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Pode gritar gol? Como foi ver o jogo do Brasil onde Pelé está internado

Equipamentos da imprensa na entrada do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, acompanhando a internação de Pelé durante o jogo da seleção brasileira - André Martins/UOL
Equipamentos da imprensa na entrada do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, acompanhando a internação de Pelé durante o jogo da seleção brasileira Imagem: André Martins/UOL

André Martins

Colaboração para o UOL, em São Paulo (SP)

06/12/2022 04h00

Classificação e Jogos

A seleção brasileira teve o mais ilustre de seus torcedores acompanhando o duelo das oitavas de final da Copa do Mundo do Qatar diretamente da zona sul de São Paulo. As redes sociais oficiais de Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, anunciaram que o rei do futebol assistiria ao duelo contra a Coreia do Sul no Hospital Albert Einstein, onde está internado desde a semana passada.

Além do Rei, outros torcedores acompanharam a partida no local. Como os membros da equipe que realiza o tratamento do câncer de cólon, diagnosticado em setembro de 2021, e a infecção respiratória que acometem Pelé; os funcionários e pacientes do hospital; os integrantes da imprensa nacional e internacional que acompanham diariamente as atualizações sobre o estado de saúde do maior jogador de todos os tempos. E a reportagem do UOL.

Pouco mais de meia hora antes do início da partida, a entrada do Einstein estava bastante movimentada — como de praxe em um hospital de tamanho porte em plena cidade de São Paulo. Um incessante fluxo de carros marcava a paisagem do local, trazendo e levando frequentadores do ambiente. Ontem (4), em especial, camisas do Brasil iam e vinham, com uma robusta equipe de manobristas coordenando o movimento.

Apesar da alta rotatividade, o local não ficava com menos de 30 pessoas em nenhum momento. O contingente era composto pelos cerca de 15 profissionais da imprensa que fazem plantão diariamente esperando por novidades do Rei em um cercadinho montado especificamente para isso. Com o horário do início da partida se aproximando, a entrada do Einstein começou a ficar, o tanto quanto possível, vazia.

Na portaria, não parecia que a Copa do Mundo estava rolando. Muito menos que teria jogo do Brasil ou que Neymar, recuperado da lesão no tornozelo direito, começaria como titular. A intensa rotina não dava trégua. Apenas algumas camisas verde e amarelas respiravam futebol. Não fossem as câmeras montadas e os profissionais a postos, mal parecia também que o maior jogador de todos os tempos, tricampeão do mundo, estava internado lá.

Por parte dos funcionários, a única vestimenta meramente representativa da seleção era o colete verde neon utilizado pelos manobristas, que corriam para lá e para cá como se estivessem atuando em campo. A chuva, como já tinha sido nos últimos dias, marcou presença antes mesmo de o jogo começar.

Bola rolando

No Estádio 974, em Doha, no Qatar, os jogadores já estavam perfilados perto das 16h (de Brasília). No Einstein, o movimento continuava, embora atenuado, enquanto a chuva apertava. As pessoas começavam a tentar encontrar uma forma de assistir ao jogo. Aqueles que acompanhavam pelo celular avisaram que o apito inicial tinha sido dado. "O primeiro a comemorar um gol da Coreia vai para a rua", brincou um segurança, na área da imprensa.

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Aparelho sintonizado na partida entre Brasil e Coreia do Sul, pela Copa do Mundo, na entrada do Hospital Albert Einstein
Imagem: André Martins/UOL

Já nos primeiros minutos do confronto das oitavas de final, a agitação costumeira do Einstein pareceu cessar, causando certa estranheza. As pessoas presentes fitavam fixamente o celular, vendo as ações iniciais da seleção. Não demorou para, do outro lado do mundo, o time comandado pelo técnico Tite motivar o primeiro barulho destoante naquele ambiente.

"Gol", anunciou aquele que tinha a conexão mais rápida. "Gol, gol, gol", entoaram outros, assim que o delay das transmissões era superado. 1 a 0 com sete minutos de jogo, pelos pés de Vini Jr. A euforia, no entanto, não se fez presente. Como hospitais são locais em que se preza o silêncio, não teve vez para nenhuma comemoração mais animada.

