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ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Roberto Salim - Morre o jogador que deu a saída 12 vezes em recorde de Pelé

Antoninho esteve em campo pelo Botafogo-SP na goleada sofrida para o Santos por 11 a 0 em 1964 - mas sua carreira teve grandes momentos - Acervo/Antônio Lúcio
Antoninho esteve em campo pelo Botafogo-SP na goleada sofrida para o Santos por 11 a 0 em 1964 - mas sua carreira teve grandes momentos Imagem: Acervo/Antônio Lúcio

03/06/2021 17h03

Vocês têm noção do que é chegar ao apartamento do filho do Antoninho, o Benedicto Antônio Angeli, e passar uma tarde inteira escutando histórias daquele Botafogo de sonhos, que encantava Ribeirão Preto na década de 60? Não, vocês não têm ideia. Ainda mais se no mesmo sofá estiver outro convidado ilustre daquele time que não dava moleza para nenhum grande da capital. O convidado era o lateral-esquerdo Maciel, que depois foi para o Corinthians.

Eu estava fazendo uma reportagem para a TV Tribuna, de Santos. E também levantando material para o livro de Antônio Lúcio, o fotógrafo que no dia 21 de novembro de 1964, registrou magistralmente os 11 gols santistas naquela goleada inacreditável em que o Rei Pelé anotou 8 gols sobre os incrédulos botafoguenses.

O encontro no apartamento do Petris, um dos filhos de Antoninho, ocorreu no dia 29 de agosto de 2019. Primeiro Maciel e Antoninho se entreolharam desconfiados.

"Por que ao invés dos 11 a 0, eu não perguntava sobre os 148 gols que tornaram Antoninho o maior artilheiro do Botafogo?"

Ou ainda

"Por que não falar sobre a carreira de Maciel quando foi para o Corinthians?"

Ou enaltecer as grandes vitórias de um time que era conhecido como a Pantera da Mogiana, que era treinado pelo renomado Oswaldo Brandão e que assombrava os grandes quando caíam no estádio da Vila Tibério?

"Aliás no primeiro turno do campeonato paulista de 1964 vencemos o Santos aqui em Ribeirão Preto", lembrou Antoninho. Neste jogo Pelé não estava presente, o capitão Zito foi expulso e diz a lenda que houve "olé" e teve até jogador sentando na bola no velho estádio onde a torcida provocava os adversários. Enfim, depois da desconfiança inicial, conversamos sobre tudo: vitórias, excursões, derrotas e gols. E até mergulhamos nos 11 a 0.

"O Pelé estava bravo e eu dei a saída 12 vezes", gargalhava Antoninho, pleiteando a inclusão de seu nome no Livro dos Recordes, no Guiness. "Dei uma saída no começo do jogo e depois nos 11 gols: ninguém no mundo deu 12 saídas como eu num jogo só".

E Maciel e Antoninho riam, sabedores de que a bronca do Rei, se é que havia, era com o técnico Oswaldo Brandão, que anos antes - quando era técnico do Palmeiras - conquistou o Super Campeonato Paulista em cima do grande Santos.

Antoninho era ídolo do Botafogo-SP - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Antoninho era ídolo do Botafogo-SP
Imagem: Arquivo pessoal

Esse encontro com os dois jogadores ocorreu já faz um tempinho. Sempre mantive contato com o filho do artilheiro. E hoje pela manhã fui surpreendido com uma mensagem do Petris, do filho do Antoninho

"Bom dia a todos! Comunico que o meu pai, ex-centroavante e treinador do Botafogo FC, infelizmente faleceu esta madrugada no hospital da UNIMED, aos 82 anos".

Ao criar coragem liguei para o Petris. Falamos daquele encontro de anos atrás, com direito a muitas recordações, bolo de maçã, esfirras, muitas risadas e suco de laranja e abacaxi.

Falamos também da alegria que Antoninho e Maciel demonstravam relembrando fatos passados na juventude: a excursão pela América Central, as vitórias inesquecíveis do Botafogo, os seis gols marcados por Antoninho em uma goleada sobre o Guarani, as vitórias sobre o Santos mesmo e a fúria de Pelé naqueles 11 a 0.

Antoninho (à esquerda), durante a passagem pela Fiorentina - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Antoninho (à esquerda), durante a passagem pela Fiorentina
Imagem: Arquivo pessoal

"Meu pai era quietão, caseiro, difícil da sair de casa. Mas quando saía e começava a contar histórias, não parava mais".

E cada história Antoninho contava! Tinha assunto para uma viagem interminável no tempo. Desde a época em que era dos aspirantes do Palmeiras, passando pelo Botafogo onde jogou 11 anos com a camisa 9 e formou um ataque com Zuíno, Laerte, Henrique e Géo. Sem falar das duas temporadas em que defendeu a Fiorentina. E ainda dos tempos em que foi treinador do próprio Botafogo.

"Sabe, acho que meu pai foi embora tranquilo. E para nós ele não morreu. Enquanto a gente continuar falando dele e de suas histórias, ele continuará entre nós".

Com certeza!

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