Topo

Rodrigo Coutinho

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

O que é o ''meio-espaço'' no futebol

Pep Guardiola, técnico do Manchester City - Miguel A. Lopes/Pool via REUTERS ORG XMIT: AI
Pep Guardiola, técnico do Manchester City Imagem: Miguel A. Lopes/Pool via REUTERS ORG XMIT: AI

Colunista do UOL

12/05/2022 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

O uso de novos termos para explicar alguns detalhes em um jogo de futebol é uma realidade atual. Não adianta ridicularizar essas expressões. Quem trabalha com comunicação tem por obrigação estudar para entendê-los e traduzir ao público da maneira que mais se aproxime do entendimento geral. Hoje é dia de aprender o que é o que vem sendo chamado de ''meio-espaço'' por alguns comentaristas e analistas.

Se fizermos uma leitura bem criteriosa das palavras utilizadas pela imprensa e por profissionais do futebol nos últimos 100 anos, descobriremos que as transformações nas linguagens são comuns.

Só para citar um exemplo bem simples: o ''center-half''' dos primórdios virou cabeça-de-área, que passou a ser chamado de volante, e hoje, é o meio-campista defensivo. Renegar a utilização de novos termos e, mais grave ainda, não tentar compreendê-los, é uma demonstração de pouco apreço e respeito ao jogo.

O ''meio-espaço'' é uma tradução livre do inglês ''half space'', e significa a faixa de campo nas costas dos volantes rivais e entre zagueiros e laterais da equipe adversária. Começou a ser explicado para detalhar o ''jogo de posição'' utilizado por diversas equipes a partir do final da década retrasada e hoje mais popular no Brasil. Por isso o termo vem sendo mais citado aqui.

01 - Rodrigo Coutinho - Rodrigo Coutinho
Nesta simulação de um time(azul) que joga num 4-3-3 atacando o outro. Pontas flutuando para o ''meio-espaço'' e laterais bem espetados na amplitude ofensiva
Imagem: Rodrigo Coutinho

Num futebol de defesas mais fechadas e atletas fisicamente preparados, encontrar tempo para pensar e espaço para executar está cada vez mais difícil. É por isso que a exigência por detalhar esse tipo de posicionamento a jogadores e torcedores torna-se necessária.

É muito comum vermos pontas que fazem esse trabalho. Partem dos lados do campo, mas flutuam para o ''meio-espaço'' do gramado. Um dos objetivos é abrir o lado para a ultrapassagem do lateral. O time ganha amplitude para inverter a bola de um lado a outro e ''mexer'' a defesa adversária. Ganha também mais uma opção de passe entre as linhas de meio e defesa do rival, o que costuma ser o ''mapa da mina'' para entrar na área em condições de finalizar, seja com passes ou conduções de bola.

02 - Rodrigo Coutinho - Rodrigo Coutinho
No City, de Guardiola, neste momento do jogo contra o Newcastle, os pontas ocupavam o ''meio-espaço'' e os laterais estavam na amplitude
Imagem: Rodrigo Coutinho

O ''meio-espaço'' não precisa ser um setor ocupado necessariamente por pontas. Pode ser ocupado por dois atacantes em dupla, um de cada lado. Por laterais que entram em diagonal enquanto os pontas ficam bem abertos, ou por meias no caso de um 4-3-3, novamente com os extremos em amplitude no ataque.

03 - Rodrigo Coutinho - Rodrigo Coutinho
No Red Bull Bragantino de Mauricio Barbieri, laterais se dirigindo ao meio-espaço, em determinados momentos ocupam este setor
Imagem: Rodrigo Coutinho

Receber a bola ali ou simplesmente se mexer no setor, induz os zagueiros a saírem no combate ou em perseguições, e lacunas se abrem na última linha defensiva oponente. É comum também jogadores que se fixam no setor e atacam a área para receber em profundidade. Outro tipo de movimento a partir do ''meio-espaço'' é traçar uma diagonal rumo à linha de fundo, atacando as costas do lateral do setor.

04 - Rodrigo Coutinho - Rodrigo Coutinho
No Avaí, com Eduardo Barroca, os meias Bruno Silva e Eduardo ocupam constantemente o ''meio-espaço''
Imagem: Rodrigo Coutinho

Entender o que é ''meio-espaço'' é apenas um fator entre tantos necessários para a compreensão do que um treinador pretende com determinado atleta, para detalhar o funcionamento coletivo de uma equipe ao atacar. Deveria ser algo mais debatido e frequente. Certamente teríamos mais embasamento para analisar trabalhos e partidas.