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Tales Torraga

REPORTAGEM

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Capa do jornal "Olé", Richarlison conquista Argentina com drama e deboche

Richarlison manda beijinhos após marcar três gols na estreia do Brasil nas Olimpíadas de Tóquio - REUTERS/Phil Noble
Richarlison manda beijinhos após marcar três gols na estreia do Brasil nas Olimpíadas de Tóquio Imagem: REUTERS/Phil Noble

Colunista do UOL

28/09/2021 12h00

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O que Richarlison e Ronaldinho Gaúcho têm em comum? São os dois últimos brasileiros cujas entrevistas estamparam a capa do jornal argentino "Olé".

Ronaldinho ganhou a honraria do polêmico periódico vizinho em 2013, no meio da campanha do Atlético-MG campeão daquela Libertadores. O caso de Richarlison é bem mais atual. No sábado (25), o "Olé" trouxe um recheado papo de quatro páginas com ele, ganhando muitos elogios nas rádios e TVs de Buenos Aires por sua postura "bem madura para um atleta de 24 anos".

Os elogios a Richarlison vieram da sua postura totalmente natural diante da gozação que ele e os argentinos alimentaram nas redes sociais depois da Copa América e Olimpíada. Ele desdramatizou a interação e defendeu a troca de "elogios" como maneira de promover os confrontos entre Brasil e Argentina.

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Richarlison na capa do jornal argentino "Olé"
Imagem: Reprodução "Olé"

"A vida segue, é um grande clássico do futebol, o melhor jogo do mundo, aquele que todo atleta quer estar. Esta rivalidade nunca vai morrer, um pouco de gozação não faz mal a ninguém", contou, ao "Olé".

"Tudo é normal, tomo com calma, não me sinto ofendido nem irritado com ninguém pelas brincadeiras das redes sociais. Eu pelo Brasil e eles pela Argentina. Defendo meu país como se estivesse brigando por um prato de comida. Sempre vai ser assim", seguiu.

"E somos adversários, não inimigos. Um dia poderemos defender as mesmas cores de um clube, quero ser amigos deles [os argentinos], são grandes jogadores que vão me ensinar muito."

Dureza lá e cá

Além de desdramatizar seu deboche, outro ponto alto da entrevista de Richarlison foi repassar sua dura infância no Espírito Santo. Tais exemplos são bastante comuns também no futebol argentino, outro catalisador de sonhos de uma vida melhor para as famílias que trocam o cotidiano carente pela renda que vem dos contratos assinados pelos atletas ainda adolescentes.

"Este é um problema muito sério no Brasil, e poucos parecem dispostos a resolvê-lo de verdade", cravou Richarlison, que falou também de um duro episódio da infância, quando esteve na mira de um revólver.

"Isso me mostrou que eu não queria estar em nenhum desses lados da pistola. Nem de quem é ameaçado e nem de quem poderia matar alguém. Cada vez que alguém me pergunta se sinto medo de algo, lembro-me deste episódio. O que é o mais aterrador que pode acontecer com a vida de alguém? Era só o cara apertar o gatilho... Provavelmente eu não estaria aqui para contar esta história. Desde então, soube que queria uma realidade diferente para mim."

O jornal enfatizou também que Richarlison era o mais velho de cinco irmãos e precisou vender sorvetes e doces para sobreviver. E ainda encarou um teste em um clube só com o dinheiro de ida, sem saber como voltaria para casa.

Por fim, e para aliviar o papo, ele declarou torcer para o Boca Juniors no país vizinho. "É um time que encanta os brasileiros pela mística que criaram na Libertadores, a mim também, desde que era criança. Além do mais, eles têm uma torcida fanática, e o clube me parece conectado com os setores mais populares de Buenos Aires e da Argentina. Criei uma identificação com eles."