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Marcel Rizzo

REPORTAGEM

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Conmebol avalia paralisar jogos da Libertadores se houver atos racistas

Flamengo publica vídeo de torcedor em ato de racismo na Libertadores - Reprodução/Twitter
Flamengo publica vídeo de torcedor em ato de racismo na Libertadores Imagem: Reprodução/Twitter

Colunista do UOL

29/04/2022 14h40

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Os atos racistas em sequência de torcedores em jogos de suas competições começam a incomodar a cúpula da Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol) e há movimentação interna por providências. Num primeiro momento a ideia é tentar colocar em prática uma determinação da Fifa, chamada de "três passos contra a discriminação". O jogo pode ser até suspenso pelo árbitro se necessário.

Em nota divulgada nesta sexta-feira, a direção da Conmebol também prometeu endurecer as punições para atos de racismo em seus regulamentos, que hoje têm as multas como principal artifício. Também prometeu intensificar programas para "acabar de vez com esse problema no futebol sul-americano".

Em 2019, a federação internacional criou um passo a passo a ser seguido pela equipe de arbitragem em caso de manifestações racistas de torcedores: no primeiro, o jogo fica paralisado e avisos nos telões e alto-falantes pedem para a torcida interromper as ofensas; na segunda, o jogo para novamente, mas por mais tempo e os jogadores descem para o vestiário - novos avisos são dados. Se não pararem, o terceiro passo é encerrar definitivamente o confronto, suspendendo-o independentemente dos minutos jogados.

Há a conscientização entre os membros da confederação de que não será fácil para a equipe de arbitragem e dirigentes dos estádios identificar atos racistas isolados - o conceito da Fifa prevê grandes manifestações, como um grupo de pessoas cantando músicas xenófobas, comum na Europa.

Os clubes serão instruídos a que os jogadores e membros da comissão técnica informem à arbitragem ou ao delegado de jogo em caso de atos racistas. A paralisação do jogo ocorrerá se algo for percebido e o protocolo da FIFA será seguido.

Nessa concepção, a ideia é que haja a identificação do racista e que as autoridades possam agir, seguindo as leis de cada país. Foi o que aconteceu em um dos casos recentes, nesta terça-feira (25), quando um torcedor do Boca Juniors foi preso pela polícia após imitar um macaco na Arena Neo Química durante um jogo contra o Corinthians , pela Libertadores .

Ele pagou fiança e foi liberado no dia seguinte. O River Plate puniu um torcedor que foi flagrado puxando uma banana contra os torcedores do Fortaleza na segunda rodada da fase de grupos da Libertadores. Tal caso está sendo analisado pela Comissão Disciplinar da CONMEBOL e o Rio pode ser multado em no mínimo R$ 30 mil, punindo a Justiça nesses casos.

Na quinta-feira, imagens divulgadas nas redes sociais do Flamengo sinalizaram um torcedor da Universidade Católica (CHI) imitando um macaco. Também houve denúncia de ato racista no Equador na partida daquela semana contra o Palmeiras contra o Emelec.

Se um jogo chega ao ponto de ser permanentemente suspenso por atos discriminatórios, aumentam as chances de o tribunal impor penalidades esportivas, como perda de controle ou pontos.

VEJA ABAIXO A NOTA DA CONMEBOL NA ÍNTEGRA:

- A CONMEBOL considera ABSOLUTAMENTE INACEITÁVEL qualquer manifestação de racismo e outras formas de violência em seus torneios. Assume e sempre assumirá sua parte de responsabilidade na luta contra todas as formas de discriminação. A luta contra este flagelo ocupa um espaço central nas preocupações e no trabalho da CONMEBOL, o que é evidente nas múltiplas campanhas de conscientização e ações de alcance massivo, assim como na aplicação de penalidades àqueles que incorrem nestas práticas desprezíveis.

-A CONMEBOL promoverá mudanças nos regulamentos para AUMENTAR e ENDURECER as penalidades em casos de racismo. Compromete-se também a elaborar e implementar novos programas e ações que visem banir definitivamente este problema do futebol sul-americano.

-O futebol é um disseminador único de valores positivos e construtivos na sociedade. Nos campos, nos treinamentos e nas competições, os jogadores de futebol aprendem desde pequenos a respeitar seus adversários e a apreciar suas virtudes, a tolerar os erros de seus colegas de equipe e a ajudá-los a corrigi-los, a trabalhar em equipe e em unidade, a saber que o caminho para a vitória é através do trabalho duro e do sacrifício. A CONMEBOL intensificará o trabalho contra o racismo e outras formas de discriminação nas CATEGORIAS DE BASE.

-É preciso ressaltar que o racismo não é um fenômeno que começa e termina com o futebol, que, como espetáculo massivo, torna-se outra área altamente visível onde este e outros vícios sociais podem vir à tona. A sensação de anonimato proporcionada pela arena esportiva incentiva os desajustados a terem comportamentos inaceitáveis. Entretanto, isto mudou muito nos últimos anos, pois agora é possível IDENTIFICAR COM CLAREZA OS INFRATORES E PUNI-LOS COM MAIOR SEVERIDADE.

-Estes flagelos não serão superados se não houver um entendimento de que devem ser atacados em todos os âmbitos: na educação familiar, nas escolas e colégios, na mídia, nas organizações civis, no mundo empresarial, através de políticas públicas e, certamente, também no esporte.

-A CONMEBOL exorta todos os atores do futebol sul-americano - clubes, federações, mídia e torcidas - a REDOBRAREM OS ESFORÇOS PARA ERRADICAR O RACISMO e outras formas de violência e discriminação e preservar o que é mais valioso em nosso esporte: sua mensagem de companheirismo, esportividade e saudável competição.