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Marcel Rizzo

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Clubes aproveitam uma CBF frágil e pressionam por poder com ameaça de liga

Troféu da Série A do Campeonato Brasileiro, torneio que a CBF organiza - GettyImages
Troféu da Série A do Campeonato Brasileiro, torneio que a CBF organiza Imagem: GettyImages

Colunista do UOL

15/06/2021 17h07

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Dezenove dos 20 clubes que disputam a elite do Campeonato Brasileiro apresentaram à CBF nesta terça-feira a intenção de criar uma liga independente para organizar a competição — só o Sport ficou de fora, mas não por desacordo e sim porque está sem presidente. A ideia serve como pressão em um momento de fragilidade e vácuo de poder, talvez inédito na história da entidade.

Desde sexta-feira os clubes se articulam para tentar aproveitar o afastamento de Rogério Caboclo da presidência da CBF — ele é acusado por uma funcionária de assédio sexual. Querem, principalmente, participar da articulação da sucessão de Caboclo, já que a avaliação é que ele não retornará ao cargo. Para isso, o natural é uma mudança no estatuto da CBF que dê maior peso de voto aos clubes, hoje reféns das 27 federações que, de fato, são quem elegem o chefe da confederação.

Como mostrou a coluna mais cedo, há três pontos-chave que os clubes acreditam que uma nova diretoria da CBF deveria priorizar: articular em Brasília uma lei que dê ao mandante dos jogos o direito de transmissão dos jogos, mais transparência no uso do VAR e um calendário que não prejudique os clubes com desfalques durante datas Fifa e jogos da seleção brasileira.

Três demandas que, caso os clubes consigam de fato tirar do papel uma liga, poderiam ter sob sua rédea. O problema é: será que essas associações, que normalmente atuam pensando muito mais no individual do que no coletivo, conseguirão finalmente caminhar juntas?

Mesmo com três dos últimos cinco presidentes acusados de corrupção, a CBF nunca viveu um momento tão frágil politicamente como agora. Nas transições de Ricardo Teixeira para José Maria Marin, e depois para Marco Polo Del Nero, com o Fifagate (esquema de corrupção que levou dezenas de cartolas, inclusive Marin, à prisão) no meio, sempre houve uma sucessão coordenada, com as peças se movendo de uma maneira que não deixasse brecha para rebeliões. Agora, não.

Se conseguirem maior poder na CBF é possível inclusive que a liga se confirme como uma manobra de pressão. O discurso da cartolagem ao deixar a sede da CBF no Rio, depois de apresentarem as demandas, foi de que "não é um movimento de ruptura". De todo modo, parece que finalmente os clubes entenderam que, se quiserem, podem protagonizar o Brasileirão não apenas dentro de campo.