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'Na Globo foi difícil': Atriz ganhou fama de 'ecochata' durante novela

A atriz Laila Zaid - Divulgação
A atriz Laila Zaid Imagem: Divulgação

Caroline Apple

Colaboração para Ecoa

20/06/2023 06h00

A atriz Laila Zaid tinha apenas 8 anos quando teve oportunidade de ir à Eco 92, a Conferência das Nações Unidas Sobre Meio Ambiente, que aconteceu no Rio de Janeiro, em 1992.

"Eu era muito pequena, não me lembro de nada, exceto de um navio gigante do Greenpeace que aportou no Rio. Foi ali que eu soube que existia um grupo de pessoas que lutava pela natureza. Mesmo pequena, me tornei doadora. Qualquer dinheiro que eu ganhava, eu doava para eles. Fui crescendo e conforme eu tinha mais poder sobre minha vida, mais eu me tornava uma 'ecochata' diante da opinião das pessoas", conta.

Ela afirma que sempre foi conectada com as questões ambientais por ter crescido em uma família amante da natureza. Com o pai, vivia acampando em uma vila de pescadores que não tinha nem luz.

Pela falta de grana da família, a atriz conta que virou uma pessoa pouco consumista e desligada da moda. Esse estilo de vida mais austero, no entanto, lhe rendeu desafios quando se tornou atriz na Globo.

Foi nos corredores do Projac que ganhou a fama de "ecochata", reforçada pelo papel de hippie que representava em "Malhação", de 2004 até 2007. A convivência no meio do "glamour" da televisão foi se tornando cada vez mais desafiadora.

Conviver na Globo foi muito difícil. Tinha eventos que todo mundo ia, menos eu. Eu me maquiava em casa e sempre usei roupa usada. Sou a mais nova de seis primas mulheres, minha mãe nunca comprou roupa para mim. Mas minhas melhores amigas queriam me produzir e criticavam a forma como eu me vestia. A verdade é que nunca fui ligada em nada disso. E é assim que me sinto bem", Laila Zaid, atriz

A atriz Laila Zaid - Divulgação - Divulgação
A atriz Laila Zaid
Imagem: Divulgação

O dia que Ivete Sangalo parou um show para falar sobre meio ambiente

Laila acabou assumindo a fama de "ecochata" e seguiu seu caminho. Mas os tempos foram mudando: cada vez mais pessoas começaram a se importar com o meio ambiente e as mudanças climáticas, essas pautas ganharam mais destaque e, de repente, o termo pejorativo ganhou novos contornos.

"Todo mundo entende que chegou a vez da sustentabilidade. Hoje, quem chama de ecochata está mais para negacionista. Mas sei que mesmo as pessoas não se sentindo mais confortáveis de me chamar assim, ainda me veem como uma patrulha".

A atriz Laila Zaid - Divulgação - Divulgação
A atriz Laila Zaid
Imagem: Divulgação

A atriz conta que essa fama de "vigia" lhe rendeu episódios engraçados e importantes, como a vez que a cantora Ivete Sangalo parou o show que estava fazendo quando viu Laila Zaid na plateia para dar um recado.

"A Ivete disse que sempre que esquece de levar a garrafinha de água para a academia, ela lembra de mim. E falou da importância da sustentabilidade durante a apresentação. Essas horas eu sinto que o discurso está chegando para quem tem condições de atuar", conta a atriz.

Quando Laila fala sobre pessoas que têm "condições de atuar", a atriz afirma se referir a uma parte da população privilegiada que não está vivendo no "modo sobrevivência".

Eu tenho uma situação muito privilegiada hoje em vários aspectos. Sou branca, moro na Zona Sul do Rio e tenho uma vida financeira estável. Tudo isso me permite olhar para questões que grande parte das pessoas não tem tempo. A maioria das pessoas no Brasil está sobrevivendo, como vou esperar que se preocupem com o meio ambiente? Sei que muita gente reconhece o discurso como válido, mesmo que não consiga apoiar. Mas talvez pequenos detalhes estejam acontecendo, como negar uma sacolinha", Laila Zaid, atriz

Fogo amigo

A atriz se tornou comunicadora socioambiental depois que passou a compartilhar nas redes sociais sua rotina em casa com seus filhos durante a pandemia como uma forma de divulgar seu primeiro livro infantil, o "Manual Para Super-Heróis - O Início da Revolução Sustentável", lançado em 2021.

A publicação é resultado das aulas que a atriz dava na rede municipal de ensino do Rio de Janeiro no projeto desenvolvido por ela sobre cidadania, meio ambiente e educação emocional a partir das ferramentas de teatro.

A atriz Laila Zaid - Divulgação - Divulgação
A atriz Laila Zaid
Imagem: Divulgação

"Na pandemia, as pessoas estavam consumindo muita tela e eu estava morando numa comunidade com outras famílias. Passei a mostrar o que os meus filhos comem, como reciclo meu lixo...eram alternativas simples, mas sustentáveis. Fui me tornando uma influenciadora digital. Porém, era tudo muito intuitivo, tinha pouco conhecimento técnico. Então, fui estudar", conta.

Mas parece que seus estudos não foram o suficiente para convencer alguns educadores ambientais, que passaram a criticar a relevância que a Laila ganhou sobre o tema.

Fui fazer uma formação de saúde e crise climática em Harvard. Passei a ficar atenta aos dados sobre a crise climática que mudam o tempo todo. Não paro de estudar. Mas, mesmo assim, sou criticada por algumas pessoas dizendo que só ganhei espaço por ser atriz. Eu reconheço isso, e fico triste. Acho essa discussão uma briga de ego, porque quem está realmente conectado com o propósito não entra na competição e quer mais que o tema seja difundido. Os 'ecochatos' estão na moda. Chegou a nossa vez. Vamos aproveitar de todas as maneiras", Laila Zaid, atriz

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