Ex-Grêmio, C. Miguel rebate fama de 'chinelinho': "lesões eram comprovadas"
Ídolo e campeão de quase tudo pelo Grêmio, Carlos Miguel passou por poucos clubes em sua carreira. Um deles foi o São Paulo, onde precisou lidar com a fama de "chinelinho" por conta da sequência de lesões que até então não haviam atrapalhado a sua carreira. Hoje com 44 anos, o ex-volante, que atualmente trabalha como comentarista na Rádio Grêmio, recorda a época que atuou na capital paulista e desmente o rótulo que o acompanhou na equipe tricolor.
Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, ele ainda relembra o Mundial de 1995, em que o Grêmio acabou derrotado nos pênaltis pelo Ajax, da Holanda, de forma injusta, em sua opinião. Carlos Miguel fala também sobre Felipão, a passagem pelo Inter, seleção brasileira e o que pretende para o futuro – trabalhar com categorias de base está em seus planos.
Chinelinho? Exames comprovam que não
“A questão de chinelinho... Existe exame para detectar a lesão. Chinelinho é aquele jogador que faz exame e mesmo assim ainda não fica comprovada a lesão, e mesmo assim o jogador não joga, mas as minhas lesões eram comprovadas, eu fazia exames e tal, é a vida do corpo. Existe jogador que, infelizmente, depois de certa idade, começa a ter este tipo de problema. Eu vou dar um exemplo: o Maicon, volante do Grêmio, tem este tipo de coisa. No ano passado ele teve duas ou três lesões musculares e é um jogador novo. É o organismo de cada jogador, porque até problema de você ter cárie nos dentes ajuda a você ter lesão muscular, então tem muita coisa que envolve tudo isso. E a notícia sai: ‘jogador está machucado’, mas não vê, não vai atrás, às vezes o próprio clube divulga somente uma nota, então é difícil, mas este tipo de problema comigo, de chinelinho, eu nunca tive, graças a Deus. Não aconteceu. Em nenhum clube que passei tive a situação de pegar na bola e ser vaiado, nunca”.
Lesões demoraram, mas incomodaram bastante
“Eu tive algumas [lesões]. Para se ter uma ideia, a minha primeira lesão muscular foi em 98, com 28 anos, foi a minha primeira lesão muscular que eu tive na carreira, no São Paulo. O meu pior momento mesmo foi no segundo semestre, no Internacional [em 2002], que aí sim eu tive três lesões musculares, uma atrás da outra. Eu voltava, jogava uma partida, no máximo duas, estourava outro lugar... Aí foi ruim pra mim. O último clube que eu joguei foi o Corinthians de Alagoas, em 2006. Eu queria ter jogado mais, mas as lesões musculares me atrapalharam”.
O início no Grêmio: títulos e mais títulos
“Eu subi para o profissional em 93, e de 93 eu fiquei até 97 no profissional, e todos os anos sempre com títulos, muitas lembranças. É difícil você separar uma. Passou muita gente boa, mas é lógico que o que marcou muito foi aquele time de 95 a 97, aquele time sem dúvida foi, quem sabe, de todos o mais conhecido. Faltou o Mundial, foi uma pena perdermos nos pênaltis para o Ajax da Holanda [0 a 0 no tempo normal e prorrogação e 4 a 3 nos pênaltis para o Ajax]. Infelizmente é o que faltou no currículo da gente”.
Mundial: Grêmio foi superior e faltou a bola entrar
“Faltou colocar a bola para dentro. Eu me lembro muito bem... Nós fomos campeões da Libertadores e, quando saiu o Ajax campeão da Liga dos Campeões, o Ajax estava há 60 jogos invicto, e os caras falavam: ‘Ah, o Grêmio não vai aguentar dez minutos contra o Ajax’, a imprensa do Rio e de São Paulo não dava menos de três para o Ajax, e o Ajax era quase a seleção holandesa de futebol. Mas nós nunca deixamos de acreditar, nós sabíamos do nosso potencial, da nossa limitação, e sabíamos que podíamos beliscar, e aconteceu o que aconteceu: foi um jogo muito equilibrado e penso que tivemos as melhores chances para fazer o gol, e jogamos praticamente o segundo tempo e toda a prorrogação com um homem a menos, o Rivarola foi expulso de campo logo no começo do segundo tempo. Ele foi expulso pelo telão, porque o juiz olha para o telão para expulsar o Rivarola na jogada anterior, e mesmo assim nós tivemos duas chances de gol para fazer e matar o jogo”.
Felipão foi fundamental na carreira
“O Felipão cobra como qualquer treinador. Ele tem aquele gênio forte, mas é um paizão, e ele foi muito importante para mim, para o meu crescimento, para eu poder me soltar mais, e eu só tenho a agradecer a ele por tudo que fez comigo. É uma pessoa formidável, ele é um paizão mesmo, a gente lamenta não ter conquistado o Mundial, até por ele. Ele falava pra mim: ‘Você, o Arilson’, depois o Emerson, ‘são os caras que vão fazer o meu time andar’. Ele falava: ‘Tem que ter tranquilidade, procurar não se afobar na parte emocional’. Ele me ajudou bastante, foi fundamental para o meu crescimento também”.
