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Como a Arábia Saudita surpreendeu a Argentina e derrubou os bolões

Salem Al-Dawsari comemora após marcar para a Arábia Saudita contra a Argentina - REUTERS/Marko Djurica
Salem Al-Dawsari comemora após marcar para a Arábia Saudita contra a Argentina Imagem: REUTERS/Marko Djurica

Thiago Arantes

Colaboração para o UOL, de Barcelona

22/11/2022 11h17

Classificação e Jogos

Argentina 1 x 2 Arábia Saudita. A primeira surpresa da Copa-2022. Uma das maiores zebras do futebol em todos os tempos. "Uma pancada Mundial", segundo o jornal Olé. A vitória dos sauditas pode ser vista de muitas formas, e quase todas elas tratam o resultado como fruto de acaso ou golpe de sorte. Mas o maior feito do futebol saudita também é fruto de trabalho e planejamento.

Uma olhada rápida na escalação do time mostra uma coletânea de desconhecidos, mesmo para o fã mais atento do futebol internacional. Os 26 convocados por Hervé Renard para a Copa jogam na liga doméstica, em times como Al-Hilal, Al-Nasr ou Al-Shabba. Mas o que poderia ser um problema, virou uma solução.

A seleção saudita começou os treinamentos para a Copa do Mundo há 40 dias, com um mês de vantagem sobre praticamente todos os adversários -entre eles, a Argentina. A Liga Saudita mudou o calendário para favorecer os clubes, o que deu a Renard, um experiente francês com extenso currículo, mais tempo para trabalhar.

Com mais sessões de treinamento e um grupo de atletas acostumado a jogar junto, Renard encontrou a receita ideal para fazer algo que nenhum treinador da seleção saudita havia conseguido nos últimos anos: criar um estilo de jogo e organizar estratégias específicas para cada adversário.

Contra os argentinos, por exemplo, chamou a atenção a linha de zagueiros adiantada. A ideia do treinador era, ao avançar o bloco defensivo, empurrar o limite do impedimento para longe da área. Assim, ele também levaria os atacantes argentinos -Lautaro Martínez, Ángel Di María, e principalmente Lionel Messi- para longe.

Era uma aposta arriscada, já que qualquer passe bem colocado pelos argentinos poderia deixar um rival na cara do goleiro Mohammed Al-Owais. Aconteceu três vezes no primeiro tempo, mas em todas elas o ataque entrou em impedimento. Foram três gols anulados, sendo um de Messi e dois de Lautaro Martínez, que acabou sendo "vítima" do novo sistema eletrônico da Fifa, que encontrou um pedaço do ombro do argentino à frente da linha defensiva. Foram 10 impedimentos argentinos ao final dos 90 minutos.

Quando era acuada em seu campo, a Arábia Saudita também sabia bem o que fazer: quase sempre, montava uma parede de até seis jogadores na primeira linha defensiva, para impedir que a Argentina finalizasse em boas condições. Na reta final do jogo, Messi tentou se afastar da área para participar mais das ações de sua equipe; também não deu certo.

Outro fator que ajudou os sauditas foi o preparo físico. Uma das explicações pode ser encontrada no fator geográfico: a Arábia Saudita está ao lado do Qatar e tem clima parecido. A outra está, de novo, no tempo de preparação e na pausa antecipada da liga local. Jogadores da Argentina que atuam nas grandes ligas europeias estavam em campo, em jogos valendo três pontos, até nove dias atrás.

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Messi leva as mãos ao rosto na partida entre Argentina x Arábia Saudita
Imagem: Matthias Hangst/Getty Images

E o bolão, hein?

Resultados como o desta terça-feira costumam ser conhecidos por derrubar os bolões da Copa do Mundo, já que são raras as apostas na Arábia Saudita (51ª colocada no ranking da Fifa) contra a Argentina, uma das favoritas ao título. Caso sirva de consolo, ao menos é o tipo de jogo em que todos participantes marcam zero ponto.

Nas casas de apostas, a zebra pode ser traduzida em números. Antes do apito inicial, a Argentina pagava 1,17 real por 1 real apostado. A Arábia Saudita pagava 21 por 1. Para dar uma ideia da dimensão da surpresa, a cota era a menor de toda a primeira fase do Mundial.

Para se classificar para a próxima fase da Copa do Mundo (e manter vivos os que nela apostaram como campeã ou finalista), a Argentina precisa se recuperar nos dois próximos jogos. A equipe de Lionel Scaloni enfrenta o México, no sábado (26), e a Polônia na quarta-feira seguinte (30).