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As Histórias Que Nos Trouxeram Aqui: um resgate histórico da construção de identidade de pessoas negras


'Ideia de adoção como bondade é herança escravagista', diz Gabi Oliveira

Lucas Veloso

Colaboração para o UOL, de São Paulo

20/10/2022 04h00

Aos 28 anos, a influencer Gabi Oliveira decidiu que a adoção seria o caminho para alcançar o sonho de ser mãe. Em pouco tempo, a família que tanto desejou começou a se formar com a chegada de Mário, de 9 anos, e Clara, de 4, duas crianças negras. Compartilhando a nova etapa da vida em suas redes sociais, a comunicadora também pretende mostrar como a escolha de adotar não é uma forma de fazer caridade.

"Eu nunca ouvi alguém falar para uma pessoa que está tentando engravidar 'parabéns, como você é boa!'. Ninguém fala isso. E com a adoção, é uma herança escravagista daquela coisa de [dizer] 'peguei pra criar', 'a bondade cristã me fez criar'. A gente precisa romper com essa ideia. Não é assim! É só mais uma forma de você ser mãe ou pai", disse, durante sua participação em "Origens - As histórias que nos trouxeram aqui", evento promovido por Ecoa nesta terça-feira (18).

A adoção de crianças negras

Quando decidiu ser mãe, Gabi procurou a Vara de Infância e Juventude de Niterói, no Rio de Janeiro, para entender mais como poderia concretizar seu sonho. Depois do primeiro contato, passou a participar de reuniões onde o órgão judiciário explicou com detalhes as possibilidades para finalizar o processo, os tipos de documentação necessários e o panorama da adoção no Brasil. "Aí eu pensei que não era difícil como eu achava que era", contou.

Segundo o Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), existem cerca de 34 mil crianças e adolescentes abrigadas em casas de acolhimento e instituições públicas por todo país. Delas, cerca de 5 mil estão prontas para a adoção.

Ao relatar à apresentadora de Origens, a jornalista Semayat Oliveira, como foi o caminho desde conhecer até o momento da chegada dos filhos em casa, Gabi também falou sobre o fato de crianças mais velhas, negras e com deficiência serem as menos procuradas por pessoas interessadas em adotar. Mas ela também compartilha da ideia de que este cenário está mudando no país.

"A questão da adoção de crianças negras tem melhorado muito. A gente tem que fazer um curso hoje em dia, né? E essa conscientização faz com que muitas pessoas entendam que é uma possibilidade para a família delas uma adoção interracial ou não. No meu caso, eu sou uma pessoa negra", pontuou.

Falando do tema nas redes

Com milhares de seguidores nas redes sociais, Gabi usa seus perfis para dividir sua rotina com os filhos, tirar dúvidas de pessoas interessadas em adoção e desmistificar preconceitos e barreiras que aparecem sobre o assunto, sobretudo quando se relaciona às crianças negras.

"Tem muitas coisas que são nebulosas às pessoas, e foi isso que me impulsionou também a produzir conteúdo na internet", disse. "Quis mostrar que não era tão complexo".

"Não precisa ser rico pra adotar! O que te pedem é você mostrar que vai ter condições de dar amor, segurança e carinho para aquela criança"
Gabi Oliveira, influencer

Amor se constrói junto

Gabi também conta que a nova vida com os filhos está transformando a rotina e a personalidade de quem está mais próximo e em contato com os filhos. Seu pai, diz ela, é um exemplo disso.

"A forma como ele vê o mundo e como ele interage também mudou, principalmente depois das crianças. Está muito mais paciente", destacou. "Antes ele era muito oito ou 80, mas agora ele fala: 'não, vamos pensar, vamos refletir. Vamos ver o que eles estão precisando. Às vezes, eles estão cansados, né, Gabi'?", explicou.

O reflexo da adoção no pai tem relação com a forma com que Gabi não só se preparou, mas também inseriu a proposta na família, que foi toda envolvida no processo. Foi, como ela disse, como uma gestação em que você cria um ambiente propício para receber uma criança. "A gente vai se ajustando para que esse vínculo se torne cada vez mais forte", disse.

Quarta temporada

Promovido por Ecoa, Origens está em sua quarta temporada. O evento deste ano teve como mote "As histórias que nos trouxeram aqui", e recebeu ao longo desta terça-feira (18), pessoas, entre celebridades e ilustres anônimos, que contaram sobre como buscaram respostas sobre o seu passado ou agiram para transformar, cada qual à sua maneira, seus núcleos familiares.

Também participaram do evento a poeta e compositora Bell Puã e a humorista e apresentadora dos programas Splash Show e Otalab, do UOL, Yas Fiorelo. A apresentação e mediação dos encontros ficou por conta da jornalista Semayat Oliveira.