São Paulo: a felicidade de jogar ao lado de Raí
“Para mim foi muito legal, foi uma fase nova. Eu fiquei muito feliz, até por jogar ao lado do Raí... Pô, o Raí sempre foi uma referência para mim, jogador de muita qualidade, e eu estar jogando com ele foi uma coisa muito legal. E a equipe do São Paulo era muito boa, tinha o Serginho, Denílson, França, Rogério Ceni, Márcio Santos na zaga, era um time formidável. Então foi uma experiência muito legal, uma época boa. Eu fico muito feliz e tenho o maior carinho pelo São Paulo, foi um clube que me tratou bem e eu tenho o maior respeito”.
Imprensa e torcida: as diferenças entre RS e SP
“Existem duas coisas diferentes: aqui em Porto Alegre a pressão é muito mais da imprensa do que de torcida. São Paulo me parece ser ao contrário, a torcida parece que toma a frente, faz as cobranças, e a imprensa fica mais de fora. Eu acho que essa foi a grande mudança [na chegada ao São Paulo]. Você podia encontrar jornalistas nas ruas ou em algum lugar, e em nenhum momento de conversa era falado de futebol, então existia esse respeito. Eu sentia mais respeito da imprensa e a cobrança realmente era da torcida mesmo, a torcida cobra muito mais do que propriamente a imprensa de São Paulo”.
Seleção brasileira: o auge da carreira
“Foi [auge], eu estava bem e foi uma surpresa para mim, ainda mais na minha posição, era mais difícil, o que não faltava era jogador de qualidade. O que me ajudou foi que o Leão [então técnico da seleção] optou por jogadores que atuavam no Brasil. O Zé Roberto infelizmente acabou se machucando e o Leão acabou me chamando para a Copa das Confederações (de 2001)”.
Não convocação para a Copa de 2002 foi justa
“Aquele grupo pegou uma fogueira, né, porque se ganha não faz mais que a obrigação, e se perde você ia ver o que ia acontecer. O Brasil naquele momento estava uma turbulência e eu não tinha como brigar com o Rivaldo, você tinha Djalminha, Alex, jogadores que estavam no auge, o Rivaldo na melhor forma dele, no Barcelona, era difícil para a minha posição, foi isso que aconteceu, o peso de jogadores que estavam fora do Brasil. Se eu estivesse jogando mais que o Rivaldo eu até poderia ficar chateado, mas a fase do Rivaldo era extraordinária, o cara estava melhor que eu mesmo, o cara estava no Barcelona, arrebentando e isso pesa muito, então eu não fiquei chateado, não, muito pelo contrário. Eu sou muito consciente, sempre procurei refletir bastante sobre o momento de cada jogador e, naquele momento, o Rivaldo estava muito acima”.
A passagem pelo Inter e a volta complicada para o Grêmio
“Eu conversei com o Grêmio antes do Internacional me procurar, sem saber que eu ia para o Internacional, mas na época o Grêmio estava com o Rodrigo Fabri, tinha o Gilberto, ex-lateral esquerdo que estava jogando na meia e jogando muito bem. Não deu certo eu voltar para o Grêmio, e surgiu a oportunidade no Internacional. Foi um primeiro semestre muito bom, fomos campeões gaúchos, eu estava bem, jogando bem, mas quando chegou o segundo semestre foi o pior semestre da minha carreira, pode ter certeza. Por causa das lesões eu não consegui jogar. Depois, em 2003, eu voltei para o Grêmio, foi um ano muito difícil. Eu tive que fazer um trabalho especial por causa das três lesões musculares anteriores no Internacional, e foi um ano muito ruim do Grêmio, tanto é que aquele ano quase caiu, e no outro ano não aprendeu e caiu no ano seguinte [2004]. E o que aconteceu naquele ano fez realmente eu parar de jogar porque depois, no segundo semestre de 2003, no Grêmio, vieram novamente as lesões musculares. Aí começaram a pesar muitas coisas e eu falei pra mim mesmo: ‘acho melhor eu parar’, aí eu falei: ‘deixa eu parar por cima, o nome ainda está forte, está legal, mas eu vou parar porque eu não vou conseguir jogar’. Então eu fiquei no Grêmio até o final de 2003, então em 2004 eu não fui rebaixado com o Grêmio, graças a Deus no meu currículo não tem rebaixamento”.
Comentarista na Rádio Grêmio e planos para o futuro
“Quando eu parei de jogar eu fiquei dois, três anos sem querer saber de futebol, nem olhava jogo para se ter uma ideia, e hoje eu estou de comentarista na rádio do Grêmio. Eu consigo entender o momento do jogador quando a fase está ruim, eu passo para os torcedores: ‘não é aquilo que vocês estão pensando’, pela experiência que a gente teve, mas é um pouco diferente porque é rádio do Grêmio, é só Grêmio, a gente não fala do adversário, a gente só fala do Grêmio. Fazemos os jogos, tem uma audiência muito legal, tem sido uma surpresa muito agradável para gente e estamos aqui, este ano temos de novo, estamos preparados para mais uma temporada, eu e o Mazzaropi, ex-goleiro, somos os comentaristas”.
“Eu nunca me preocupei em: eu quero jogar bem porque eu quero ir para o Barcelona. Não. Eu quero jogar bem porque futuramente pode aparecer coisa melhor, e é a mesma coisa agora, procurar naturalmente, deixar a coisa acontecer naturalmente, mas também tenho um pouco vontade de trabalhar com a categoria de base. Eu penso que a gente tem bastante coisa para oferecer, mas isso é outro assunto, terei que conversar com o pessoal do Grêmio, mas eu gostaria muito poder passar para essa gurizada tudo o que a gente aprendeu dentro de campo, é um sonho que eu tenho”.
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