2020 do Flamengo prova que Jorge Jesus foi um tiro no escuro
Rogério Ceni errou nas substituições, Domènec não conseguiu montar um sistema defensivo minimamente competitivo, Léo Pereira, Gustavo Henrique, Michael e Pedro Rocha são nomes que ainda não mostraram a que vieram no clube, há muita nebulosidade na atuação do departamento médico do Flamengo em 2020, mas o que explica o que vem acontecendo com o rubro-negro nos últimos meses está acima de tudo isso.
Campeão de quase tudo em 2019, futebol encantador, salários em dia, estrutura ótima, e a montagem de um elenco ainda mais forte para a temporada seguinte. Poucos tempo depois o cenário é muito diferente. O que mudou de lá pra cá? A figura central do sucesso do Mais Querido não está mais no clube.
Não se trata de dizer que Jorge Jesus é inalcançável e infalível. Errou, por exemplo, na final do Mundial de Clubes ao sacar muito cedo Arrascaeta e Everton Ribeiro, mesma falha cometida por Ceni na eliminação diante do Racing. Também avalizou por uma cifra bem questionável a contratação de Michael. Mas é inegável o seu lugar no hall de ídolos do clube. Pegou um time que não existia em 2019 e o transformou em um dos mais inesquecíveis do país recentemente.
Todo o contexto da chegada de Jorge Jesus, passando pelo trabalho que fez dentro de campo, e o que trouxe para o dia a dia do Flamengo precisa ser considerado. E mais. Precisa ser entendido. O Rubro-negro não planejou o sucesso que teve. Não foi buscar o português pensando naquilo que ele ofereceria num senso prático, mas sim no abstrato. Queria uma grife, algo que diferenciasse das constantes e recentes trocas de treinador no clube. Um escudo! E acabou acertando.
O cenário fica nítido ao observarmos a reposição. Domènec Torrent foi trazido sob os mesmos preceitos. Por mais que não tivesse experiência como treinador, fez parte da comissão técnica de Guardiola por anos. Além disso, tinha o principal atributo buscado naquele momento: ''ser estrangeiro''. O bizarro argumento demonstra o nível de conhecimento de futebol dos cartolas rubro-negros.
Trouxeram um treinador com conceitos bem diferentes de Jorge Jesus no momento ofensivo, e não deram o respaldo interno quando foi necessário. Quem não lembra do vice de futebol Marcos Braz correndo desesperadamente atrás de Gabigol para um afago após o atacante sair de campo dando chilique ao começar no banco contra o Fortaleza? Que tipo de recado aquilo passou aos demais atletas?
O processo de escolha de treinador não é amador somente no Flamengo. Basicamente todos os clubes do futebol brasileiro não possuem dirigentes preparados para entender o que é um modelo de jogo, julgar uma gestão profissional de elenco, e saber o que, e quando cobrar algo. Mas no caso do clube de maior torcida do país tudo ganha contornos imensos. A repercussão é maior.
Muitos acreditavam que o Flamengo pudesse ter um período de total hegemonia no futebol brasileiro e até mesmo sulamericano. Vitórias e títulos em sequência, com alto desempenho atrelado, só vêm com qualidade em todas as esferas do clube. Em 2019 o Mais Querido teve um técnico bem acima da média. Isso não quer dizer que Domènec ou Rogério Ceni não tenham capacidade de comandar o Flamengo. Eles só não são o ''tiro no escuro'' dado ano passado.