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OPINIÃO

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Goiás vence a Copa Verde e apresenta a Amazônia à COP30

01/06/2023 01h50

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POR ANTONIO CARLOS SALLES*

Diz-se que a cidade de Goiania é a Nashville brasileira. Pode ser que sim, ainda que entre o sertanejo e o country a distância musical seja oceânica.

Mas Goiânia tem o Goiás, o campeão da Copa Verde pela primeira vez após vencer o Paysandu nos dois jogos finais (4 a 1, no agregado), sem deixar dúvidas sobre sua superioridade.

O clube goiano exibe fôlego e estrutura para seguir em frente. Tenta melhorar sua posição na Série A e lidera o Grupo G da Copa Sudamericana.

A receita financeira do Goiás é infinitamente superior à do Paysandu, impacto direto do PIB regional no estado-símbolo do agronegócio.

Em Nashville, o esporte que encanta multidões vem das baladas de Tim McGraw, dos insuperáveis Willie Nelson e Dolly Parton e do ainda fenomenal George Strait.

Goiás ainda lamenta a perda de Marília Mendonça, que cantava o amor e não misturava sua arte com a política do correntão e do tratoraço.

Papão lidera

O Paysandu é o maior vencedor da Copa Verde e buscava quarto título da competição.

O time foi eliminado das finais do campeonato paraense pelo vibrante Águia, da cidade de Marabá, que sagrou-se campeão estadual ao derrotar o Clube do Remo na final.

A celebração do 50° trofeu estadual do Papão ficou para o futuro incerto. Mas o título de "maior contratante do futebol brasileiro" está assegurado. Até a redação final deste artigo, 48 jogadores já haviam sido contratados pelo Paysandu nos últimos cinco meses.

Muitos não puderam disputar a CV por inscrição fora do prazo.

A gestão administrativa no futebol segue abaixo do padrão mínimo de aceitação do mundo empresarial e reflete-se diretamente naquilo que um clube é ou deixa de ser.

O Paysandu é parte da regra. Torçamos, um dia, para ser a exceção.

Amazônia, COP30 e G8

Enquanto Goiás e Paysandu se preparavam para a decisão, a Copa Verde era citada nas diversas reuniões mantidas pelo governo brasileiro no encontro do G8, em Tóquio, mo início de maio.

A Copa Verde 2023 é o primeiro dos grandes eventos que darão notoriedade e exposição à candidatura da cidade de Belém como sede da reunião mundial do clima das Nações Unidas, a COP30, prevista para acontecer em novembro de 2025.

A decisão do Brasil de lançar a candidatura da capital paraense como sede do mais importante evento mundial sobre clima, é parte de um projeto maior, de fundamentos humanos e sócio-ambientais, de restauração e contribuição à floresta e aos povos da região.

Uma oportunidade única para o mundo globalizado e seus líderes entenderem a Amazônia de perto, estando lá, presentes, percebendo seu valor único e integral à cadeia de sustentabilidade e de gestão do bem-estar geral do Planeta.

Sabe-se que será uma disputa dificílima, com Belem enfrentando cidades mundiais com instalações já adequadas a grandes eventos, infraestrutura aeroportuária, malha viária e rede hoteleira robusta.

Viver na Amazônia é assim mesmo: todo dia um desafio a vencer.

Mas a reinserção do Brasil no jogo grande das decisões globais, a reunião do G7, o restrito bloco dos países mais ricos do mundo para o qual o país voltou a ser convidado depois de muitos anos, dá a dimensão da voz e a reverberação que o país voltou a ter para uma questão regional e amazônica, que impacta decisões dessas potências mundiais.

A volta da Noruega, Alemanha e agora Estados Unidos à liberação de recursos vultuosos ao Fundo Amazônia, é um argumento a mais para o Brasil lutar para que Belém sedie a reunião mundial do clima.

A questão climática é pauta mundial. Na reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) em Brasília, ano passado, estudos mostraram que a temperatura na Amazônia subiu 1°C e as chuvas declinaram 36% em regiões específicas, com sensível agravamento nos últimos quatro anos.

A Copa Verde, mal ou bem tratada pela CBF, faz parte do caderno de atrações que a diplomacia brasileira apresenta mundo afora.

Mas sempre há quem jogue contra os interesses da realização da COP30 em Belém do Pará.

O assassinato de um torcedor corintiano em confronto com um grupo de torcedores do Remo no jogo pela Copa do Brasil nas imediações do estádio Mangueirão, segue na pauta do Ministério Público e dos órgãos de investigação policial. Um suspeito está preso.

Este caso está para o Pará como o 8 de Janeiro está para democracia brasileira. A necessidade de apurar, prender e julgar deve estar na pauta diária das autoridades até o esclarecimento total dos fatos e seus responsáveis.

Louve-se o trabalho do jornalista Carlos Ferreira, do Blog do Ferreira, incansável na apuração e na cobrança responsável que faz junto às autoridades, porque sabe o prejuízo que a não apuração detalhada poder ter aos olhos do mundo.

E o mundo, a comunidade internacional, a ONU, a imprensa, investidores, gestores climáticos e tantos outros agentes desenvolvimentistas, estão atentos à preservação da democracia no Brasil, assim como a importância que a Amazônia tem para o mundo.

*Antonio Carlos Salles é jornalista.