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Rodrigo Coutinho

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Por que o Ganso dos 'Fla x Flus' não é parâmetro para o resto da temporada

Colunista do UOL

04/04/2022 11h50

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Uma das boas tacadas de Abel Braga nos jogos que decidiram o título do Campeonato Carioca foi a utilização de Paulo Henrique Ganso. Não só a simples escalação dele, mas a forma como foi utilizado, potencializado por uma marcação frouxa e um Flamengo bem espaçado na partida do último sábado. O cenário, porém, não deve ser uma constante no ano. Entenda!

Nos dois duelos, a função de Ganso foi exatamente a mesma. No primeiro jogo o Fluminense iniciou em um 4-1-4-1, e ele fechava o lado direito do meio-campo, como se fosse um ponta. No segundo jogo, o esquema mudou para o 5-4-1, mas a missão dele não. Seguia fechando o flanco direito, à frente de Calegari, sem a bola.

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Como Flamengo e Fluminense iniciaram o primeiro jogo da final do Carioca 2022
Imagem: Rodrigo Coutinho

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Já no segundo jogo manteve o posicionamento, mesmo com a mudança de esquema
Imagem: Rodrigo Coutinho

Mas Ganso pode marcar lateral? Aí está a chave para entender a boa sacada de Abel Braga. Filipe Luís é o homem que atua no setor pelo time do Flamengo, e não avança com constância pelo lado. Faz a saída de três alinhado aos zagueiros e depois trabalha como um articulador por dentro, sempre atrás da linha da bola, sem gerar profundidade.

Ao ser responsável por esta marcação, Ganso precisou correr muito pouco para trás, o que tem extrema dificuldade de fazer. Abel conseguiu restringir sua participação no momento defensivo a movimentos de encurtamento de espaço para Filipe quando o camisa 16 do Flamengo tinha a bola, e isso o meia o tricolor fez bem.

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Fechando o lado direito do meio-campo e visando o encaixe em Filipe Luís
Imagem: Rodrigo Coutinho

Logicamente que entram cenários dos dois jogos que ajudaram na questão. O Flamengo se movimentou de forma desordenada, gerando poucas opções de passe para Filipe Luís e facilitando o trabalho de Ganso. O próprio atleta rubro-negro acompanhou o nível baixo de concentração de seus companheiros, enquanto Ganso esteve na mesma sintonia afinada dos tricolores.

O poder de mobilização gerado pela final e a oportunidade de quebrar a dinastia estadual rubro-negra, além da chance de ganhar sequência como titular, algo buscado por Ganso há tempos, também influenciaram no comportamento. Manter essa pegada é o desafio. O jogador não tem conseguido isso ano após ano.

E com a bola? Dizer que o Fluminense só se defendeu nas duas finais contra o Flamengo é um tremendo engano. E a presença de Ganso tem participação direta nisso. Abel deu total liberdade de flutuação a ele para a direção da bola. Saía da direita pro meio com a pelota nos pés ou para se oferecer como opção de passe curto a um companheiro.

A inteligência do camisa 10 fez com que ele sempre procurasse regiões do campo com menos pressão na bola. Aproveitou o espaço grande no meio-campo do Flamengo e colocou em prática sua capacidade de articulação. Fez a ''redonda'' andar, reteve a posse, acionou companheiros em profundidade.

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Ganso recebendo aberto pela direita e trazendo a bola pro centro, visando uma região pouco povoada pelo Flamengo
Imagem: Rodrigo Coutinho

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Flutuando sem a posse para a direção da bola
Imagem: Rodrigo Coutinho

As presenças de Yago Felipe e André no meio-campo também casaram perfeitamente. Quando o Fluminense perdia a bola e Ganso estava longe de seu setor de origem, um dos volantes fazia a cobertura de forma perfeita do lado direito, auxiliando Calegari, enquanto o meia voltava por dentro para formar a linha.

As duas decisões diante do Flamengo apresentaram contextos muito específicos. Abel Braga soube compreendê-los e inseriu Ganso de forma precisa. Esperar que isso seja uma constante ao longo de 2022, porém, não é prudente. Ele precisa mostrar-se mais competitivo em cenários diferentes para se fixar como um dos principais nomes do time