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Televisão montada para assistir a Brasil x Coreia do Sul no cercadinho da imprensa no Hospital Albert Einstein, em São Paulo
Imagem: André Martins/UOL

A relevância de Pelé fez com que a administração do Einstein tenha reservado uma área para a imprensa. Televisão, contudo, não foi considerada um item necessário para compor o ambiente. Os jornalistas ficaram no escuro sobre o jogo do Brasil até que uma tela de menos de 15 polegadas foi ligada, no decorrer da partida, pelos próprios profissionais. Todos rodearam o pequeno aparelho e assistiram atentamente ao duelo, que já se mostrava promissor.

Aos 13 minutos, veio o 2 a 0. Fogos de artifício ao longe anunciaram o placar ampliado para quem não estava no cercadinho. Segundos depois, veio a comemoração contida de profissionais da imprensa e de funcionários. A leve euforia foi brevemente interrompida pela assessoria do hospital, que correu para desmentir um boato sobre a morte do Rei. Asseguraram que ele passa bem.

A possível morte de Pelé já é um assunto que todos querem evitar em todo momento, mas ainda mais durante o maior evento do esporte.

Festa no Qatar, vida normal no hospital

A calmaria incomum que se viu na entrada do Einstein não durou muito mais do que meia hora. Junto do gol de Richarlison veio a normalização do movimento. Quem não estava na sala da imprensa mal soube que o Brasil ampliou o placar para 3 a 0.

Uma mãe e seu filho que estavam deixando o local se interessaram mais pela presença das câmeras e da imprensa do que pelo resultado do jogo. Quando foram informados de que toda a estrutura montada era devido à internação de Pelé, demonstraram preocupação com a saúde do Rei. Foram embora desejando melhoras.

O quarto e último gol brasileiro no duelo também foi comemorado de maneira tímida. O mesmo segurança que brincou sobre a reação a um eventual tento coreano no início do jogo "reprovou" a ampliação da goleada. "Meu bolão já foi pro saco", lamentou ele, já que tinha apostado no 3 a 0 para o Brasil

Com a vitória encaminhada da seleção, alguns repórteres começaram a fazer passagens ao vivo em suas emissoras. De volta ao cercadinho da imprensa, os profissionais eram constantemente lembrados a usar máscara. O espaço, afinal, não deixava de pertencer ao hospital.

A internação do ídolo brasileiro, apesar de sua importância, não resultou em efeito prático no cotidiano acelerado dos funcionários. "A diferença é que a gente sabe que o Pelé está aqui", contou Rodrigo, manobrista do hospital. Ele estava na portaria, mas não via a hora de descer com um carro para o estacionamento, onde tem uma televisão. A equipe faz um rodízio e aqueles que ficam no subsolo conseguem ver um pouco do jogo. Quando estão na portaria, o ritmo mal torna possível acompanhar pelo celular — mas eles tentavam.

Final de jogo, mas sem boletim

O gol de honra da Coreia trouxe certas lamúrias, mas a confiança não foi abalada. A classificação da seleção pentacampeã às quartas de final veio, mas o boletim médico, não. Como o tratamento de Pelé é longo e lento, o hospital aguarda respostas concretas para comunicar novidades à imprensa e ao mundo. Mas os comunicados da família e das redes oficiais do próprio Rei já trazem certa tranquilidade sobre a situação.

Após o apito final no Qatar, Neymar e Danilo, ex-santistas como Pelé, levaram uma faixa até o centro do campo. Chegando no círculo central, todos os jogadores da seleção brasileira a seguraram e prestaram uma homenagem ao Rei, que acompanhava tudo de seu quarto no hotel.

Os atos simbólicos, inclusive, estão sendo rotineiros no Einstein. Alguns fãs até tentaram visitar ou entregar presentes para o ídolo, mas não passaram da portaria. No domingo, cerca de 100 santistas fizeram uma vigília por Pelé e dois indianos foram "comprovar" que ele está vivo. O objetivo de todos é o mesmo: que o Rei tenha uma vida longa.

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