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Origens

As Histórias Que Nos Trouxeram Aqui: um resgate histórico da construção de identidade de pessoas negras


Yas Fiorelo arranca risadas com histórias sobre amor, família e fé

Yas Fiorelo - Reprodução/Instagram
Yas Fiorelo Imagem: Reprodução/Instagram

Daniele Dutra

Colaboração para o UOL, no Rio de Janeiro (RJ)

16/10/2022 04h00

"O suburbano não tem saneamento básico, mas tem criatividade. A gente faz pipa com saco plástico, briga por causa de pote de tupperware, mas a gente nem sabe falar tupperware", brinca Yas Fiorelo. A humorista de 28 anos diz ter aprendido com as mulheres da família a fazer piada sobre tudo, principalmente com o subúrbio carioca onde nasceu e foi criada: Mariópolis, em Anchieta, na zona norte do Rio de Janeiro.

Na carreira de humorista há cinco anos, já atuou junto a Whindersson Nunes e Yuri Marçal. Agora, acaba de estrear seu primeiro trabalho solo, intitulado "Adulta, mas nem tanto", cujos ingressos esgotaram em dois dias. Também apresentadora dos programas Splash Show e Otalab, do UOL, Fiorelo será umas das atrações especiais do evento "Origens - As histórias que nos trouxeram aqui", organizado por Ecoa nesta terça-feira (18), a partir das 14h.

Enquanto o pai, Márcio Reis, 58, a incentivava a seguir no mundo artístico, a mãe, Vera Paixão, 59, alertava para a instabilidade financeira deste tipo de carreira. Não à toa, antes de ser humorista, Yas Fiorelo chegou a cursar dois anos de história na faculdade. Mas o desejo de dar outro rumo à vida foi mais forte: em 2010, ela ingressou no curso de teatro, na faculdade Estácio .

O início no stand up ocorreu sete anos depois, desta vez, com o incentivo do marido, Daniel Mello, 35, que também tinha amigos comediantes. Desde então, ela não parou mais. "Eu já vendi empréstimos consignados, trabalhei dando aula e vendendo brownie. Descobri que meu negócio é fazer humor mesmo. Não conseguia fazer cálculos nem com a ajuda da calculadora", brinca.

Eu sempre assisti tudo relacionado à comédia. Eu não dormia antes de assistir Casseta e Planeta. Acho que essa é uma das memórias mais fortes da minha infância
Yas Fiorelo, humorista e apresentadora do Splash Show

Otaviano Costa, Yas Fiorelo e os Black Monkees no 'OtaLab UOL no Verão'. - UOL - UOL
Otaviano Costa, Yas Fiorelo e os Black Monkees no 'OtaLab UOL no Verão'.
Imagem: UOL

O humor também é a forma com a qual Fiorelo conta a sua história, do seu jeito e em primeira pessoa. "Tinha muita vontade de falar por mim mesma, mudar a perspectiva da pessoa sobre determinado assunto. A pessoa preta sempre teve a história contada pelos outros. Eu nem falo de negritude nos meus shows, mas tinha o desejo de contar sobre a minha vida", diz.

Sua presença no mercado humorístico, conta ela, também é uma contraposição à realidade do ramo artístico, já que o número de mulheres no humor ainda é muito desigual comparado ao de homens.

Na hora de consumir humor, você pensa mais em homens. As pessoas dizem que não conheciam as mulheres no humor, mas na realidade nunca procuraram saber. É a vontade de não ser a única. Às vezes tem uma menina preta que me vê e quer fazer aquilo também
Yas Fiorelo, humorista e apresentadora do Splash Show

Desmistificando a religião

Adepta das religiões de matriz africana, Fiorelo também usa a religiosidade e a fé em suas criações, seja no palco ou nas redes sociais. A finalidade é desconstruir preconceitos e estereótipos por meio de humor.

"Eu sempre trato minha religião com o objetivo de mostrar para as pessoas que o candomblé e a umbanda não são o que elas sempre pensaram que fossem. É tirar da cabeça das pessoas que a gente está ali adorando o diabo", complementa.

Nas redes sociais, a estratégia é usar situações simples do dia a dia para explicar a vivência religiosa, como é o caso do SAC da Macumba:

Desde sua primeira apresentação como comediante até hoje, muita coisa mudou. Em seu primeiro show, por exemplo, por estar muito nervosa, entre os familiares, apenas seu marido acompanhou sua estreia. Já na apresentação seguinte, com mais segurança e confiança, toda a família compareceu para conferir seu trabalho. "Eles riram muito, amei ver a reação deles. Minha família tem muito orgulho, adoram falar que me conhecem, que são meus parentes", brinca.

Já na primeira apresentação solo, as coisas foram diferentes. Em 23 de setembro, o show "Adulta, mas nem tanto" teve os ingressos esgotados em apenas dois dias. Ela precisou realizar uma apresentação extra na Casa da Comédia Carioca, em Ipanema, no dia seguinte. "Achei que ninguém ia me ver. A comédia segue me surpreendendo e me fazendo muito feliz", conta.