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Repórter diz que representante da CBF foi quem causou sua prisão

Napoleão de Almeida

Colaboração para o UOL, em São Paulo

20/11/2019 14h34

Resumo da notícia

  • Jairo Silva Júnior disse em vídeo que a confusão foi causada por determinação do representante da CBF na partida
  • "Tentei fazer o registro jornalístico da ação policial. O supervisor viu e tentou tirar o celular da minha mão de maneira brusca"
  • Polícia de SC disse que, por lei, o celular é detido para servir como prova de defesa da PM e seria apreendido

O repórter Jairo Silva Júnior, da Rádio Transamérica de Curitiba, detido pela Polícia Militar de Santa Catarina após fazer imagens de policiais agindo com truculência contra membros da comissão técnica do Paraná Clube após o empate da equipe com o Criciúma em 1 a 1, pela Série B, disse em vídeo que a detenção aconteceu após determinação do representante da CBF na partida, Robson Cechinel.

Cechinel foi identificado por Jairo como o responsável por acionar a PMSC, muito embora o nome dele não conste na súmula da partida. Cechinel portava um crachá da CBF como delegado da partida, mas seu nome não foi encontrado nos sites da CBF ou da Federação Catarinense de Futebol. De acordo com os repórteres, ele estava no gramado distribuindo os coletes de imprensa.

Em contato com o UOL Esporte, Jairo contou que tudo começou quando Cechinel pediu à Polícia Militar catarinense que retirasse o diretor de futebol do Paraná, Alex Brasil, do túnel de acesso aos vestiários. "O representante da CBF falou que ele não poderia estar ali. O Alex tentou argumentar com ele e o supervisor disse não e chamou a Polícia. O Alex falou com os policiais, mas eles o trataram de maneira truculenta. Aí, o Irapitan Costa (assessor de imprensa do Paraná) começou a filmar e fotografar a ação dos policiais e eu, instintivamente, comecei a fazer o relato jornalístico do que estava vendo", contou, "Em nenhum momento filmei o campo, os jogadores. Tentei fazer o registro jornalístico da ação policial contra Alex Brasil e Irapitan Costa. E o supervisor me viu. Ao me ver, veio até mim e tentou tirar o celular da minha mão de uma maneira brusca".

Repórter Jairo Júnior é detido por policiais no jogo entre Criciúma e Paraná - Reprodução - Reprodução
Repórter Jairo Júnior é detido por policiais no jogo entre Criciúma e Paraná
Imagem: Reprodução

Jairo disse que ouviu que não poderia fazer imagens do campo. Ele contrapôs: "Eu disse, 'o que é isso, amigo?', e ele disse que eu não poderia filmar ou fotografar dentro do campo. Disse, 'tudo bem, mas você não tem o direito de tentar pegar o celular da minha mão. Coloque no relatório e a CBF vai me punir. A gente é credenciado por rádio e, se não pode fazer imagens por celular, a gente pode ser suspenso. É isso que ele deveria fazer. Nunca tentar tomar meu celular. Aí a gente discutiu e ele chamou a PMSC. A Polícia me tirou e me levou para uma sala". O repórter afirma ter sido bem tratado durante a detenção.

Entretanto, os incômodos seguirão pelo menos até fevereiro do próximo ano. "Nos disseram que em Santa Catarina existe uma lei que determina que qualquer pessoa que filme uma abordagem policial tem o celular aprendido como prova de defesa da PM. A gente ficou uma hora por lá, assinamos um termo circunstanciado e o compromisso de ter de voltar no dia 19 de fevereiro de 2020 para uma audiência. Eles disseram que vão devolver meus dois celulares, mas eu terei de voltar até Criciúma para pegar."

ALESC nega existência de lei para apreensão dos celulares

A Assembleia Legislativa de Santa Catarina foi consultada pela reportagem sobre a legislação que permitia a apreensão dos celulares. Após pesquisa interna e consulta a parlamentares, a assessoria de imprensa da ALESC afirmou desconhecer qualquer lei que restrinja a filmagem de ações polícias ou que obrigue a retenção dos celulares para averiguação.

Em nota emitida pelo Sindicato dos Jornalistas do Estado do Paraná, repudiando a ação policial, o secretário de segurança pública de Santa Catarina, Coronel Araujo Gomes, argumentou que a retenção dos celulares foi "segundo o comandante do policiamento, porque o policial entendeu que ele possui registros (provas) que poderiam ajudar a esclarecer ou elucidar a situação quando ela for apreciada pelo juiz na audiência de transação penal."

