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Bronze em Winnipeg, técnico hesitou, mas aceitou o boxe feminino

Maurício Dehò<br/> Em São Paulo (SP)

01/10/2008 08h15

Praticamente um estranho no ninho. Será assim que o técnico Claudio Abreu se verá em Trinidad e Tobago, comandando a seleção brasileira de boxe feminino, formada por 11 lutadoras. Mesmo não conhecendo todas as pupilas que levará à competição, por treinarem em três estados, o medalhista de bronze em Winnipeg-1999 já tem experiência com quatro anos trabalhando também com as mulheres.

Depois de uma carreira de 12 anos no boxe amador, em que preferiu não passar ao profissional, Aires decidiu seguir outro sonho, juntando a vontade de abrir um projeto social com a de fazer carreira como técnico, do lado de fora dos ringues. Nasceu então o trabalho que desenvolve em São Paulo, no Clube Escola Santo Amaro, dando aulas de boxe de graça.

Com as mulheres, ele admite que chegou a hesitar em aceitar o trabalho, mas não se arrependeu. "Quando a escola foi formada, várias garotas vieram perguntar se podiam entrar nas aulas. Fiquei com um pé atrás, mas depois vi que elas tinham potencial, que queriam seu lugar ao Sol também", relembra o ex-pugilista dos superpesados, que terá auxílio de Luis Cardoso. "A Roseli (Amaral, até 75 kg), foi a primeira e hoje é um exemplo para todas."

Aires, mais um dos que sonha com o boxe feminino em Londres-2012, admite que não é fácil lidar com as pupilas. "Sem dúvida é mais difícil do que com os homens. Elas precisam de um cuidado especial, são mais sensíveis. Não se pode tratar como um garoto, é preciso ter um jeito especial de conversar e mesmo de dar bronca. Hoje estou experiente em lidar com elas".

Mas não é só com a seleção feminina que Aires se preocupa. Mais do que isso, seu grande trabalho é no projeto social que dirige, do qual fala com brilho nos olhos. "Tentamos dar o máximo aqui dentro para que eles não fiquem nas ruas da periferia", diz ele, que tem apoio da Prefeitura de São Paulo, e ao lado do ringue dá outras opções para os participantes, como videogame e música, além de alimentação. "Trabalhamos com três pilares: qualidade de vida, inclusão social e competição."

O próximo passo do espaço no Clube Escola Santo Amaro é sediar uma competição semanal. Aos moldes do que acontece toda terça-feira no Ginásio Baby Barioni, também em São Paulo, o local sediará às quintas-feiras um torneio de boxe amador, tanto masculino quanto feminino. O início da competição, que terá a organização da Confederação Brasileira de Boxe, está programado para janeiro.