Topo

'Guardiões' do vestiário, trio de auxiliares do Grêmio motiva suplentes e contorna problemas

Trio de auxiliares dá suporte para o trabalho Luxemburgo em treinos do Grêmio  - Lucas Uebel/Preview.com
Trio de auxiliares dá suporte para o trabalho Luxemburgo em treinos do Grêmio Imagem: Lucas Uebel/Preview.com

Marinho Saldanha

Do UOL, em Porto Alegre

13/10/2012 06h00

Três homens carregam a chave do vestiário do Grêmio. Por trás do bom trabalho de Vanderlei Luxemburgo no clube gaúcho, Antônio Lopes Júnior, Émerson e Roger tornam as palavras do comandante realmente possíveis. Enquanto Luxa escolhe os que vão a campo, são os 'guardiões' do reservado que motivam os suplentes e contornam problemas que possam aparecer. Em entrevista ao UOL Esporte, o trio de auxiliares revelou aspectos do dia a dia de uma atividade de bastidor que tem reflexo direto no campo.

Émerson 'virou' o jogo contra o Cruzeiro

  • Guilherme Testa/Agência Freelancer

    "Faz mais ou menos três anos que encerrei a carreira. Isso ajuda no respeito dos atletas olhando nossa comissão. Naquele momento do jogo vimos que o time perdeu a confiança não porque estava jogando mal, estava bem, mas não conseguíamos vencer. Foi assim com Santos. Emocionalmente quando a bola não entra, quando o goleiro faz milagre, o jogador perde um pouco. Eu vi o mesmo acontecer. E me deu uma luz de conversar com os jogadores. Quando acontece isso, se começa a achar que será a desculpa no fim do jogo, já aconteceu comigo como jogador. Passamos para eles que a bola iria entrar"

"Nossa importância é no dia a dia. Temos um relacionamento muito bom e não tem vaidade alguma. Dividimos as funções. O jogo é importante, mas o dia a dia, municiando o treinador e dando suporte com informações, é o que vale mais. O Vanderlei nos ouve bastante sobre mudanças e formações", disse Antônio Lopes Júnior, filho do técnico Antônio Lopes.

Os outros dois auxiliares gremistas não seguem a mesma característica do primeiro. Lopes foi contratado junto com Vanderlei Luxemburgo. Roger já comandou o time em duas oportunidades e trabalha como auxiliar desde o início de 2011 no clube. Émerson é mais recente ainda e iniciou atividades em março deste ano. Ambos têm passado de glórias no Olímpico como atletas e tal situação ajuda a 'entender' os problemas que possam surgir e garantir a 'segurança' dos segredos do vestiário.

"O que acontece aqui dentro fica aqui dentro. Dificilmente externamos algo de dentro do vestiário porque é um ambiente nosso e tudo tem que ser resolvido aqui. É claro que, por circularmos mais entre os jogadores, eu e o Émerson fomos jogadores e o Júnior que não foi mas convive no ambiente desde pequeno por causa do pai dele, pegamos uma habilidade para identificar algumas coisas. Talvez aprendemos a pegar as coisas mais rápido. Percebemos no 'bom dia' do jogador como está o nível de humor dele. Daqui a pouco você vai monitorar... Ver se é sono ou algum problema que podemos ajudar", comentou Roger.

A boa gestão de pessoas é evidente em campo. Não é raro ver suplentes resolvendo os problemas do Grêmio. Marquinhos, por exemplo, era tido como jogador 'difícil', que não aceitava ficar na reserva. Hoje vem de gols nos últimos dois jogos, mesmo não sendo titular está motivado e feliz com o rendimento no clube.

