Maestro do Santos superou bullying, choros e hoje joga por irmão especial

O meia Lucas Lima, um dos principais destaques do Santos na temporada, superou muitas adversidades na carreira até chegar à função de “maestro” da equipe santista. O camisa 20, inclusive, sofreu bullying por causa de seu porte físico franzino. “Tive dificuldades por isso. Uns diziam que eu só tinha cabeça, me chamavam de magrelo”, diz.

Lucas Lima só não foi dispensado da Inter de Limeira, pois o técnico Lelo, que comandava o time do interior na época e hoje dirige o Primavera de Indaiatuba, pediu para os dirigentes apostarem em sua qualidade técnica.

Além de superar a questão do porte físico, Lucas Lima teve dificuldades para engrenar em um clube no interior de São Paulo. O meia, que defendeu Rio Preto, América, José Bonifácio e Inter de Limeira, teve que superar dispensas durante a carreira e até noites de choro.

“Fiquei muito triste quando saí do Rio Preto. Liguei para o meu pai, chorei muito, mas meu pai me fortaleceu. Eu tinha 17 anos e achei que tinha acabado. Eu fui mandado embora, fui pego de surpresa. Foi o dia que eu chorei bastante. Fui dispensado. Fui um dia triste”, disse.

Hoje, Lucas Lima é titular absoluto do Santos. O atleta, que comanda o meio-campo do time, também mostra seu perfil de liderança fora dos gramados. Isso porque o meia é o principal responsável por cuidar de seu irmão especial, João Pedro.

Da modesta Inter de Limeira, Lucas Lima se transferiu para o poderoso Internacional-RS. No entanto, o meia quase não foi aproveitado por Dorival Júnior, Fernandão e Dunga, que comandaram o time gaúcho na passagem do meia. Após ser rebaixado ao time sub 23, principalmente para fazer um trabalho de ganho de massa muscular, o atual "maestro do Santos" foi emprestado ao Sport em 2013.

Lucas Lima despertou a atenção do Santos após se destacar no clube pernambucano. O meia marcou sete gols em 47 jogos disputados na temporada passada. A diretoria santista contou com a ajuda do grupo de investidores maltês, Doyen Sports, para comprar 40% dos direitos econômicos do jogador por R$ 5 milhões. Em 33 partidas, o meia marcou quatro gols e deu sete assistências.

Confira a entrevista completa do meia Lucas Lima:

UOL Esporte: Qual o momento mais triste de sua carreira?
Lucas Lima: Fiquei muito triste quando saí do Rio Preto. Liguei para o meu pai, chorei muito, mas meu pai me fortaleceu. Eu tinha 17 anos e achei que tinha acabado. Eu fui mandado embora, fui pego de surpresa. Foi o dia que eu chorei bastante. Fui dispensado. Fui um dia triste.

UOL Esporte: O técnico Lelo, que trabalhou contigo na Inter de Limeira, disse que você sofreu por causa do estilo franzino. É verdade?
Lucas Lima: Ainda sou meio franzino, mas era muito mais. Na Inter, na segunda divisão, diziam que eu não ia aguentar, mas o presidente viu que eu era técnico, me bancou, e pediu para não mexerem comigo. Tem dificuldades sim (ser franzino) por não se forte, mas tentei levar pela qualidade. O Lelo viu muito bem isso. Ele me ajudou muito. Espero que ele leia essa entrevista, sou muito grato a ele.

UOL Esporte: Já foi chamado de filé de borboleta como o Neymar no início de carreira?
Lucas Lima: Filé de borboleta não, mas diziam que eu só tinha cabeça na época, me chamavam de magrelo, isso faz parte.

