Fagner não errou
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O Engenheiro Pinduca está com raiva de mim. Ligou cedo e disse que nossa amizade de 40 anos estava em risco porque eu disse que Fagner fez o que todo zagueiro faria ao esticar a mão e cometer o pênalti que, junto à expulsão, abriram o caminho para a vitória do Palmeiras.
A enorme maioria dos meus colegas jornalistas, inclusive o equilibrado Vitor Guedes, concordam com o Engenheiro Pinduca.
A argumentação é baseada na lógica. A bola iria para fora. Se a bola entrasse, seria mais fácil reagir pois o jogo continuaria 11 x 11.
Até concordo. Pode-se buscar estatísticas que comprovem os argumentos do Pinduca, na sala de sua casa, e de meus colegas, nos estúdios ou também em casa.
É uma situação diferente da vivida por Fagner. Ele foi criado, desde há 20 anos, a defender. Impedir que sua meta seja vazada. Dedicado como é, faz de tudo para cumprir a missão. É como um agente da CIA ou FBI, que entra na frente da bala para impedir que o presidente seja atingido.
Então, quando a bola veio, ele não pensa em estatística ou no futuro do jogo. Age por instinto. É o tempo de reação. É o condicionamento de um jogador aguerrido, responsável e sanguíneo.
O condicionamento é errado quando um zagueiro está marcando um atacante, que está de costas para o gol, uma jogada morta. Aí, bate o instinto de caranguejo e o cara faz uma falta. Transforma uma nulidade em chance se gol.
Fagner só estaria errado se soubesse que a bola não iria para o gol. Mas ele não tem retrovisor.
Talvez somente eu e Fagner consideremos que Fagner não errou. No meu caso, é sincero.
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