Roger não define data para ser técnico

  • Nabor Goulart/Agênciafreelancer

    "Este é o processo natural. O passo a passo dessa escalada para me tornar treinador principal. Hoje sou um treinador auxiliar.Vir aqui, dar treino, nestes momentos que eu ministro os treinamentos, claro que respaldado pelo Vanderlei, mas isso já é importante. Toda esta dinâmica que tenho vivido faz parte do processo. Não tenho data. Parei 4 anos para me formar em Educação Física e acabo neste ano. Quero seguir no clube, acredito que ainda possa ajudar. Agora de uma outra forma que não como jogador. Quando eu me sentir devidamente preparado vou me lançar"

"A importância do auxiliar é entender o treinador e o jogador. Dificilmente o jogador fala algo ao treinador. Você tem que ser o ouvido. Costumamos dizer que o treinador tem somente 11 amigos, que são os que estão jogando. Me preocupa muito o jogador que não está jogando. Temos que dar este carinho, que deixar motivados os que não estão sendo muito usados. Temos que fazer este elo e apagar estes incêndios", afirmou Antonio Lopes Júnior.

"Para o jogador de futebol, o meu time sou eu e mais 10. E tem que ser assim. No meu time eu sou titular. Mas o treinador tem várias ideias e depende muito da circunstância. O importante é que todos estejam motivados. Em alguns momentos os auxiliares dão muito mais atenção para os que não estão jogando, para que fiquem interessados e com a certeza de que eles são importantes", acrescentou Roger.

Contra o Cruzeiro, por exemplo, os atletas deixaram o campo falando que a ação dos auxiliares resultou na virada. Émerson chamou a palavra e remobilizou o elenco que parecia 'atordoado' ao final dos primeiros 45 minutos.

"Alguns jogadores falaram na minha participação contra o Cruzeiro. Somos este elo entre o Vanderlei e os jogadores. Os atletas nos procuram muito para conversar. Às vezes eles não tem essa liberdade com o treinador e o comando tem que manter esta distância. Temos este bom trânsito nos atletas e com o Vanderlei", ressaltou Émerson

Lopes mira 'compensar' energia de Luxa

  • Marinho Saldanha/UOL Esporte

    "Temos que trabalhar de acordo com o treinador. O Vanderlei é um cara forte em atitudes e conduta. Já trabalhei com caras mais amenos. O auxiliar tem que ser um contraponto do treinador. Se você vê que no momento é o caso de dar uma chegada mais firme, tem que dar. O Vanderlei é o contrário. Ele é um cara de atitudes fortes, se caracteriza por isso. Nós como auxiliares temos que passar equilíbrio e tranquilidade que temos normalmente. Isso é no dia a dia"

Para chegarem a um acordo, não é sempre tão fácil. Reuniões, conversas sugestões, tudo passa por encontros semanais. Como não poderia deixar de ser: com portas fechadas.

"Ideias diferentes acontecem. A coisa boa é que concordamos sempre com a melhor ideia. Isso que é fundamental. Eu joguei futebol durante 16 anos. E quando se está em um trabalho que não tem vaidade, ele flui, anda. Não é porque um jogou, outro não jogou, um tem 15 anos e outro 5 de profissão. Todos querem a mesma coisa", falou Émerson.

"Falamos sobre todos os aspectos. O treinador, muitas vezes, quando forma uma comissão ele dá cargos de confiança. Até porque você precisa ter nestas figuras alguém que possa confiar. Então por isso alguns técnicos para onde vão levam auxiliar e preparador físico. Para além da capacidade ter alguém que possa contar", acrescentou Roger.

Mas é claro que nem tudo pode ser revelado. Mantendo a estratégia de guardar o que ocorre entre as quatro paredes do vestiário, os 'guardiões' dos segredos do Grêmio não dão pistas sobre como identificam algo que nem mesmo os jogadores querem revelar, como extravagâncias, idas para noite ou coisas do tipo.

"Não podemos descobrir quem vai para noite ou não. Quem não teve uma boa noite de sono não chega com uma placa na cabeça escrito. Mas temos alguns segredinhos que aprendemos a identificar", finalizou Roger, antes de abrir um sorriso.