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Rodrigo Coutinho

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

O que pode decidir o clássico entre Galo e Fla no Mineirão

Colunista do UOL

07/07/2021 04h00Atualizada em 07/07/2021 07h33

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Atlético Mineiro e Flamengo fazem um dos duelos mais aguardados da 10ª rodada do Brasileirão. O Galo vem de duas vitórias consecutivas e está no G4. Abafou a crise que vivia. Já o Rubro-Negro desembarca no Mineirão com Rogério Ceni vivendo mais uma pressão exagerada. São três derrotas nos últimos cinco jogos, mas em todas elas o Mais Querido foi superior ao adversário na maior parte do tempo. Veremos o que pode definir o clássico nacional desta noite!

Mesmo atuando dentro de seus domínios, é provável que o Atlético Mineiro assuma uma postura mais retraída em grande parte dos minutos. Isso se justifica pela dificuldade que o time tem em encontrar espaços diante de defesas mais recuadas, e na facilidade que encontra ao acionar Hulk e Savarino em rápidas transições ofensivas.

Além disso, onde quer que jogue, o Flamengo busca ter a bola e se instalar no campo de ataque. Quando precisa se retrair para marcar, apresenta erros. Pouca intensidade na abordagem de marcação e alguns espaços entre a defesa e meio. Então é natural que o jogo se desenvolva com o Rubro-Negro tomando conta da posse no território do Galo durante um tempo maior.

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Os números de Atlético e Flamengo no Brasileirão 2021
Imagem: Fonte: Opta

Galo na defesa; Fla no ataque

Este deve ser o cenário mais comum do jogo. O Flamengo apresenta ótima ocupação de espaços no campo de ataque. Tem sempre profundidade pelo meio e pelos flancos, opções de passe entre as linhas e aproximação para gerar as interações entre os jogadores. Perto da área, os movimentos são bem coordenados, o que faz com que o time produza bastante em quase todos os jogos.

Com a volta de Arrascaeta, é provável que Michael perca espaço, e o revezamento na hora de ocupar o lado esquerdo volte. Antes feita apenas por Michael, a missão volta a ser dividida pelo uruguaio e por Bruno Henrique. Quando um abre para a ponta, o outro ocupa o centro, se aproxima de Pedro e infiltra na área. Filipe Luís faz a ''saída de três'' alinhado a Willian Arão e Rodrigo Caio, e na sequência articula por dentro, ataca pouco pelo flanco esquerdo.

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Pedro comemora gol marcado na partida entre Cuiabá e Flamengo, pelo Brasileirão 2021.
Imagem: Gustavo Farinacio/UAI FOTO

Na outra extremidade, Isla ou Matheuzinho, seja qual for a escolha de Rogério Ceni, dará amplitude e terá toda a liberdade para atacar como um ponta. Como Vitinho está suspenso, o papel originalmente de Everton Ribeiro pode ser feito até mesmo por Thiago Maia, flutua da direita para o meio, ocupa as costas dos volantes rivais. A dinâmica da dupla de volantes vai depender muito de quem for escalado. Piris da Motta pode entrar, o que daria mais liberdade a quem jogar ao seu lado, provavelmente João Gomes.

O Atlético, como de praxe nos times de Cuca, marca no sistema de encaixe e perseguição. Cada jogador define um alvo que caiu em seu setor no início da jogada e o persegue durante um faixa de campo maior. Isso acaba individualizando bastante os confrontos, o que nem sempre pode ser bom para quem faz.

Por isso é necessário manter a intensidade lá no alto no momento defensivo, algo que nem sempre o Galo tem feito. Será bem comum vermos duelos como: Bruno Henrique x Mariano; Pedro x Rabello; Arana x Isla/Matheuzinho; Arrascaeta x Allan; Savarino x Filipe Luís. Façam suas apostas!

O que a equipe vem fazendo bem é a proteção da própria área. Réver e Rabello têm entendido bem as compensações que precisam fazer quando não estão envolvidos nesses encaixes. Se colocam bem para as coberturas, mas ainda não enfrentaram um ataque tão produtivo quanto o do Flamengo nesta competição. Junior Alonso voltou da Copa América e pode assumir o lugar que vinha sendo ocupado por Réver.

A defesa ganharia mais velocidade, fator importante diante de um time rápido nas transições ofensivas e que executa bem as pressões pós-perda. O Atlético tem oscilado bastante ao recompor após perder a bola, geralmente faz de forma lenta e demora a se reorganizar. Por mais que o Flamengo seja um time de posse, tem muita força nos contra-ataques ao acionar Bruno Henrique.

Fla na defesa; Galo no ataque

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Hulk, uma das estrelas do Galo na temporada.
Imagem: Divulgação/Mineirão

Provavelmente, o Atlético terá uma postura agressiva nos primeiros minutos, mesmo se a estratégia para a maior parte do jogo não for essa. A proposta em várias partidas dentro de casa é assim. Sufoca o adversário para marcar um gol no início e depois explorar os espaços no contra-ataque. Neste segundo cenário cria muito! Keno está fora, mas Hulk e Savarino atropelam nas transições, se entendem muito bem. Se superar a pressão pós-perda do Flamengo, o Galo pode causar muitos danos ao time carioca.

Em fase ofensiva, a proposta de Cuca é acumular jogadores pela faixa central. Geralmente, promove a flutuação dos pontas dos lados para o meio, e solta os laterais, gerando amplitude ao time. O problema é a coordenação nesses movimentos. Nem sempre flui de forma natural, o que causa uma ocupação de espaços confusa várias vezes, dificultando a circulação de bola e a criação de oportunidades com regularidade.

A saída acaba sendo a aposta nas individualidades, e o time as tem. Hulk vem fazendo um excelente Brasileirão. Sai da área e circula na intermediária, tenta gerar espaços de infiltração para os jogadores que partem dos lados e para os meio-campistas. Ao contrário do que muita gente jura, Hulk não é só força. É potência sim, mas aliado a uma técnica e capacidade de terminação das jogadas acima da média do futebol brasileiro. Pode decidir o jogo sozinho.

Savarino é outro nome que desequilibra com dribles e a agressividade que caracteriza o seu futebol. Com Nacho Fernandez fora, fica a dúvida do substituto e de onde Tchê Tchê será utilizado. Já jogou de ''falso ponta'' ao partir da esquerda ou da direita para o meio, e como volante ao lado de Allan, o que é mais provável para este jogo, fazendo com que Zaracho jogue mais adiantado.

A chave para o Atlético se dar bem em fase ofensiva é superar a pressão que o Flamengo provavelmente fará em sua saída de bola. O Rubro-Negro melhorou recentemente neste aspecto. Tem pressionado bem e com coordenação entre os setores, e o Galo apresenta falhas diante disso. Em contrapartida, ao defender no próprio campo, o time carioca tem uma intensidade mais baixa e dá espaços entre os setores. Nesse último ponto, a influência de Hulk pode gerar gols aos mineiros.

Parte física

Esse é um detalhe que pode decidir o duelo também. O Flamengo tem apresentado quedas acentuadas de intensidade no 2º tempo dos últimos jogos. Foi assim contra o Fortaleza, Cuiabá, Red Bull Bragantino e Fluminense. Perdeu dois desses duelos. O time tem encontrado dificuldade em dosar a energia. Geralmente faz uma 1ª etapa muito forte e cai depois do intervalo. Já o Atlético se apresenta mais linear neste sentido.