanandsport/NurPhoto via Getty Images - Urbanandsport/NurPhoto via Getty Images
Jorge Jesus, treinador do Sportin, com Ernesto Valverde, técnico do Barcelona
Imagem: Urbanandsport/NurPhoto via Getty Images

Em pouco tempo de Flamengo, o técnico demonstrou que a forma do time marcar seria um fiel da balança no trabalho. Em uma entrevista realizada ainda em junho, o zagueiro Rodrigo Caio comentou a importância que o técnico via no sistema defensivo.

"Estamos gostando, é desafiador. São ideias diferentes, com bastante agressividade na marcação. Ele orienta muito a parte defensiva. Vamos crescer muito. Ataque ganha jogo e defesa ganha campeonato. É o que ele diz e que eu já tinha ouvido do [treinador colombiano Juan Carlos] Osório. Quando treinamos muito a parte defensiva, crescemos muito. Essa semana inteira teve treino deste tipo, com bastante exigência. Isso nos deixa mais perto do que ele quer. A defesa é a base do time, a solidez", disse o zagueiro, recordando os tempos no São Paulo.

Na última temporada, Willian Arão passou de "patinho feio" a titular sem ser ameaçado na equipe rubro-negra. O jogador, que apresentou uma melhora no segundo semestre, enalteceu o treinador.

"Ele tem um impacto muito grande. Eu já tinha atuado como primeiro volante na minha carreira. Quando ele chegou aqui e definiu que eu jogaria nesta posição, começou a me pedir uns movimentos específicos. Foi uma mudança muito grande para mim, porque eu já tinha jogado, mas eu não entendia o jogo daquela forma, não entendia as movimentações daquela forma", disse ao SporTV.

Mais recentemente, Thiago Maia, que chegou para a temporada 2020 para disputar vaga com Arão, comentou sobre a adaptação ao clube da Gávea e apontou um dos pedidos de Jesus.

"Ele é muito exigente na questão de fechar espaços. Quando você abraça a ideia, vê que isso dá certo. Estamos vendo isso durante os jogos", ressaltou em entrevista ao SporTV.