O Coelho é muito mais que a 'doideira' de Lisca
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Pela primeira vez na história o América Mineiro é semifinalista da Copa do Brasil. O clube que já foi campeão estadual 16 vezes, venceu Copa Sul-Minas, é bi da Série B e tem uma Série C, alcança a maior façanha de sua trajetória numa competição nacional. No comando do time, Luis Carlos Cirne de Lima Lorenzi, o Lisca ''Doido'', que prova, mais uma vez, capacidade para ser valorizado não só pela irreverência e comportamento folclórico.
Famoso por trabalhos de recuperação em clubes de menor expressão, Lisca assumiu o América na quarta rodada do Campeonato Mineiro deste ano, substituindo Felipe Conceição, que havia rumado para o Red Bull Bragantino. Herdou um bom legado, mas com características distintas às que ele quase sempre implementou em suas equipes. Mostrou poder de adaptação a detalhes que o time já tinha, e que acabaram agregando às suas ideias originais.
A maneira prioritária do América jogar é parecida com a de muitos times brasileiros. Se sente confortável ao se fechar na defesa e reagir com contragolpes aos ataques adversários. Para que essa estratégia funcione, possui um sistema defensivo bem organizado, que marca por zona, quando cada atleta protege o seu setor e não promove perseguições a rivais em outras partes do campo. Há também intensidade na abordagem de marcação, compactação entre os setores. Fatores que Lisca já apresentou em outros clubes.
Não à toa, o América tem a segunda melhor defesa da Série B, fica atrás apenas da líder Chapecoense, e está na terceira posição na classificação geral. Achar Ademir e Felipe Azevedo em velocidade nas transições ofensivas é a arma após a roubada de bola. O meia Juninho também é bastante acionado por sua capacidade de chegar rápido na área adversária. Zé Ricardo, João Paulo, Geovani e Alê se destacam acionando os companheiros em profundidade.
Um destaque individual na parte defensiva é o zagueiro Messias. Aos 26 anos, já mostrou o seu potencial no próprio América, na Série A, em 2018. Passou duas temporadas sem grande sucesso no Rio Ave, e voltou ao Coelho em janeiro. Firme, bem posicionado sempre, e ótimo na bola aérea e coberturas. É um dos líderes da equipe.
Engana-se quem pensa, porém, que o América não tem organização para atacar. Quando está em fase ofensiva, Lisca abre bem os pontas, uma herança do time de Felipe Conceição, mas faz a equipe jogar de forma mais ''direta'', sem trocar tantos passes até finalizar. Buscando quase sempre as inversões longas destinadas aos pontas, o Coelho promove seguidas infiltrações com Juninho e Geovani pelo meio da defesa adversária. Os laterais se aproximam vindo de trás e formam triângulos pelos lados com o ponta e o meia do setor nas proximidades da área. Tudo feito em alta velocidade.
O centroavante Rodolfo também é alvo de alguns passes longos, mas sempre no intuito de dominar de costas e acionar os companheiros nos flancos, já na intermediária ofensiva. Zé Ricardo é importante no meio, não só pelo bom posicionamento à frente da defesa, mas também por ser o jogador com maior capacidade do setor para ''pisar na bola''. Girar o jogo de lado e desacelerar quando necessário.
Ademir vem sendo o jogador com maior capacidade de desequilibrar no setor ofensivo. É o terceiro atleta que mais criou chances claras em toda a Série B. O problema muitas vezes do Coelho é converter essas oportunidades. A média de um gol por jogo na competição é pouco para um clube que é um dos principais candidatos ao acesso. Não que o time não crie. Há uma construção satisfatória no ataque, mas as finalizações podem ser mais eficientes.
Mesmo com o elenco sem tantas opções de qualidade como Palmeiras, Grêmio e São Paulo, o Coelho é um ''azarão'' de respeito nas semifinais da Copa do Brasil. A competitividade da equipe, somada ao caráter eliminatório do torneio, permitem sonhos aos torcedores do time de Lisca, que já merece destaque pelo seu trabalho.
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