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Uruguai tem revolução lenta para trocar força por jogo mais técnico

O volante Rodrigo Bentancur é um dos símbolos da reformulação na seleção uruguaia - Maddie Meyer/Getty Images
O volante Rodrigo Bentancur é um dos símbolos da reformulação na seleção uruguaia Imagem: Maddie Meyer/Getty Images

Bruno Grossi e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo (SP)

29/06/2018 12h00

Depois de campanhas marcadas pela superação em 2010 e 2014, o Uruguai chegou à Copa do Mundo de 2018 com a responsabilidade de ser protagonista em um grupo frágil com Rússia, Egito e Arábia Saudita. A missão foi cumprida com perfeição: três vitórias e nenhum gol sofrido. Mas não é só nos resultados que a Celeste encontra motivos para comemorar. Em campo, Óscar Tabárez mostrou que a revolução que tenta implantar na seleção já está em desenvolvimento. Sai o jogo puramente de força para dar lugar a um estilo mais técnico, pensado.

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"Se você reparar nas características dos meias e dos volantes do Uruguai nesses últimos 12 anos sob o comando de Tabárez, eram jogadores muito fortes para a recuperação de bola, mas com pouca habilidade com a posse. A defesa lançava direto para os atacantes. Agora, a seleção tenta passar a bola pelo meio-campo. E isso não é uma mudança simples após 11 anos. Não são 11 dias. São 11 anos jogando de um jeito. Tenho dúvida se isso já foi treinado o suficiente", analisa o técnico uruguaio Jorge Fossati, que trabalhou no Internacional em 2010.

O próximo desafio do Uruguai já é nas oitavas de final, diante de Portugal e do temido Cristiano Ronaldo. O confronto é visto como um teste importante para essa mudança de estilo na Celeste. Na estreia, contra o Egito, Tabárez apostou em time mais leve e jovem, mas não obteve o retorno técnico esperado. Para o segundo jogo, contra a Arábia Saudita, retomou a opção por jogadores de mais vigor físico e, novamente, não engrenou. Só no jogo final, diante da Rússia, é que uma formação se mostrou mais coesa.

Matias Vecino é outro meio-campista da nova geração do Uruguai - Andrew Medichini/AP - Andrew Medichini/AP
Matias Vecino é outro meio-campista da nova geração do Uruguai
Imagem: Andrew Medichini/AP

Lucas Torreira entrou como primeiro volante, dando a pegada e a entrega que os celestes não abrem mão. E os habilidosos Rodrigo Bentancur e Matías Vecino puderam atuar com mais liberdade, evitando que Luis Suárez e Edinson Cavani ficassem isolados como nos ciclos anteriores da seleção. Em 2010, por exemplo, a falta de criatividade dos jogadores de meio de campo obrigou Tabárez a recuar Diego Forlán. A medida acabou dando resultado, com o atacante sendo eleito o melhor daquela Copa em que o Uruguai foi quarto colocado.

"Eu vejo o Uruguai a cada partida melhorando. Torreira é um cabeça de área muito bom. Com ele, o time foi mais efetivo no ataque, jogou bem pelas pontas. Times como Brasil e Espanha ainda estão acima um pouco do Uruguai, mas no futebol não se ganha antes do jogo. E o Uruguai é sempre Uruguai. No fundo, ninguém quer nos enfrentar", avisa o ex-lateral Pablo Forlán, pai de Diego e ídolo do São Paulo.

Outro uruguaio com experiência no Brasil é Sérgio Ramírez. O ex-jogador hoje é técnico nas categorias de base do Guarani de Palhoça, em Santa Catarina. Apesar de reconhecer essa evolução técnica da seleção de seu país, Ramírez lembra que a "alma charrúa", o espírito de entrega, ainda é o grande diferencial da Celeste.

"O Uruguai não foge nunca desse DNA de determinação e vontade. Já mostrei para os garotos que treino um lance do Cavani. Ele foi até o bico da grande área para correr atrás do lateral, ajudar na marcação. Olha que ele tem 31 anos, goleador, joga no ataque. Isso é determinação, vontade, foco, comprometimento. A defesa já é muito boa começando pelo goleiro Fernando Muslera. As bolas longas ainda aparecem com muita frequência e eu não gosto muito. Só que nossos atacantes têm um poder de finalização que os outros times não têm", opina.

Depois do histórico quarto lugar em 2010, na África do Sul, os uruguaios pararam já nas oitavas de final em 2014, no Brasil. Jorge Fossati é otimista e crê que é possível alcançar uma nova campanha mais duradoura, como oito anos atrás. Isso porque considera o rival das oitavas, Portugal, sobrevive às custas de Cristiano Ronaldo.

"Vamos testar esse novo estilo contra um time mais forte (em relação à primeira fase), mas Portugal também não é lá essas coisas. Com todo respeito, embora seja o rival mais qualificado do Uruguai até aqui, o time é Cristiano e mais dez. É uma dependência nítida", banca Fossati. Sérgio Ramírez concorda, mas isso não significa que ele espera vida fácil para os "orientales": "Com um fenômeno como ele, não se pode descuidar".

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