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Brasileiro reforça a seleção argentina e busca mundial sob piadas do 7 x 1

Bruno Gabrieli é analista de desempenho da seleção argentina sub-20 - Arquivo Pessoal
Bruno Gabrieli é analista de desempenho da seleção argentina sub-20 Imagem: Arquivo Pessoal

Eliano Jorge

Colaboração para o UOL

18/01/2017 04h00

Todas as demais pessoas ali são argentinas, e isso fica claro nas provocações sobre a nacionalidade de Bruno Gabrieli. Mas ninguém tem dúvidas sobre a que ele se refere quando fala "nossa seleção".

"Aqui não me coloco como brasileiro. Trato de ser mais um. Quero ser campeão do mundo. Estou vivendo algo único, trabalhar em uma seleção, ainda mais sendo brasileiro aqui", afirma o paulistano de 32 anos, funcionário licenciado do Argentinos Juniors e, desde outubro, analista de desempenho da equipe da Argentina que disputará o Campeonato Sul-Americano Sub-20, no Equador, desta quarta-feira a 11 de fevereiro.

Marido de uma argentina e pai de um argentino de dois anos e meio, ele possui visto de residência permanente e um leve sotaque portenho. Além, claro, de um novo orgulho: o diretor de seleções Omar Soto lhe garantiu que nenhum outro estrangeiro trabalhou com os selecionados da Associação do Futebol Argentino (AFA).

Mas é preciso aturar brincadeiras por causa da rivalidade esportiva entre os dois países. "Sim, sempre. Piadas, o maldito 7 a 1", diz. Até gracejam que existe na delegação um possível espião brasileiro, mas Gabrieli nega que tenha percebido qualquer desconfiança ou resistência em relação a ele por causa da origem. "Conhecem meu trabalho e confiam", relata. "Na seleção nunca aconteceu, mas, se alguém exagerar com alguma brincadeira, eu já corto e exijo respeito. Marco a distância do profissionalismo".

É esperado um clássico para o hexagonal final do Sul-Americano, que distribui quatro vagas para o Mundial Sub-20 deste ano, na Coreia do Sul. Gabrieli já imaginou a situação: "Vai ser estranho porque sempre torci para a Seleção e quero que o Brasil se classifique, mas, quando cruzar com ele, quero ganhar. Quero ser campeão sul-americano, estou trabalhando muito para isso. Quando você trabalha com futebol, coloca em primeiro lugar seu trabalho, deixa de ser torcedor. Não quero associar minha imagem com o Brasil".

Uma das suas tarefas, aliás, é estudar adversários, como a seleção brasileira. Ele filma treinos e jogos, avalia, escolhe e edita momentos. "Levo os problemas e coisas boas ao técnico. Análise do nosso time, análise dos rivais, bola parada, trechos individuais dos jogadores", conta. Os atletas também assistem a videoteipes específicos.

Nova carreira 

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Imagem: Eliano Jorge/UOL

Formado em Fotografia, Bruno Gabrieli trabalhava com a mãe no estúdio fotográfico deles em São Paulo. Até que conheceu a Argentina em julho de 2011, como turista, durante a Copa América vencida pelo Uruguai. Em fevereiro de 2012, emigrou para Buenos Aires para mudar completamente de vida. 

Conseguiu um estágio como auxiliar do treinador e do preparador físico do time sub-18 do River Plate, a partir de contatos feitos na graduação como técnico de futebol, que acabava de concluir na terra natal. Durou apenas um mês a experiência numa das categorias de base mais respeitadas do mundo. Mas em seguida ele passou para outro famoso berço de craques, o Argentinos Juniors, que revelou nomes como Maradona, Riquelme, Redondo, Sorín e Cambiasso.

Gabrieli foi indicado ao "Bicho" pelo ex-jogador Adrián Domenech, que o conheceu quando coordenava as divisões inferiores do River. O paulista virou auxiliar de campo e editor de vídeos em duas categorias. Trabalhou com nomes de peso. Fez parte da estrutura coordenada por Hugo Tocalli -- auxiliar de José Pekerman em três títulos mundiais sub-20 e treinador campeão em 2007.

Começou a participar da comissão técnica do time profissional na segunda divisão do Campeonato Argentino, na época do retorno de Riquelme, sob comando de Claudio Borghi e depois Néstor Gorosito. Passou a dirigir treinos na base e se tornou o responsável pela equipe sub-15. Também deu aulas de análise de desempenho na escola central da Associação de Técnicos do Futebol Argentino.

Com a mudança nas comissões técnicas das seleções argentinas, foi convidado por Fernando Batista, que havia coordenado a base do Argentinos Juniors e agora é auxiliar do técnico Claudio Úbeda, de 47 anos, na sub-20. Gabrieli assinou contrato de três meses com possível extensão de um ano.

Feliz pelas oportunidades surgidas, ele não revela metas para sua carreira: "Eu me dedico, e as coisas vão acontecendo. Tenho sonhos, quero trabalhar muito tempo aqui na seleção (argentina), em clube grande, Europa, futebol brasileiro, seleção brasileira. Mas vou trabalhando e me preparando. Se eu estiver à altura, as coisas vão acontecer".

O torneio

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Imagem: Eliano Jorge /UOL

Vencedora do Sul-Americano anterior, em 2015, no Uruguai, a Argentina estreia contra o Peru na quinta-feira, pelo Grupo B. Ainda enfrentará uruguaios, bolivianos e venezuelanos na primeira fase. No Grupo A, estão Brasil, o anfitrião Equador, Colômbia, Chile e Paraguai.

Os argentinos fazem suas maiores apostas no volante Santiago Ascacíbar, do Estudiantes, no meia Ezequiel Barco, do Independiente, no atacante Lautaro Martínez, do Racing, e no zagueiro Cristian Romero, do Belgrano.

São desfalques por lesão o meia Ezequiel Palacios, do River Plate, o volante Purita, do San Lorenzo, e o lateral direito Kevin Mac Allister, do Argentinos Juniors.

Das 27 edições da competição continental, o Brasil detém 11 títulos. O Uruguai, sete. A Argentina, cinco. A Colômbia, três. O Paraguai, um. Porém, os argentinos são os maiores campeões mundiais da categoria, com seis conquistas, uma a mais do que o Brasil.