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Liga dos Campeões - 2021/2022

REPORTAGEM

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Herói da última final em Paris, Belletti usa gol histórico em palestras

Belletti defendeu o Barcelona de 2004 a 2007 e conquistou cinco títulos oficiais - Jon Buckle - PA Images via Getty Images
Belletti defendeu o Barcelona de 2004 a 2007 e conquistou cinco títulos oficiais Imagem: Jon Buckle - PA Images via Getty Images

Colunista do UOL

23/05/2022 04h00

Com um jogador a mais em campo, o Barcelona não conseguia furar a forte defesa do Arsenal, que havia perdido por expulsão o goleiro alemão Jens Lehmann, logo aos 18 minutos do primeiro tempo. Para piorar, um gol aos 37 minutos, marcado pelo zagueiro inglês Sol Campbell, colocou os "Gunners" em vantagem diante dos catalães na final da Liga dos Campeões de 2005/06, no Stade de France, em Paris, palco também da decisão da atual edição de 2021/22, entre Real Madrid e Liverpool.

Do banco de reservas, Belletti acompanhava atento ao sofrimento dos badalados companheiros, como o compatriota Ronaldinho Gaúcho, o luso-brasileiro Deco e o camaronês Samuel Eto'o. Aos 26 minutos da segunda parte, o lateral-direito foi então chamado pelo treinador holandês Frank Rijkaard para entrar na partida. Substituiu o ala espanhol Oleguer Presas e não tardou a fazer história em solo francês.

"Quando você está no banco, assim, se você se deixa levar pelo sentimento da frustração de não ter começado o jogo, isso te pode levar a não estar pronto caso seja chamado. E eu nem saí para aquecer para esse jogo até os 10 minutos do segundo tempo. Mas, durante todo o confronto, eu fiquei muito, muito ligado no que estava acontecendo", contou Belletti, ao UOL Esporte.

Belletti e Barça campeões da Champions 2006 - Gerry Penny/EFE - Gerry Penny/EFE
Belletti comemora o título da Champions ao lado do capitão Puyol
Imagem: Gerry Penny/EFE

"O meu lado mental é muito forte. Eu já tinha essa vivência de que, mentalmente, se você deixar a desejar em um jogo como aquele, pode ser bastante complicado. Eu entrei com a ideia de ser mais ofensivo, né? Claro que há a disciplina defensiva, mas íamos perdendo por 1 a 0, e com um jogador a mais. As jogadas pelo meio, centralizadas, não estavam saindo. Então, surgi como uma opção de ataque, pelo lado, que era o que eu fazia sempre naquele time. Fui contratado para isso, inclusive", completou.

Com o campeão mundial pela seleção brasileira em 2002 em campo, o Barça conseguiu o empate, aos 31 minutos, pelos pés de Eto'o. O melhor, no entanto, aconteceu cinco minutos depois. O atacante sueco Henrik Larsson caiu pelo lado direito do setor ofensivo e cruzou rasteiro a bola para o meio da área. Em velocidade, Belletti recebeu, dominou e finalizou com força. A virada épica estava feita: 2 a 1.

Aproveitando o gramado molhado por causa da forte chuva na capital francesa, o camisa 2 desabou durante a comemoração, não conteve a emoção e foi abraçado em peso por todos os parceiros. Uma imagem inesquecível.

"Quem me conhece, entende muito bem o que significou aquele gol, toda aquela jogada, a vibração... Eu sempre trabalhei muito. Todo mundo sempre coloca altas expectativas naqueles caras considerados os craques, os mais talentosos, né? Mas eles precisam de uma equipe toda para ajudá-los. Assim que acaba o jogo, que vem todo mundo me abraçar - as pessoas do banco de reservas e quem está em campo - esses caras, a frase que eles mais me diziam era: "Você merece!". Eu guardo essas palavras, ditas por Deco, Ronaldinho e companhia, com enorme carinho", revelou.

Belletti, no Barcelona - Gabriel Bouys/AFP Photo - Gabriel Bouys/AFP Photo
Belletti comemora após marcar o gol da vitória do Barcelona sobre o Arsenal pela Liga dos Campeões
Imagem: Gabriel Bouys/AFP Photo

A consagração de Belletti com a camisa do Barcelona surgiu numa semana complicada no nível pessoal. Pouquíssimos dias antes, o ex-jogador de Cruzeiro, Atlético-MG, São Paulo, Villarreal e Chelsea havia ficado fora da lista de convocados da seleção para a Copa do Mundo na Alemanha - Carlos Alberto Parreira optou por chamar Cafu e Cicinho, de Milan e Real Madrid, respectivamente.

"Eu não levei isso para o jogo contra o Arsenal. Eu sabia que tinha uma disputa pela lateral, mas também que eu não vinha sendo convocado nas últimas vezes. Acabou que eu fiquei na expectativa de ser convocado ainda até o final, é verdade, mas não rolou. Até pela experiência e vivência do futebol, eu sabia que não podia deixar isso ter um protagonismo na final", destacou.

Ter ficado fora da Copa, começado a decisão da Liga dos Campeões entre os reservas e, por fim, terminado a semana como herói do título do Barça são situações que Belletti, atualmente ocupando o cargo de embaixador internacional do clube catalão, usa nas diversas palestras em que participa pelo mundo.

"Eu falo bastante sobre a final. A minha jogada, o gol, enfim, estão sempre comigo, de um jeito ou de outro. Eu bato na tecla da disciplina e do trabalho em equipe. Você trabalha, no dia a dia, entendendo sua posição na equipe - de trabalhar para o time, de trabalhar para o melhor jogador do seu time jogar melhor, para o seu time jogar melhor... Graças a esse seu esforço, de buscar esses objetivos, de vez em quando, aparece alguma oportunidade de ser protagonista, até quando você menos espera. E, quando essas oportunidades aparecem, é conseguir estar preparado para viver aquilo ali", finalizou.