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Quem são os maiores poluidores do planeta e qual a nossa parte nisso?

Schroptschop/iStock
Imagem: Schroptschop/iStock

Giacomo Vicenzo

Colaboração para Ecoa, em São Paulo

25/12/2021 06h00

Parar a poluição é um alerta soado em todos os cantos do planeta, e o problema tem se tornado cada vez mais preocupante. Isso porque 42% das emissões globais de gás carbônico (CO2) foram feitas nos últimos 30 anos (1992 - 2021), marcando 1,05 trilhão de toneladas em comparação a 1,44 trilhão de toneladas entre 1850 e 1991. Os números fazem parte de um levantamento feito pelo site britânico Carbon Brief, especializado em ciência e política de mudanças climáticas.

Mas como saber quem são os maiores poluidores? Quais atividades, empresas e países têm a maior fatia desse bolo da poluição e o que nós enquanto consumidores e cidadãos podemos fazer? Ecoa reuniu dados e conversou com especialistas da área de ecologia e climatologia para responder a essas e outras perguntas. Acompanhe a seguir.

Quem são os maiores poluidores entre as pessoas?

Em âmbito pessoal, é preciso entender que também poluímos - ainda que em escala menor, comparado a grandes empresas e países. Há também diferenças entre as classes econômicas da sociedade.

Nesse sentido, quem corta a maior fatia da torta é justamente quem está no topo da pirâmide financeira - sendo os 10% mais ricos responsáveis por cerca de 20 vezes mais emissões em comparação com os 50% mais pobres a nível global, de acordo com o estudo Climate Change And The Global Inequality Of Carbon Emissions ("Mudança climática e a desigualdade global das emissões de carbono", em tradução livre) feito pelo World Inequality Lab.

Os números fazem sentido e nem é preciso escalar tanto a pirâmide social para perceber. Basta levar em conta calculadoras de carbono, que apontam altas emissões para tarefas como andar de carro todos os dias e fazer viagens internacionais de avião.

Escolher o que consumimos e de quem compramos também é essencial para ajudar a frear essas emissões e essa é uma responsabilidade de todos, de acordo com a doutora em ecologia Ana Lúcia Tourinho:

"Temos que ser mais participativos na compreensão do que compramos e consumimos. No geral, não estamos muito preocupados com isso. Sempre que possível é preciso apostar em serviços e produtos que realmente estão diminuindo as emissões e não apenas dizendo isso", alerta a especialista, que também é professora do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais da UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso) e curadora de Ecoa.

Qual o país mais poluidor?

Os rankings de maiores poluidores mudam de acordo com o levantamento e período, mas em sua maioria mantêm sempre os mesmos nomes, trocando apenas as posições desse pódio pouco glorioso.

De acordo com o estudo World Resources Institute (WRI), os Estados Unidos estiveram em primeiro lugar entre os anos de 1850 e 2016 - sendo ultrapassados pela China em 2020, mas mantendo Rússia em 3º, Alemanha em 4º e Índia em 5º.

No entanto, o levantamento feito pelo think tank internacional Carbon Brief vai de encontro com afirmações defendidas por Bolsonaro, que alega que o Brasil leva o saldo de apenas 1% das emissões históricas. Recentemente, esse estudo colocou o país em 4º lugar entre os mais poluentes do mundo.

O salto na posição se deve a mudanças nos critérios de avaliação, que em pesquisas anteriores desconsideravam a poluição gerada pelo desmatamento. Esse estudo considerou o período de 1850 a 2021, levando em conta as emissões ocasionadas pela queima de energia fóssil, alterações do uso do solo, produção de cimento e desmatamento.

"No Brasil, há um incentivo governamental a um modelo de agronegócio de larga escala que se utiliza de técnicas e tecnologias predatórias ao meio ambiente, em vez de abraçar tecnologias de plantio e de criação de animais que sejam menos ostensivas à destruição ambiental", acredita Tourinho.