UOL Esporte: Você cuida de seu Irmão, o João Pedro. Como você encara essa responsabilidade?
Lucas Lima: Eu jogo muito por ele. Eles são à base de tudo (família). Meu irmão, meu pai e minha mãe. Sempre me deram o máximo de suporte. Eu jogo muito pelo meu irmão. Estão sempre aqui me apoiando, me fortalecendo mais.
Ele (irmão) é especial. Quando pequeno, ele teve crises convulsivas, teve que operar, afetou um pouco a fala dele, ele fala poucas palavras, tem dificuldades, é uma benção na minha vida e da minha família. Todos têm uma responsabilidade a mais com ele. Ele é inteligente, sempre procuro dar uma volta com ele, para ele ver meus jogos. Ele é minha vida.

UOL Esporte: Por que você não vingou no Internacional-RS?
Lucas Lima: Não tive sequência de jogos. Quando subi, eu não tinha experiência de uma Série A. Jogava um jogo de titular e o outro já estava no banco. No Sport eu joguei mais de 50 jogos. Com sequência e confiança dá para mostrar o futebol. Quem me subiu foi o Dorival Júnior, depois o Fernandão me utilizou, e quando saí, o treinador era o Dunga. Eu cheguei numa avaliação no time B, eu me destacava e ele (Dorival) acabou me subindo. Joguei dois jogos. Tive a oportunidade de ser titular com o Fernandão. Mas depois fui ao Sport, foi a melhor escolha.

UOL Esporte: Você foi preterido pelo Dunga no Inter. Fica mais distante a seleção brasileira hoje?
Lucas Lima: Meu sonho maior é a seleção brasileira, com certeza. Minha saída, não sei se teve a influencia dele. Duro falar. Tudo aconteceu do jeito que tinha que acontecer. Estou muito feliz, estou em um clube grande, o Santos, está crescendo meu futebol. Pode ser mais fácil (Dunga na seleção), vai depender de mim. Se o nosso time estiver lá em cima, a parte individual vai se destacar.

UOL Esporte: Você sentiu a pressão de fazer a torcida do Santos esquecer o Ganso?
Lucas Lima: Achei sim (pressão para substituí-lo). O Ganso marcou muito e quando ele saiu sempre que aparecia um meia era para substituí-lo, sabia da responsabilidade, mas sabia do meu valor também. Muitos não acreditavam em mim, mas tive a confiança da minha família, de todos aqui. Agora tudo está acontecendo profissionalmente. Quero ser campeão aqui e fazer o meu nome.

UOL Esporte: Você acredita que fez a torcida esquecer o atual camisa 10 do São Paulo?
Lucas Lima: Tento não pensar muito nisso (fez a torcida esquecer o Ganso). Fico feliz pelo meu trabalho estar sendo reconhecido. Fico contente. É trabalhar e não deixar a peteca cair.

UOL Esporte: Assim como o Ganso, você acredita que precisa entrar mais na área?
Lucas Lima: Todo treinador sempre pede para eu entrar na área. Eu venho me cobrando mais para entrar na área, chutar ao gol, e não ficar apenas dando o passe. Meu futebol vai crescer muito com os gols. O meia que faz gols é mais completo ainda. Os melhores do mundo fazem gols e dão passes.

UOL Esporte: Você quase saiu da Inter de Limeira para jogar no Racing Santander, da Espanha?
Lucas Lima: A gente (Inter de Limeira) fez uma excursão para lá, eles gostaram de mim, aguardei até o último dia de inscrição do campeonato, porque eles podiam inscrever mais um estrangeiro no profissional e na base precisava de passaporte. Eles contrataram outro estrangeiro para o profissional e não fiquei no time B.

UOL Esporte: Ficou frustrado?
Lucas Lima: Deu uma frustração sim. Tive que voltar para Inter, voltar ao começo, olhar para trás. E enfrentei isso depois...

UOL Esporte: Você é santista desde criança e até se defendeu de gozações por isso?
Lucas Lima: Sempre tive carinho. Sempre tem uns palhaços que tiram onda, mas isso é normal, e o Santos sempre esteve numa fase boa. A minha estreia pelo Inter me marcou muito, mas pelo Santos ainda mais. Jogar no clube do maior de todos (Pelé).