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Kanté virá xodó francês, e música viraliza: "Vai engolir Messi"

Discreto e eficiente: Kanté tem sido um dos destaques da Copa do Mundo -  Clive Rose/Getty Images
Discreto e eficiente: Kanté tem sido um dos destaques da Copa do Mundo
Imagem: Clive Rose/Getty Images

Júlio Gomes

Do UOL, em Kazan (Rússia)

29/06/2018 14h41

“N’Golo Kanté, pala palala. Ele é baixinho, ele é legal, ele vai engolir o Leo Messi”. O trecho é da música que está viralizando rapidamente na França de uma semana para cá. Que já foi cantada no estádio aqui na Rússia e que certamente será de novo neste sábado, quando franceses e argentinos se enfrentarão por uma vaga nas quartas de final, às 11h, em Kazan.

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Na tradução literal, a canção diz que Kanté irá “comer” Messi. Nos jargões que usamos para o futebol, “engolir” ou “jantar” são verbos mais apropriados.

A música foi inventada por um jornalista francês, Eric Maggiori, que trabalha na revista So Foot, uma das mais respeitadas do país. O site da revista criou programetes descontraídos para o Mundial, e a música viralizou. Não só porque é bacana e de melodia fácil, mas principalmente porque conseguiu captar um sentimento.

Kanté é o jogador mais amado e admirado da seleção francesa na atualidade. Uma verdadeira maquininha no meio de campo, rápido e raçudo, ele deixa para trás no coração das pessoas os badalados Pogba e Griezmann.

Estes representam um verdadeiro contraste em relação ao estilo de Kanté, que é discreto, nunca usou um carrão (muito pelo contrário, costuma aparecer com modelos de “gente normal”, ao contrário do que geralmente fazem jogadores de futebol) e não fica aparecendo em mídias sociais. Já Pogba e Griezmann são adeptos do reality show que representam essas mídias e acabam sendo mais cobrados em campo.

“Primeiramente, Kanté é amado porque joga sempre bem. À parte o jogador, o homem Kanté está sempre sorrindo e não faz isso só em frente às câmeras. É genuíno. As pessoas entendem a necessidade de tê-lo no time. Quando um jogador perde a bola, você sabe que é ele quem vai correr e recuperá-la. Ele é um animal em campo, no bom sentido. Faz a vida dos adversários impossível”, resume o jornalista francês Sasha Doskov, da So Foot.

“Ele é a anti-estrela, e isso faz dele ainda mais popular”, diz Nicolas Viot, do canal pan-europeu Eurosport, com sede em Paris.

Depois dos tempos de Makelele e Vieira, a França reencontrou, finalmente, um jogador do estilo “cão de guarda” no meio de campo. E, logicamente, é possível que Kanté e Messi se cruzem muitas vezes no jogo de sábado, em Kazan.

A musiquinha que virou hino para os franceses foi criada antes mesmo da classificação da Argentina e da definição deste jogo de oitavas de final. Acabou sendo premonitória da batalha no meio de campo.

Em mensagens de franceses nas redes sociais, ao longo da primeira fase, é possível encontrar pérolas como estas: “Kanté poderia ter interceptado o Titanic antes que ele acertasse o iceberg” ou então “há três coisas na vida das quais é impossível escapar: impostos, morte e ter a bola roubada por N’Golo Kanté”.

“Ele tem 15 pulmões, o futebol é muito mais fácil quando se está ao lado dele”, elogiou Pogba. “Me sinto jogando com 12 jogadores quando ele está no time”, falou o atacante Giroud.

O jornalista Doskov, da So Foot, vê a figura de Kanté ganhando uma importância na França que vai além de suas atuações pela seleção do país ou por seu clube, o Chelsea.

“Há muitos jovens torcedores que vivem o esporte através de You Tube e videogame, que acham que o futebol é sempre espetacular. Eles têm de aprender que, para que um grande jogador como Neymar ou Cristiano Ronaldo possa fazer aquelas coisas, é preciso ter ao lado jogadores como Kanté. É um ótimo exemplo para os mais jovens, e mais e mais crianças se inspiram e dizem que querem ser como Kanté.”

Doskov conta também que o sucesso da nova música se deve a um vácuo, já que torcedores franceses nunca se preocuparam muito em criar algo que fosse além do já conhecido Allez, les Bleus.

A musiquinha segue e propõe, no refrão, um encontro em breve na Champs-Élysées, a mais famosa avenida de Paris, onde ocorreram as grandes festas pelos títulos mundial e europeus da França. Para que isso ocorra, sem dúvida, o “baixinho e legal” Kanté vai precisar engolir Messi.

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