Para ela, os dados que levam a essa situação vêm de um cenário econômico estabelecido, mas que segue acomodado em sua forma de produção. "É uma questão sistêmica e a justificativa é a economia. Mas o governo só apoia e investe nessa mesma atividade, que é a que está causando essa poluição e problemas ambientais. É preciso sair do discurso de abraçar o verde para começar a fazer algo de verdade", completa a especialista.

Quais as atividades e empresas mais poluidoras?

A indústria do combustível fóssil ganha em disparada quando o assunto é emissão de CO2. "Cerca de 100 companhias respondem por 71% das emissões históricas globais de dióxido de carbono", aponta Alexandre Araújo Costa, físico e climatologista, professor da UECE (Universidade Estadual do Ceará) e pesquisador em mudanças climáticas.

Os dados apontados pelo pesquisador fazem parte do relatório Carbon Majors, publicado em 2017, que liga a responsabilidade dessa alta emissão de gases do efeito estufa (GEEs) a esses produtores a partir de 1998, ano em que as mudanças climáticas provocadas pelo ser humano foram oficialmente reconhecidas. Entre as companhias estão as gigantes Exxon Mobil, Shell, BHP Billiton e Gazprom.

Outro estudo, publicado em 2019 pelo Instituto de pesquisas Climate Accountability Institute, revelou que apenas 20 empresas foram responsáveis por um terço de toda a emissão de CO2 do mundo desde 1965. "Essas empresas são ligadas à produção de petróleo, gás natural e carvão. E a Petrobras está nesse ranking nefasto de poluição", lembra Costa.

No levantamento, a empresa brasileira ocupou a 20ª posição do ranking, que junto liberou 480,16 bilhões de toneladas de dióxido de carbono e metano no nosso planeta. "Sobre outros maiores poluidores, temos que considerar em destaque os setores da mineração, agropecuária, siderúrgica e indústria química", afirma o climatologista.

poluição - luoman/iStock - luoman/iStock
"Hoje, temos cerca de 8 bilhões de toneladas de plástico no meio ambiente, o que equivale ao dobro da massa de todos os animais somados do planeta", diz professor
Imagem: luoman/iStock

Ele acrescenta que também é preciso levar em conta os produtos de longo prazo, como os feitos de plástico (cuja principal matéria-prima é o petróleo). "Eles são objetos de uma crise violenta. Hoje, temos cerca de 8 bilhões de toneladas de plástico no meio ambiente, é algo que equivale ao dobro da massa de todos os animais somados do planeta", diz.

Os dados citados pelo professor são do Grupo de Trabalho sobre o Antropoceno na Comissão Internacional de Estratigrafia (um comitê de especialistas que supervisiona a escala de tempo geológico da Terra).

Quando o assunto são os plásticos, a Coca-Cola Company e a PepsiCo são as duas maiores poluidoras do resíduo pelo quarto ano consecutivo, de acordo com o relatório Break Free From Plastic.

O que deve ser feito para frear a poluição?

Para Costa, os caminhos para a mudança são uma verdadeira ruptura com uma série de sistemas que ainda mantemos atualmente. "A indústria de combustíveis fósseis precisa ter dias contados, se desejarmos um planeta com clima habitável", alerta.

As relações entre as cadeias de produção também são questões apontadas pelo climatologista, que enxerga conexões entre os processos, como a indústria do petróleo e a do plástico. "Esse ritmo de extração, produção, consumo e descarte se acelera. E temos, do ponto de vista global, uma economia que remunera o descarte e a obsolescência programada", diz.

Se alguns acham que pode residir na tecnologia a chance de um planeta mais amigável ao meio ambiente, para o pesquisador essa ideia não passa de uma fantasia.

"É preciso incidir sobre a lógica desse sistema econômico, que prega a ilusão de crescimento infinito e a ideia de que não há limites para a demanda energética e da matéria-prima. Não se trata de adotar mais tecnologias ou aumentar a fiscalização. É um problema que está localizado na raiz do próprio sistema produtivo e energético do nosso planeta", defende.