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No BBB 23, participantes se descrevem fisicamente: Por que isso importa?

BBB 23 tem 22 participantes                              - Reprodução/TV Globo
BBB 23 tem 22 participantes Imagem: Reprodução/TV Globo

Maiara Marinho

colaboração para Ecoa, em São Paulo (SP)

18/01/2023 11h49

A descrição detalhada de uma cena ou imagem é bastante utilizada na literatura para retratar algo que não podemos ver ou ouvir. Mas, além disso, a descrição é uma forma de acessibilidade para pessoas cegas ou com baixa visão.

Na noite desta segunda-feira (16), o início do Big Brother Brasil 23 foi marcado por uma novidade: os participantes fizeram uma descrição de sua aparência física.

Sem muitas regras, de maneira livre, alguns deram mais destaques para o rosto e outros para o corpo ou cabelo. "Sou uma mulher preta, tenho os olhos amendoados, meu cabelo é um crespo", descreveu Aline Wirley.

Já o médico Fred Nicácio detalhou sobre a forma do seu corpo: "Tenho dreads, sou grandão, tenho 100kg, 1 metro e 80". Já Cristian não poupou elogios a si mesmo ao se descrever com "um topete invejável".

De acordo com o último Censo Demográfico do IBGE, publicado em 2010, a deficiência visual representa o maior número entre as demais deficiências, como motora, auditiva e mental.

Das mais de 6,5 milhões de pessoas com algum grau de deficiência visual, mais de 500 mil são cegas. Para superar possíveis entraves e dificuldades no dia a dia, ações para facilitar a acessibilidade são o melhor caminho para a inclusão.

Para Gustavo Torniero, jornalista e secretário de juventude na Organização Nacional de Cegos do Brasil (ONCB), os participantes fizeram uma autodescrição e não uma audiodescrição e explica:

"As pessoas geralmente confundem autodescrição e audiodescrição, mas são duas coisas diferentes". Enquanto a primeira é o ato de se descrever, a segunda é um recurso comunicacional e também "um campo de estudo e profissional".

O que é audiodescrição?

Gustavo explica que a pode ser feita em áudio e texto. Geralmente, este recurso é utilizado em materiais audiovisuais, isto é, na tela da televisão, do celular, computador e outros dispositivos para assistir qualquer tipo de vídeo, assim como em imagens estáticas. Direcionado para facilitar a compreensão - de pessoas cegas, daltônicas e idosas -, do que está acontecendo em uma determinada cena ou imagem, a audiodescrição narra os movimentos, as interações, o ambiente e outros elementos importantes responsáveis por criar e ampliar condições de entendimento. Dessa maneira, a pessoa com cegueira ou baixa visão tem as informações necessárias para imaginar e acessar o conteúdo de maneira integral.

Nas redes sociais, por exemplo, existem ferramentas automáticas de descrição das imagens, através do recurso de texto alternativo. Além disso, algumas pessoas, quando fazem publicações, descrevem a imagem publicada utilizando a #ParaTodosVerem.

Por que essas técnicas são importantes?

Principalmente pela acessibilidade. Sem a audiodescrição, atividades de lazer como ir a um museu, ao cinema ou teatro, por exemplo, seriam inviáveis, impedindo o acesso de um grupo de pessoas a essas atividades. Devido a isso, pessoas cegas passam a ter mais autonomia em atividades fora de casa.

A Agência Nacional do Cinema (Ancine) estabelece desde 2014 que todos os projetos de produção audiovisual financiados com recursos públicos devem ter legendas descritivas, audiodescrição e tradução em Libras, para pessoas surdas.

No site da ONCB, é possível conferir outras legislações vigentes para pessoas cegas.

E como fazer?

Como Gustavo explica, no caso da audiodescrição existe uma demanda de uma equipe técnica para realizar o trabalho de diferentes maneiras.

Para se autodescrever, o importante, no entanto, é se apresentar de forma simples e direta, para que seja fácil de entender. Descreva a cor do seu cabelo, de seus olhos, o tom da sua pele, altura, entre outras características físicas que você tem e acha importante informar.

Em uma thread no Twitter, Gustavo oferece algumas sugestões ao BBB como, por exemplo, através de uma consultoria técnica, criar uma página com a descrição detalhada de cada participante, para que pessoas com deficiência visual possam acessar essa informação sempre que necessário.

Além disso, ele comenta a importância do apresentador do programa, Tadeu Schmidt, explicar para o público o motivo da autodescrição feita pelos participantes na estreia do programa, no intuito de trazer o tema para debate público.