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Gigantes encolhem e França de hoje tem chance de ser o Brasil de ontem

França volta a frente no placar - Getty Images
França volta a frente no placar Imagem: Getty Images

Tales Torraga e Rodrigo Mattos

Colunista do UOL, em São Paulo e em Doha

10/12/2022 19h41

Classificação e Jogos

As semifinais da Copa do Mundo do Qatar foram definidas hoje (10) e os saudosistas constataram de vez que potências da bola como o pentacampeão Brasil e Alemanha e Itália (ambas tetra) andam cada vez menores no evento máximo do futebol.

A exemplo do que ocorreu em 2018, o trio que lidera a lista de títulos em Copas está ausente da nova briga pela taça. No Qatar, ela se restringe agora a duas seleções que já foram campeãs, França e Argentina, com duas conquistas cada.

Do outro lado estão dois países que tentam conquistar o Mundial pela primeira vez, casos de Marrocos e Croácia — os europeus têm no currículo o vice de 2018 e o terceiro lugar de 1998, naquela que foi sua primeira participação em Mundiais.

Na França, a vitória diante da Inglaterra foi bastante comemorada, mas o atacante Giroud pregou seriedade para que a seleção tenha sucesso nos dois jogos restantes. "Esse time tem a mentalidade de 2018. É um grupo que merece estar aqui na semifinal", disse, numa referência ao título da última edição.

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França e Inglaterra se enfrentaram pelas quartas de final da Copa do Mundo
Imagem: GettyImages

França de hoje tem chance de ser o Brasil de ontem

Há uma referência precisa para situar a fase vivida pela seleção francesa. Com a vitória de hoje sobre a Inglaterra e a ida às semifinais, ela passa a ficar a apenas dois jogos de atingir um feito que apenas duas seleções conseguiram em todos os 92 anos de história das Copas (os Mundiais são disputados desde 1930).

As únicas bicampeãs de fato, que repetiram o título em edições seguidas, são a Itália que jogou para o fascismo, em 1934 (em casa) e 1938 (na França), e o Brasil de Pelé e Garrincha, que dobrou a conquista em 1958 (Suécia) e 1962 (Chile).

O que torna a fase francesa ainda mais especial é a possibilidade de tal feito ser obtido na era mais profissional e competitiva do futebol em todos os tempos. "No passado, os times campeões tinham dificuldades de ir bem no Mundial seguinte. Nós conseguimos ir bem. Mas ainda temos um jogo na quarta-feira", avisou Didier Dechamps, técnico da França, reforçando que respeita muito Marrocos, rival da semifinal na Copa.

No distante caso da Itália, bi na década inaugural dos Mundiais. Em 1934 a Copa foi vencida em sistema de disputa que previa apenas um mata-mata de 16 seleções. A "Azzurra" fez quatro jogos. Em 1938, no mesmo formato, veio o bi, com países como a Inglaterra se recusando a participar do Mundial. Foram apenas quatro jogos em cada uma das campanhas.

O caso do Brasil, duas décadas depois, teve um sistema de disputa diferente, com fase de grupos, mas também com 16 países participantes em 1958 e 1962, com seis jogos cada campanha.

A conquista que a França busca agora viria depois de extensas Eliminatórias e de um Mundial com 32 seleções, precisando de sete jogos (três pela fase de grupos e quatro em mata-matas) para sagrar-se campeã.

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França x Argentina: Messi, Griezmann e Pogba
Imagem: FIFA/FIFA via Getty Images

Caminho até a taça

A definição das semifinais traz bons motivos para o torcedor francês ficar otimista com a repetição do título de 2018, conquistado na Rússia.

Primeiro, a França na semifinal encara Marrocos. As duas vitórias anteriores, contra Espanha e Portugal, exigem cautela dos franceses, mas o desempenho na própria semifinal, superando a forte Inglaterra, constata a força de um elenco que mescla experiência e jovialidade em doses precisas.

Passando por Marrocos e chegando à decisão, a França reencontraria Argentina ou Croácia. Ambas as rivais foram superadas com certa comodidade por Mbappé e companhia na campanha do título de 2018. "Não estamos na final ainda. Estamos na semifinal, não vamos subestimar nossos adversários", avisou Tchouaméni.

Nas oitavas de final, contra a Argentina, a França fez três gols em apenas 11 minutos, e o placar final, de 4 a 3 para os "Bleus", não representou a real diferença entre as equipes.

Depois de emplacar quatro gols na Argentina, a França voltou a fazer quatro na Croácia, na decisão que vencia por um cômodo 4 a 1 até sofrer o gol que decretou o 4 a 2 final.

Curiosidade histórica: os dois títulos da França foram com vitórias folgadas. Além do 4 a 2 na Croácia, teve também o implacável 3 a 0 no Brasil na decisão de 1998, em casa.

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Didier Deschamps durante o jogo entre França e Dinamarca
Imagem: James Williamson - AMA/Getty Images

Deschamps busca espaço só seu

Até aqui, apenas três homens conquistaram a Copa do Mundo como jogador e treinador: o brasileiro Mário Jorge Lobo Zagallo (1958, 1962, como atleta, e 1970, como técnico), o alemão Franz Beckenbauer (1974 e 1990) e o francês Didier Deschamps (1998 e 2018), que luta pelo seu bi como técnico, algo com um único antecedente em toda a história.

O Brasil trocou de técnico de 1958 para 1962, saindo Vicente Feola e entrando Aymoré Moreira.

Desta forma, o único treinador a repetir a conquista foi o italiano Vittorio Pozzo, campeão em 1934 e 1938, e também ganhador da medalha de ouro na famosa Olimpíada de Berlim em 1936, disputada sob o olhar de Adolf Hitler.

Somando as duas conquistas, em um futebol muito diferente do que se é jogado hoje, sem número na camisa e sem cartões, por exemplo, Pozzo treinou a Itália por oito jogos.

Cada campanha de Deschamps contou com sete jogos, em dois continentes diferentes, mostrando que se esta França é uma seleção de destaque nos almanaques da Copa, o técnico também não fica atrás, merecendo ser olhado como um digno representante da linhagem dos melhores treinadores de todos os tempos.