Técnico inova com canto evangélico em preleção: "preciso fazer diferente"
Ele ainda está longe de ser um treinador famoso, a não ser entre os torcedores mais assíduos do Sport ou os que acompanham o futebol de base de Pernambuco ou do Brasil. Mas Júnior Câmara, atual técnico do time sub-17 do rubro-negro pernambucano – que inclusive está com um pé nas finais da Copa do Brasil da categoria – não esconde o sonho de brilhar na profissão que já exerce há quase 15 anos, seja no campo ou nas quadras. Para isso, tornou-se um estudioso do futebol, faz cursos e é dono de uma preleção (e de uma voz) de chamar a atenção.
Nos jogos mais decisivos e que requerem uma ‘chacoalhada’ maior nos jogadores, Júnior Câmara vira basicamente um artista. Usando Deus como sua maior motivação e inspiração, fala com propriedade aos jogadores e, quando preciso, canta (como no vídeo acima).
Sempre tenho comigo minhas convicções: que preciso ser inovador e ter características que diferenciem no mercado”
“Não conheço alguém que faça isso. Na verdade tenho feito isso sempre que chego em finais de grandes competições. Não acontece sempre, né? [risos]”, afirma Júnior Câmara em entrevista ao UOL Esporte. “É algo muito nosso, sabe? O grupo me dá liberdade para que isso aconteça. Existe um ambiente propício a isso. Como todo ser humano, eu tenho meus pressupostos que fundamentam meus pensamentos e ações. E meu maior pressuposto é a existência de Deus. Daí decorre tudo que penso e faço”, acrescenta o treinador.
A cada partida, Júnior Câmara prepara dois ‘discursos’ para seus jogadores: um tático, sobre o jogo, e outro motivacional, para inflamar os jogadores e dar-lhes um ânimo a mais para o jogo.
As minhas equipes podem, sem problema nenhum, serem formadas por 11 jogadores ateus. Essa não é a questão. O que não posso é dissociar quem sou do que faço”
“Eu divido minhas preleções em duas partes. Normalmente os jogos acontecem à tarde ou noite. Aí pela manhã faço a preleção que chamo de estratégica, onde nós definimos tudo sobre o confronto. E momentos antes do jogo eu faço a preleção motivacional. E uma dessas ficou conhecida por muita gente. Nessa preleção motivacional eu vou apenas com a ideia. Mas procuro não desenvolver tudo antes, pois eu preciso também estar envolvido pelo momento. Acho que fica muito mais significativa”, conta o técnico sub-17 do Sport.
Tenho chamado a atenção de todos aqueles que me encontram no mundo do futebol."
Salto na carreira
A ideia do canto evangélico e da pregação entra até como um diferencial para a carreira, segundo o próprio Júnior Câmara, que sonha um dia treinar o time principal do Sport.
“Hoje vejo que o que está mais próximo de mim é crescer no grande clube que estou. E sempre tenho comigo minhas convicções: que preciso ser inovador e ter características que diferenciem no mercado”, diz o técnico, que aos poucos vem ganhando destaque pelo que faz.
“Tenho chamado a atenção de todos aqueles que me encontram no mundo do futebol. Tenho sido aqui em Pernambuco apontado com uma futura promessa de grande treinador brasileiro. Tenho me qualificado muito, gosto muito do que faço”, garante Júnior Câmara, que entre técnico de futsal e de futebol de campo soma quase 15 anos. E sempre buscando evoluir.
“São dez anos como treinador de futsal, três títulos nacionais. Em 2011 fui eleito o melhor treinador de Pernambuco, e em 2013 fiz minha transição para o futebol de campo, e deixei o futsal. Tenho quase 15 anos como treinador. Tenho 36 anos, sou casado há dez anos e tenho duas filhas lindas, uma de oito e uma de quatro”, diz. “Fiz minha pós-graduação na Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais, que é uma referência. A única pós-graduação em futebol que existe no país. Ela é muito respeitada no meio do futebol”, declara.
Estilo de comando não é problema entre os jogadores
Ao longo da carreira, Júnior Câmara já teve de lidar com jogadores dos mais variados ‘estilos’, inclusive alguns não tão religiosos como ele. Para o técnico, porém, seu trabalho continua o mesmo independente da religião ou crença dos atletas – até mesmo estes sendo ateus.
“Não tem problema porque um dos pressupostos que tenho é que a Bíblia fala que Deus se revela às pessoas, e não acontecerá por causa de mim. Então nunca forço situações. Procuro as oportunidades naturais; Pessoas que procuram ou contextos propícios. As minhas equipes podem, sem problema nenhum, serem formadas por 11 jogadores ateus. Essa não é a questão. O que não posso é dissociar quem sou do que faço”, pontua o comandante do Sport sub-17.
Idolatria por Pep Guardiola
A principal inspiração de Júnior Câmara dentro das quatro linhas vem de longe – da Europa. Para ele, Josep Guardiola, ex-treinador de Barcelona e Bayern de Munique e futuro comandante do Manchester City, é o exemplo a ser seguido no futebol. O livro sobre o técnico (Guardiola Confidencial) já foi, em suas próprias palavras, ‘devorado’: “Li em dois dias [risos]. Devorei aquelas 500 páginas. Ele é espetacular. Tenho um grande sonho em conhecê-lo”.
Já no Brasil, Júnior Câmara não esconde a admiração por um técnico da nova geração, apenas seis anos mais velho que ele. “No Brasil... Nenhum tem a minha admiração no nível do Guardiola, mas as melhores ideias no Brasil estão com o Fernando Diniz”, acrescenta.
O grupo me dá liberdade para que isso aconteça"
O Sport, time comandado por Júnior, faz nesta quinta-feira o segundo jogo da semifinal da Copa do Brasil sub-17. No primeiro, goleada de 4 a 1 sobre o Fluminense, resultado que deixou o time pernambucano em ótima situação para a partida decisiva na Ilha do Retiro (às 16h).
“Estamos preparados. Na verdade já fizemos história. Essa campanha é a maior em 111 anos de clube. E estamos preparados para ir ainda mais longe”, completa Júnior Câmara.
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