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André Rocha

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

De Dome e Ceni a Renato Gaúcho, Flamengo troca o conceito pela vivência

Renato Gaúcho conversa com Filipe Luís no duelo entre Flamengo e Defensa - Alexandre Vidal/Flamengo
Renato Gaúcho conversa com Filipe Luís no duelo entre Flamengo e Defensa Imagem: Alexandre Vidal/Flamengo

Colunista do UOL Esporte

22/07/2021 08h18

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A fome de Bruno Henrique desde o primeiro toque na bola no Mané Garrincha simboliza a principal mudança no Flamengo com Renato Gaúcho.

Mesmo jogando aberto pela esquerda em um 4-2-3-1, posicionamento que nitidamente incomoda o atacante e ele deixou isso bem claro publicamente na virada de Domènec Torrent para Rogério Ceni no comando técnico, o camisa 27 voou para cima dos marcadores do Defensa y Justicia.

Antes Bruno Henrique recebia na ponta, percebia o adversário bem posicionado atrás, com as devidas coberturas, e rolava a bola lentamente para trás. Na estreia sob o comando de Renato já dominava e dava um tapa na frente para explorar força e velocidade. Com confiança.

No segundo tempo, com o jogo complicado após abrir o placar com Rodrigo Caio e levar o empate por conta de uma bizarrice dos Diegos (Ribas e Alves) que Loaiza aproveitou, Renato trocou Everton Ribeiro por Michael.

Conceitualmente não parecia fazer muito sentido, já que, mesmo errando tudo no ataque, Everton Ribeiro é quem mais colabora defensivamente do quarteto ofensivo. Preenche as intermediárias e faz a liga entre os dois meio-campistas e os três mais adiantados. Esvaziar o meio parecia perigoso diante do organizado time de Sebastián Beccacece buscando o segundo gol, que seria o da classificação.

Mas o Flamengo precisava naquele momento de algo novo. Intuitivo, surpreendente. Michael entrou aos 18 do segundo tempo e finalizou duas vezes em três minutos. Na segunda acertou o travessão e Arrascaeta marcou de cabeça no rebote.

Com a vantagem, a substituição ganhou sentido. Com campo para correr pelo avanço natural do Defensa, Michael deitou e rolou. Assim como Vitinho, que entrou na vaga de Bruno Henrique. Citado publicamente por Renato como um jogador que também precisava de confiança, o camisa onze transformou com dois gols a vitória difícil nos 4 a 1.

O primeiro tempo avassalador, mas saindo para intervalo com empate por perder grandes chances na frente e falhar atrás, lembrou os dos tempos de Ceni. Mas na segunda etapa, Renato não esperou demais para substituir e a troca se mostrou precisa para descomplicar o jogo.

Porque o novo treinador tem 20 anos de experiência na função. Já escalou e substituiu centenas de vezes. Acertou e errou. O Flamengo foi o segundo time da carreira de técnico de Dome. Rogério Ceni é treinador desde 2017, comandando apenas São Paulo, Cruzeiro e Fortaleza antes de desembarcar no Rio de Janeiro e comandar alguns jogadores que chegou a enfrentar no campo, como Diego Ribas, Everton Ribeiro e Bruno Henrique. Dome veio porque foi auxiliar de Guardiola e Ceni pelo trabalho com conteúdo e resultados no Fortaleza.

É diferente. Renato tem no currículo de técnico uma Libertadores. Já ganhou e perdeu jogo grande do torneio continental. Isso pesa. E pode ser o que faltava para uma equipe que se conhece, tem sintonia fina. Só precisava de um comando que inspirasse mais confiança.

O Flamengo troca o conceito pela vivência e até aqui vai dando muito certo.