Associação catarinense ameniza incidente. Paranaense emite nota de repúdio

Em nota emitida na manhã desta quarta (20), a ACESC (Associação dos Cronistas Esportivos de Santa Catarina) procurou amenizar o incidente no estádio do Criciúma, e reforçou a tese de que repórteres de rádio não podem filmar ou fotografar dentro de campo, desconsiderando o contexto. A nota, assinada por José Antônio de Mira, afirma "repudiar qualquer ato de violência", mas desacredita o relato de que houve truculência policial.

Já a ACEP (Associação dos Cronistas Esportivos do Estado do Paraná) emitiu uma nota de repúdio, falando em " abuso de autoridade e arbitrariedade praticados por oficiais da Polícia Militar de Santa Catarina".

Confira a íntegra das duas notas:

INCIDENTES EM CRICIÚMA

Tendo em vista os incidentes verificados no final do jogo Criciúma x Paraná Clube, pelo Campeonato Brasileiro da Série B, na noite de ontem (19) envolvendo o repórter Jairo Silva da Fonseca Júnior, da rádio Transamérica, de Curitiba e a Polícia Militar do Estado de Santa Catarina, a ACESC esclarece que:

1 - Assim que soube do ocorrido, logo após o encerramento da partida, o presidente da ACESC, José Mira solicitou ao vice-presidente da região Sul, Gilberto Custódio que acompanhasse o caso, obtendo maiores informações e prestando assistência ao profissional da imprensa esportiva;

2 - Conhecido os relatos das partes envolvidas, o vice-presidente da ACESC encaminhou as medidas necessárias para a melhor solução do problema;

3 - A despeito do anúncio de violência contra o profissional de imprensa oferecemos aqui o link para acesso ao twitter oficial da Rádio Transamérica, onde o próprio repórter envolvido oferece a sua versão, bem mais amena do que os registros, alguns precipitados, apresentados contra a Polícia Militar de SC;

3 - A ACESC repudia qualquer ato de violência que venha a ser praticado em situações dessa natureza e reafirma a sua confiança e solidariedade a gloriosa corporação da Polícia Militar do Estado de Santa Catarina, sempre atenta no cumprimento do seu dever;

4 - Por fim, lembra a ACESC que o acesso dos profissionais de imprensa ao entorno do gramado é regulado pela Confederação Brasileira de Futebol, à quem compete estabelecer as normas de conduta dos profissionais credenciados. No que diz respeito aos profissionais de rádio, a referida norma "proíbe aos repórteres de rádios fotografar e filmar enquanto no entorno do gramado";

5 - Diante dos fatos expostos a ACESC ratifica o seu repúdio à qualquer violência que possa ser praticada e apela no sentido de que a compreensão e o bom senso possam encontrar a melhor solução para o caso.

José Antônio de Mira

Presidente da ACESC

NOTA DE REPÚDIO

A ACEP - Associação dos Cronistas Esportivos do Estado do Paraná, por sua diretoria, repudia veementemente os atos de abuso de autoridade e arbitrariedade praticados por oficiais da Polícia Militar de Santa Catarina na noite de terça-feira (19.11.2019), no Estádio Heriberto Hulse, em Criciúma.

A pretexto de coibir, por força de legislação estadual ou de regulamentos da CBF, a gravação de áudio e vídeo de conduta hostil de agentes da corporação contra integrantes da delegação do Paraná Clube após a marcação do gol de empate da equipe do Criciúma, a Polícia Militar de Santa Catarina deteve ainda no campo de jogo o repórter da Rádio Transamérica Curitiba, Jairo Silva da Fonseca Junior, e o assessor de imprensa do Paraná Clube, Irapitan Costa, apreendendo seus aparelhos de telefonia celular e obrigando-os a permanecer por longo período em sala reservada de uso da PM. Os profissionais de imprensa foram compelidos a assinar termo circunstanciado para responder penalmente perante o Juizado Especial Criminal de Criciúma.

A ACEP se solidariza com seus associados, vítimas de injusta agressão no exercício da atividade profissional, e se coloca à disposição de toda a classe, da Rádio Transamérica Curitiba e do Paraná Clube, para as providências que se fizerem necessárias no enfrentamento do lamentável episódio.

Curitiba, 20 de novembro de 2019

ISAÍAS APARECIDO DE BESSA

Presidente da ACEP