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Jornalista do UOL se machuca no Qatar e recusa ambulância para ver seleção

Vítor Lacerda

Do UOL, em Doha, no Qatar

01/12/2022 13h59

Classificação e Jogos

Em Copa do Mundo, se machucar é uma experiência pela qual nenhum jogador quer passar. Hoje, posso dizer que jornalista também. Aos 26 anos, e na minha primeira cobertura fora do Brasil com o UOL, engrossei a lista do departamento médico brasileiro.

Durante uma visita ao espaço Árvore dos Sonhos, da Conmebol, desafiei três sul-coreanos para uma partida de 2 contra 2. O problema era que vinha da praia e estava descalço. O resultado? Um dedo luxado e a experiência de assistir a um jogo da seleção brasileira de muletas.

O desafio aos coreanos

A partida era só de dois minutos e sem saída de bola. Assisti a uns três jogos antes daa nossa vez e me lembrei dos recreios da época da escola: uma muvuca de gente num espaço pequeno, todo mundo na bola ao mesmo tempo. Já avisei: "cuidado pra não me machucar, hein. O Tite já está sem o Neymar e o Danilo". Só esqueci de combinar comigo mesmo?

Apesar da precaução dos coreanos, me machuquei sozinho?

A quadra é cercada por grades, no melhor estilo cage de MMA. Tentei um drible e prendi meu dedo do pé na lateral. Dá pra compartilhar a dor comigo no vídeo. E, claro, continuei jogando.

pé - Vítor Lacerda/UOL - Vítor Lacerda/UOL
"Evolução" da luxação no pé
Imagem: Vítor Lacerda/UOL

Fui atendido por uma socorrista no Qatar

Assim que o corpo esfriou, a dor aumentou. Sorte que uma equipe médica tinha acabado de socorrer um rapaz com joelho deslocado na praça ao lado e ainda estava por lá. Sentei na mureta enquanto um amigo foi chamar uma das socorristas.

A profissional foi extremamente solícita e fez uma avaliação: pelas minhas reações ao movimento do dedo, não havia quebrado. Poderia ter trincado? Poderia, mas a maior probabilidade era uma luxação. Perguntou se eu tinha seguro viagem e se queria ir de ambulância até o hospital. Agradeci a avaliação, mas recusei.

Em Copa do Mundo, a gente vai no sacrifício

Fiquei com medo de engessarem meu pé e obrigarem repouso, nem que fosse por dois dias. No dia seguinte o Brasil jogava contra a Suíça. E, em Copa do Mundo, a gente vai no sacrifício mesmo.

Fui pra casa de táxi, fiz bastante gelo e dormi. Quando acordei, meu pé estava mudando de cor. Não dava mais para andar direito. Um vizinho indiano avisou: vai até a farmácia do City Center Mall, um shopping da região, que eles avaliam e mandam para um hospital, se precisar.

Mais uma vez fui atendido por uma profissional extremamente gentil, essa nascida no Nepal. Após toques e apertos, concluiu que eu estava com uma luxação, mesmo. O tratamento era anti-inflamatório com analgésico para a dor e uma imobilização no dedo machucado.

Mas, sabe como é: tinha jogo do Brasil? Recusei a imobilização naquele dia, então ela me ofereceu uma muleta e disse que eu estava pronto para ser o Neymar.

Indo para o estádio de cadeira de rodas

A partir daí começou a saga para chegar até o estádio 974. Em Copa do Mundo, as estações de metrô abertas ficam a uma certa distância do estádio. É uma medida para que a caminhada até o metrô ajude a dispersar as multidões e tornar possível que o sistema de transporte consiga lidar com o público. É por isso que em alguns jogos, levei mais de uma hora pra conseguir acessar o metrô na saída de uma partida.

Então, quando desci do metrô de muletas, percebi que estava do outro lado da rodovia. Teria de atravessar uma passarela e andar uns três quilômetros até o portão em que iria entrar no estádio. Foi aí que tive uma bela surpresa. Ao ver que eu estava com dificuldades para caminhar com as muletas, fui abraçado pela generosidade dos voluntários árabes: eles me colocaram primeiro em uma cadeira de rodas, que eles mesmos iam empurrando, até que apareceu um carrinho de golfe que me deixou em frente ao portão do estádio. Na volta foi exatamente a mesma coisa.

Se o caminho até o estádio foi na base da raça, em campo a coisa foi mais ou menos parecida. Com uma pitada de sufoco, Brasil 1 x 0 Suíça.

E tudo valeu a pena! Que venha Camarões!

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