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Após vexame, Alemanha se isola em 'Bahia do Qatar' com diária de R$ 120 mil

Zulal Wellness Resort, a "Casa Bahia do Qatar" da seleção alemã - Divulgação
Zulal Wellness Resort, a "Casa Bahia do Qatar" da seleção alemã Imagem: Divulgação

Colaboração para o UOL, de Doha (Qatar)

20/11/2022 04h00

Classificação e Jogos

Piscinas, quadras de tênis, hidroterapia, massagistas, restaurantes com cinco culinárias diferentes e total isolamento, à beira do mar, rodeado por suítes que têm até mordomo e podem custar até R$ 120 mil por dia. Esse é o cenário montado pela Alemanha para repetir o sucesso de 2014, quando se isolou na Bahia e conseguiu concentração suficiente para ser tetracampeã mundial.

Naquela ocasião, os alemães ficaram em Santa Cruz Cabrália, a 755 km de Salvador, com privacidade, natureza e um centro de treinamento à disposição. Lá, atenderam a pacata comunidade local, dançaram com o povo indígena pataxós e curtiram a beira da praia nas horas vagas.

Desta vez, em um hotel tão remoto quanto o Campo Bahia de 2014, na distante Al Ruwais, noroeste do Qatar, a seleção alemã conta com condições semelhantes às da conquista do título no Brasil para superar o vexame na Rússia - quando defendia o título e caiu ainda na primeira fase - e buscar o penta.

Os alemães são os mais isolados no menor país onde já foi realizada uma Copa do Mundo, com área de 11,4 mil km², um pouco mais da metade do estado do Sergipe, por exemplo. A distância para o centro da capital Doha é superior a 100 km, obrigando qualquer um a atravessar o país para acompanhar a equipe.

Assim, o luxuoso Zulal Wellness Resort está sendo inevitavelmente comparado às instalações baianas de 2014, que deram à Alemanha concentração o bastante para focar no Mundial e vencer em pleno solo brasileiro, com direito ao inesquecível 7 a 1 contra os donos da casa na semifinal.

A estratégia é até hoje lembrada pelos remanescentes daquela conquista, como Manuel Neuer, Thomas Muller, Mario Gotze e Matthias Ginter em entrevistas. "O 'Espírito do Campo Bahia' ainda paira sobre os jogadores de então", destacou o jornalista Jan Muller, do Frankfurter Rundschau. "O Campo Bahia serviu de modelo no Qatar, oito anos depois", continuou.

"É assim que a equipe da DFB (Federação Alemã de Futebol) deve encontrar paz, longe da agitação da Copa do Mundo", dizem os jornalistas locais. A pequena cidade no Golfo Pérsico não foi a escolha de hospedagem de quase todos os torcedores ou da imprensa que viajaram ao Qatar, que preferiram permanecer na agitada Doha ou nos arredores.

Com 280 mil metros quadrados, salas de massagem, e uma piscina que dá a volta no Resort, além de uma ilha residencial onde ficam hospedados os jogadores, o hotel vem sendo bastante elogiado pela delegação, que desembarcou no Qatar na última quinta-feira (17). E ainda está a 10 minutos de ônibus do centro de treinamento do Al Shama, onde a equipe treina.

A localização isolada foi uma estratégia diferente à adotada pela maioria das outras seleções, que preferiram alojamentos mais próximos a Doha, e rendeu elogios da imprensa germânica. "Essas condições são as ideias em desempenho, então nada impede uma possível conquista do título", destaca Kilian Kreitmair, do Abendzeitung, de Munique.

O ex-centroavante e diretor da federação alemã, Oliver Bierhoff, também destacou que a tranquilidade será um fator crucial para a equipe no torneio. "Não encontramos nada [em Doha] onde você possa abrir as janelas às vezes", disse o dirigente.

"[O local escolhido] Nos oferece a oportunidade de desligar da agitação dos jogos. Podemos nos concentrar, regenerar e desenvolver um espírito que nos ajude durante o torneio", acrescentou Bierhoff. O resort deixa os atletas à vontade para utilizarem a cozinha, piscinas, saunas e quadras de tênis.

Serão ainda 120 quartos e suítes disponibilizados apenas para as famílias dos atletas, com cinco tipos distintos de restaurantes - com culinárias asiática, fina, árabe, internacional e mediterrânea. Enfim, um oásis a céu aberto, entre o mar e o deserto catariano, com suítes que chegam a 22 mil euros (R$ 120 mil) por dia e tem até mordomo. São cerca de 70 pessoas na delegação.

O técnico Hansi Flick apontou que a localização do resort é a ideal para o planejamento de concentrar antes dos jogos. "Em Al Ruwais, temos tudo o que precisamos para um ótimo acampamento de equipe, como uma curta viagem ao campo de treinamento e as melhores condições para ter um ambiente maravilhoso no hotel".

Em 2002, no Japão, quando foi vice-campeã, a Alemanha já havia optado também por acomodações afastadas, no extremo sul do país, em um parque de diversões deserto. A estratégia continuou quando a equipe de mudou para a Coreia do Sul, na Ilha de Jeju. Já em 2010, a equipe pegou um albergue velho no meio do nada entre Pretória e Johannesburgo.

Porém, em 2018, o aluguel de uma acomodação em Vatutinki, próximo a Moscou, mostrou-se uma estratégia totalmente equivocada por parte da federação alemã. O local não tinha nem endereço próprio e atrapalhou a então atual campeã, que protagonizou um de seus maiores vexames e foi eliminada ao perder para México e Coreia.

No Qatar, a delegação tem à disposição 64 salas com diversos tratamentos de hidroterapia, relaxamento, nutrição, fisioterapia, saúde, holística, estética e spa, que custam a partir de 550 euros (R$ 3 mil) por noite, além de 450 funcionários que trabalham no resort. O gerente Holger Glaser disse ao jornal alemão Focus estar empolgado com os hóspedes.

"Faremos o possível para que a equipe se sinta completamente confortável desde o primeiro dia. E é claro que esperamos que ela fique conosco até a final". Ele também negou a exploração de trabalhadores imigrantes na construção do resort -em 2021, o Guardian informou que mais de 6,5 mil morreram na construção de estádios e infraestrutura da Copa.

O único problema detectado pela delegação alemã durante o Mundial será nas coletivas de véspera dos jogos, quando um jogador e o técnico devem se deslocar ao centro de mídia de Doha, a 110 quilômetros de distância. A Alemanha estreia contra o Japão na próxima quarta-feira (23).

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