Casagrande

Casagrande

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
OpiniãoEsporte

Mano falou burro no calor do jogo. E quem faz isso no conforto do estúdio?

Burro? Idiota? Filho da p...? Imbecil?

Esses termos já foram usados há pouco tempo por alguns jornalistas e apresentadores de programas esportivos que hoje estão posando de moralistas, mas não olham para o próprio umbigo.

A verdadeira história do que aconteceu no sábado entre Mano Menezes e o Yuri Alberto foi no calor de uma partida de futebol, com a adrenalina lá em cima, com cobrança, com pressão, e teve um diálogo ignorado por aqueles que preferem remar sempre a favor da maré, mesmo que eles mesmos falem coisas bem piores que "burro".

No diálogo de sábado, quando o Mano falou que Yuri tinha sido burro porque o time estava atacando e o camisa 9 fez a enésima falta de ataque, teve sim uma resposta do atacante.

Yuri respondeu falando que não precisava ter falado daquela forma na frente de todo mundo, e o treinador do Corinthians respondeu o seguinte: "Você tem razão, desculpe, não foi nada pessoal".

Mas como vivemos no mundo dos cliques, das visualizações, essa parte da conversa não é conveniente para quem joga para a torcida.

Mas sentados em casa ou num estúdio num debate esportivo, ninguém está com a adrenalina lá em cima, nem pressionado, nem cobrado e muito menos competindo, mas alguns ofendem outras pessoas e não vi esse estardalhaço todo.

Quando está comandando um programa esportivo na TV, a situação também não é de adrenalina, mas mesmo assim tem aqueles que ofendem até com palavrões outras pessoas e não fazem esse tribunal que só condena e não inocenta ninguém.

Acho muito interessante julgarem o que alguém fala dentro de uma partida de futebol sem nunca ter competido para saber o que sente.

Continua após a publicidade

É condenável ser racista, homofóbico, machista (como muitos são, mas fingem que não), em qualquer situação, ou seja, dentro ou fora do campo, na TV, no rádio, na internet, em qualquer lugar.

Mas dentro de uma partida de futebol muitas palavras são usadas por desabafo momentâneo.

Quem duvida pergunte a um árbitro o que eles ouvem em campo, mas são preparados para conseguir separar o que é ofensa e o que é desabafo.

É totalmente impossível jogar futebol, com sangue quente, e não xingar, não falar, por exemplo, burro. Isso acontece em qualquer jogo de futebol, seja ele profissional, amador, no churrasco de final de semana e quando se entende que é ofensa começa uma briga, mas quando se entende como desabafo segue o jogo.

O que falta antes de se condenar a fala de alguém é se colocar no lugar do outro.

Como essas pessoas reagiriam se estivessem no lugar do Mano Menezes no sábado?

Continua após a publicidade

Será que falariam assim: "Por favor, Yuri, não faça faltas de ataque porque atrapalha o nosso time"?

Eu desafio qualquer um que esteja condenando o Mano a fazer esse exercício.

Na adrenalina não tem como escolher palavras.

Como falei antes: falar burro não define o caráter da pessoa e nem a sua educação.

Mas termos racistas, homofóbicos, machistas não fazem parte do desabafo e sim do caráter.

Não estou dizendo que estou certo ou errado ou que essas pessoas estão certas ou erradas, mas falando com experiência de ter sido jogador. E não me venham dizer que na minha época era diferente.

Continua após a publicidade

O mundo realmente está mudando, mas a pressão, a adrenalina, a tensão de uma partida de futebol não mudaram e nem mudarão.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Deixe seu comentário

Só para assinantes