Topo

Pesquisadores usam software de inteligência artificial para rastrear a fome

Número de feiras e comércios que vendem alimentos in natura podem apontar insegurança alimentar - iStock
Número de feiras e comércios que vendem alimentos in natura podem apontar insegurança alimentar Imagem: iStock

Giacomo Vicenzo

Colaboração para Ecoa, de São Paulo

06/05/2022 06h00

Como prever e rastrear o risco de pessoas passarem fome, de acordo com a geolocalização, é uma das apostas do software de IA (inteligência artificial) desenvolvido por pesquisadores do Centro de Inteligência Artificial (C4AI) da Universidade de São Paulo (USP).

O programa cruza bases de dados (de diferentes fontes) da cidade de São Paulo e consegue prever, de acordo com algumas variáveis descobertas pelos pesquisadores, quais regiões estão mais propensas ao risco de insegurança alimentar.

A presença de feiras livres, qualidade de alimentos e até o número de comércios estão entre os principais fatores que podem apontar se uma região está propensa ou não ao risco de ter pessoas passando fome.

"Identificamos 18 bases de dados usando técnicas de inteligência artificial que nos mostraram uma correlação entre o número de feiras livres, número de estabelecimentos que vendem produtos in natura e o Índice Paulista de Vulnerabilidade Social", explica Antonio Mauro Saraiva, pesquisador do C4AI e professor da Escola Politécnica da USP.

Dados indicam o plano de ação

Segundo o professor, com essa análise é possível checar em todo o mapa quais áreas respondem a essas três variáveis e identificar um possível problema. "Dessa forma, se pode mostrar aos gestores públicos a situação de determinada região e pensar planos de ação e políticas públicas que podem ser implementadas", completa Saraiva.

A base de dados é alimentada com dados abertos do governo federal, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) e também conta com informações da Indústria de Alimentos, que ajuda a rastrear todos os tipos de comércios que vendem comida de todos os tipos nas regiões mapeadas pela IA.

"Começamos com a cidade de São Paulo e conseguimos provar o conceito na prática. Agora isso pode ser aplicado em outros locais. Estamos num processo de expandir esse mapeamento", explica Saraiva.

De acordo com o pesquisador, esse é o caminho para mostrar os benefícios dessas análises e revelar o quanto a atenção para esses dados é importante. "São dados que estão disponíveis, mas que nem sempre são estudados. Essa inteligência artificial ajuda os próprios pesquisadores a entenderem o quanto essas ferramentas são avançadas", esclarece.

Rastreando a relação do clima e da fome

O professor também explica que a ferramenta pode trazer análises e previsões sobre segurança alimentar que vão desde as mudanças climáticas até questões relacionadas às políticas públicas.

"Há muitas causas para a fome e esse problema se agravou com a pandemia de covid-19 e está piorando por conta das mudanças climáticas. Com a ajuda dessa IA podemos rastrear variáveis regionais, políticas, de eventos climáticos e relacionadas ao mercado", aponta o pesquisador.

O próximo passo do projeto é levar a descoberta para gestores públicos e ONGs — para que haja a elaboração de propostas e caminhos para políticas públicas. "Esse é um dos caminhos para resolver o problema da fome, pois a tomada de decisão é do governo, e isso precisa ser feito com base em ciência e dados", diz o professor.

Para Saraiva, ajudar a criar caminhos para entender as muitas causas desse problema e nortear melhorias é uma prova de que todo investimento feito em ciência garante algum retorno. "Essa é uma resposta para todo o investimento que é feito nas universidades e nos centros de pesquisas, e mostra que podemos contribuir para a resolução desses problemas nacionais com a nossa ciência."

O Centro de Inteligência Artificial (C4AI) está aberto para parcerias e colaborações aplicadas à inteligência artificial. Também são bem-vindos apoios financeiros para o fornecimento de bolsas e recursos para pesquisas. Mais informações sobre como ajudar podem ser obtidas pelo e-mail: c4ai-agribio@usp.br.