Topo

André Rocha

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Seleção olímpica esbarra no desentrosamento para uma ideia de jogo complexa

Amistoso entre a seleção olímpica do Brasil e Cabo Verde - Ricardo Nogueira/CBF
Amistoso entre a seleção olímpica do Brasil e Cabo Verde Imagem: Ricardo Nogueira/CBF

Colunista do UOL Esporte

05/06/2021 16h15

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Antes de qualquer análise, este colunista faz questão de deixar claro que é contra a utilização de jogadores profissionais na Olimpíada. Principalmente porque o calendário dos grandes centros é cada vez mais apertado e a formação de mais uma seleção, mesmo nos países que respeitam as datas FIFA, aumentam a carga de jogos de mais atletas.

Por outro lado, são mais que compreensíveis a vontade e o orgulho de representar o Brasil. Este que escreve já viu campeão do mundo com olhos brilhando ao falar de medalha de prata em Olimpíada. É humano esse dilema.

Dito isso, o amistoso em Belgrado contra a seleção principal de Cabo Verde deixou claro que a proposta do treinador André Jardine condiz com a qualidade disponível no grupo convocado. Ofensivo, com elementos do jogo de posição. Trabalhar a bola, abrir o campo, criar espaços.

O contexto, porém, é complicado. Uma seleção reunida eventualmente, que só compete no Pré-Olímpico. Quase sempre com dispensas, convocações para a principal. Mudanças. E, mesmo com a qualidade de Gabriel Menino, Guilherme Arana, Bruno Guimarães, Gerson, Claudinho, Antony, Pedro, Rodrygo, Matheus Henrique, Malcom...é uma ideia que precisa de tempo e entrosamento.

Para combinar características, ganhar naturalidade com uma camisa pesada - atual campeã olímpica, inclusive. Não é fácil e seria complicado em qualquer cenário. Mas assumir a responsabilidade de ser o protagonista sempre, ficar com a bola o tempo todo instalado no campo de ataque torna tudo ainda mais complicado. E os erros costumam cobrar caro.

Sem tempo e com grupo heterogêneo, só é possível trabalhar rudimentos do jogo de posição. A seleção olímpica rodou a bola, fez inversões, abriu o campo pela direita com Menino e Antony e à esquerda com Arana e Rodrygo. Mas Cabo Verde se fechou com uma linha de cinco bem coordenada e permitiu poucas chances cristalinas. Pedro precisou tirar da cartola um lance de técnica que gerou o pênalti cobrado pelo próprio centroavante do Flamengo para abrir o placar.

Com a vantagem, a ideia seguiu a mesma. Sem a versatilidade de recuar um pouco, atrair o adversário e atacar no espaço cedido. No campo de ataque, se o perde-pressiona é superado, a defesa sofre. Ainda mais sem a sintonia de uma sequência de jogos. Primeiro contragolpe de Cabo Verde, o empate.

Na segunda etapa, o complicador das substituições, necessárias para testar em fase preparatória. Matheus Henrique, que entrou na vaga de Gerson, hesitou. Bola roubada em raro momento de pressão do oponente, que surpreendeu os brasileiros, e veio a virada de Cabo Verde. No final, um abafa descoordenado em busca do empate. Sem sucesso.

Não significa fracasso certo no Japão. Nem defesa de um jogo aleatório, entregue unicamente à intuição dos talentos. Mas a simplificação de alguns processos, condicionando a proposta ao contexto de cada partida, seria mais recomendável. Até pela chance de surpreender o adversário.

O Brasil Olímpico foi previsível no primeiro teste.