Ele é jogador profissional, mas ganha mais dinheiro com post no Instagram
O futebol do Panamá viveu um boom nos últimos anos. Na Rússia, a seleção local disputou a Copa do Mundo pela primeira vez na história, e em março deste ano ainda empatou um amistoso com o Brasil.
Mas a evolução que se esperava ainda não virou realidade e os jogadores dos 17 clubes profissionais do país (dez na primeira divisão e sete na liga de acesso) não têm o tratamento que acham justo. É assim com Josimar Alexis Burker, de 25 anos. Ele é lateral-esquerdo do Club Atlético Independiente de La Chorrera, mas precisa complementar a renda com outro trabalho. No caso dele, como influenciador digital.
Nas redes sociais, Burker é "The Cocolin", personagem de vídeos humorísticos no YouTube (o de mais sucesso com 5,5 milhões de visualizações) e dono de um Instagram com 350 mil seguidores - o Panamá é um país de 4 milhões de habitantes, aproximadamente. Ele se divide entre o trabalho na internet e os treinos e jogos da liga local.
"Tem que se organizar. Futebol não é visto como profissão aqui, então não te exigem tanto quanto exigiriam em outros países. Por mais que o futebol tenha sido sempre minha paixão começou uma dúvida na minha cabeça: deixo de jogar e me dedico às redes sociais? Porque treinando e jogando diariamente eu teria um salário de 500 dólares, e nas redes sociais um vídeo ou propaganda para uma marca paga o mesmo. Um dia na internet é um mês como jogador", conta, ao UOL Esporte, o panamenho.
"Os jogadores de futebol no Panamá não são reconhecidos nas ruas. Mas eu saio na esquina e as pessoas me pedem fotos porque gravo vídeos na internet. Se eu tivesse que escolher ficaria com as redes sociais, mas para mim a combinação é perfeita."
Nome tem inspiração brasileira
Josimar não é dos nomes mais comuns no Panamá. Ele foi batizado em homenagem ao lateral brasileiro que jogou em clubes como Botafogo, Flamengo, Internacional e Sevilla. O Josimar original jogou a Copa do Mundo de 1986 pela seleção brasileira e fez dois golaços - um chute forte de fora da área contra a Irlanda do Norte, na primeira fase, e uma finalização após longa sequência de dribles diante da Polônia, nas oitavas de final. O encantamento foi tão grande que o menino panamenho foi batizado com este nome oito anos depois.
"Antes de eu nascer meu pai viu um jogo do Brasil e um jogador chamado Josimar fez um golaço. Ele disse à minha mãe que teria que dar esse nome a mim. Então o futebol sempre foi parte da minha vida", diz o jogador.
Josimar Alexis Burker começou no futebol aos nove anos, na escolinha do time em que mais tarde iria se profissionalizar, o Alianza Fútbol Club. Aos 20 anos ele foi para o Sporting San Miguelito e lá foi campeão nacional na base e como profissional. Depois sofreu com lesões e interrompeu a carreira até ser contratado pelo La Chorrera no mês passado. Um dos sonhos do panamenho é jogar no Brasil um dia.
"Qual jogador de futebol da América Central não gostaria de jogar no Brasil? Quem não conhece os times e jogadores do Brasil? Acho que até um jogador do Real Madrid e do Barcelona gostaria de jogar em um time do Brasil um dia. Pela torcida, pelos estádios cheios, pela adrenalina, os campos, e por como é reconhecido o jogador de futebol no Brasil. É o país mais 'futebolizado' do mundo. Um jogador de primeira divisão do Panamá adoraria jogar e ganharia mais dinheiro na terceira divisão do Brasil", diz.
Mas por enquanto sua realidade é mesmo o futebol do Panamá.
"No futebol eu tive mais experiências amargas do que boas, e acho que é a mesma realidade de todo jogador panamenho. O futebol do Panamá não é nada. Os campos não estão adaptados a um futebol de primeiro nível. Penso eu que depois da ida à Copa da Rússia o futebol ia avançar estruturalmente, desde a federação até os jogadores, mas não tem sido assim. Por parte dos jogadores, sim, mas por parte dos dirigentes da federação do Panamá, está estancado."
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